Febre da comida de rua ganha força em São Paulo com aprovação de projeto de lei
Folha de São Paulo
Quem se perguntava quando poderia entrar na fila de um "food truck" estacionado em São Paulo recebeu a primeira resposta na semana passada: em breve.
Na quarta-feira passada (4), a Câmara Municipal aprovou, em primeira votação, projeto de lei que regulamenta a venda de comida de rua na capital. Antiga reivindicação de ambulantes e pequenos empreendedores, a legalização dessa atividade ganhou, no último ano, o apoio da população e de chefs consagrados.
A febre dos "food trucks", que apimentou a cena gastronômica nas metrópoles americanas e europeias (nos Estados Unidos, esse mercado movimenta bilhões de dólares ), chegou às capitais brasileiras. Lá, eles servem "street food" com pegada gourmet. A oferta vai dos básicos cachorros-quentes a pratos clássicos franceses servidos na calçada.
Aqui, o sucesso de eventos como O Mercado, Feirinha Gastronômica e Chefs na Rua --que reúnem chefs e cozinheiros amadores para vender seus pratos ao ar livre-- deu o impulso regional para engrossar o lobby pela regulamentação. Amantes da gastronomia se mobilizaram, circulando abaixo-assinados e petições on-line. Nesta onda pró-calçada, eventos paulistanos ganharam versões em cidades como Recife, Florianópolis, Rio e Manaus.
O projeto de lei que regulamenta a venda de comida em ruas de São Paulo tem defensores no governo e na oposição e deve passar por segunda votação em plenário no final do mês. Se for aprovado, o texto será encaminhado para a sanção do prefeito Fernando Haddad (PT).
DINHEIRO E CONTATO COM O PÚBLICO
"São Paulo tem preços impraticáveis, aluguéis obscenos e uma crise emocional por causa fatores como os arrastões. Se hoje é impossível abrir um bom restaurante sem gastar R$ 1,5 milhão, em um excelente 'food truck' o investimento é menor do que R$ 150 mil."
A estimativa é do chef e empresário Márcio Silva, que estudou o mercado norte-americano de comida de rua e é dono da Buzina Food Truck, de São Paulo, que planeja e customiza esses veículos. Para ele, dois fatores impulsionaram o crescimento da comida de rua no país:
"Os chefs perceberam que é uma maneira de ganhar dinheiro; além disso, o contato direto com as pessoas oferece um estímulo diferente do da cozinha, o que é muito legal". Hoje, apenas dogueiros motorizados têm permissão para vender comida nas vias públicas paulistanas --desde 2007, a prefeitura não concede novos Termos de Permissão de Uso a ambulantes.
No ano passado, comerciantes que têm licença conseguiram liminar na Justiça para manter suas atividades. Segundo o vereador Andrea Matarazzo (PSDB), coautor do projeto de lei que regulamenta esse comércio, a aprovação em primeira votação interessa tanto à população como aos empreendedores. "O trabalhador não tem tempo de almoçar em casa, e os restaurantes são caros. Essa atividade existe e gera renda do Morumbi à Cidade Tiradentes", diz.
RESTAURANTE DE RUA
Não foi apenas o poder público que despertou para o potencial desse filão. Uma série de iniciativas envolvendo restaurantes paulistanos tem se espalhado pela cidade.
No mês passado, a chef Mara Salles, do Tordesilhas, nos Jardins, estreou o "Tem Tacacá na Tietê", evento mensal no qual ela serve o prato típico do Norte (R$ 16) pela janela do restaurante a clientes que passam pela rua.
"É uma grande descoberta: a delícia da rua e como as pessoas estão abertas a essa possibilidade", diz.
André Mifano, chef do italiano Vito, em outubro começa a rodar em um "food truck" servindo, entre outros, sanduíche de pastrami, hambúrguer e "fish and chips brasileiro" (com surubim e mandioca). Cada item deve custar, no máximo, R$ 30.
A ação, patrocinada por uma marca de uísque, começará em bairros como Pinheiros, Vila Madalena e Santa Cecília (a localização estará na página da Jameson no Facebook ).
Para Mifano, os itens servidos na rua não precisam ser sem criatividade. "[Esse modelo] permite uma comida autoral, de qualidade e com bons preços."
O movimento das calçadas também incentivou o chef Dagoberto Torres a abrir uma nova casa, vizinha ao seu Suri, em Pinheiros. Lá, ele vai servir, em um balcão, receitas para comer no local ou para levar, como tacos, arepas e mandioca gratinada.
No Aconchego Carioca, bar nos Jardins, a ideia nasceu quando os donos serviram churrasquinho grego na rua no aniversário da casa. Após o sucesso, o evento ganhou edições fixas --no começo de outubro, será a vez do sanduíche de carne assada (R$ 20).
Ação semelhante acontecerá em outubro no Obá, também nos Jardins. De uma tenda na fachada do restaurante, o mexicano Hugo Delgado venderá tostadas (massa à base de milho com frango ou carne desfiada, R$ 13) aos pedestres entre 18h30 e 20h.
Chef do restaurante Marcel, Raphael Despirite, presença constante em eventos de rua com o cachorro-quente à francesa, tem planos de abrir um "food truck" próprio.
"Existe uma demanda absurda por comida de rua em São Paulo, basta ver a lotação da Feirinha [Gastronômica] toda semana. É algo que passa pelo desejo de uma comida mais barata, mas também pela ausência de programas ao ar livre na cidade", diz.
Para Rolando Vanucci, criador das barracas Rolando Massinha e Rolando Doguinho, quem decide cozinhar na calçada precisa estar atento às dificuldades. "Os chefs que entrarem nesse setor precisam saber o que é a rua. Numa cozinha física você não sabe o que é frio, chuva, vento. Nem tem ideia de como é a logística de não ter tudo à mão", explica.
Folha de São Paulo
Tacacá no Tietê |
Na quarta-feira passada (4), a Câmara Municipal aprovou, em primeira votação, projeto de lei que regulamenta a venda de comida de rua na capital. Antiga reivindicação de ambulantes e pequenos empreendedores, a legalização dessa atividade ganhou, no último ano, o apoio da população e de chefs consagrados.
A febre dos "food trucks", que apimentou a cena gastronômica nas metrópoles americanas e europeias (nos Estados Unidos, esse mercado movimenta bilhões de dólares ), chegou às capitais brasileiras. Lá, eles servem "street food" com pegada gourmet. A oferta vai dos básicos cachorros-quentes a pratos clássicos franceses servidos na calçada.
Aqui, o sucesso de eventos como O Mercado, Feirinha Gastronômica e Chefs na Rua --que reúnem chefs e cozinheiros amadores para vender seus pratos ao ar livre-- deu o impulso regional para engrossar o lobby pela regulamentação. Amantes da gastronomia se mobilizaram, circulando abaixo-assinados e petições on-line. Nesta onda pró-calçada, eventos paulistanos ganharam versões em cidades como Recife, Florianópolis, Rio e Manaus.
O projeto de lei que regulamenta a venda de comida em ruas de São Paulo tem defensores no governo e na oposição e deve passar por segunda votação em plenário no final do mês. Se for aprovado, o texto será encaminhado para a sanção do prefeito Fernando Haddad (PT).
DINHEIRO E CONTATO COM O PÚBLICO
"São Paulo tem preços impraticáveis, aluguéis obscenos e uma crise emocional por causa fatores como os arrastões. Se hoje é impossível abrir um bom restaurante sem gastar R$ 1,5 milhão, em um excelente 'food truck' o investimento é menor do que R$ 150 mil."
A estimativa é do chef e empresário Márcio Silva, que estudou o mercado norte-americano de comida de rua e é dono da Buzina Food Truck, de São Paulo, que planeja e customiza esses veículos. Para ele, dois fatores impulsionaram o crescimento da comida de rua no país:
"Os chefs perceberam que é uma maneira de ganhar dinheiro; além disso, o contato direto com as pessoas oferece um estímulo diferente do da cozinha, o que é muito legal". Hoje, apenas dogueiros motorizados têm permissão para vender comida nas vias públicas paulistanas --desde 2007, a prefeitura não concede novos Termos de Permissão de Uso a ambulantes.
No ano passado, comerciantes que têm licença conseguiram liminar na Justiça para manter suas atividades. Segundo o vereador Andrea Matarazzo (PSDB), coautor do projeto de lei que regulamenta esse comércio, a aprovação em primeira votação interessa tanto à população como aos empreendedores. "O trabalhador não tem tempo de almoçar em casa, e os restaurantes são caros. Essa atividade existe e gera renda do Morumbi à Cidade Tiradentes", diz.
RESTAURANTE DE RUA
Não foi apenas o poder público que despertou para o potencial desse filão. Uma série de iniciativas envolvendo restaurantes paulistanos tem se espalhado pela cidade.
No mês passado, a chef Mara Salles, do Tordesilhas, nos Jardins, estreou o "Tem Tacacá na Tietê", evento mensal no qual ela serve o prato típico do Norte (R$ 16) pela janela do restaurante a clientes que passam pela rua.
"É uma grande descoberta: a delícia da rua e como as pessoas estão abertas a essa possibilidade", diz.
André Mifano, chef do italiano Vito, em outubro começa a rodar em um "food truck" servindo, entre outros, sanduíche de pastrami, hambúrguer e "fish and chips brasileiro" (com surubim e mandioca). Cada item deve custar, no máximo, R$ 30.
A ação, patrocinada por uma marca de uísque, começará em bairros como Pinheiros, Vila Madalena e Santa Cecília (a localização estará na página da Jameson no Facebook ).
Para Mifano, os itens servidos na rua não precisam ser sem criatividade. "[Esse modelo] permite uma comida autoral, de qualidade e com bons preços."
O movimento das calçadas também incentivou o chef Dagoberto Torres a abrir uma nova casa, vizinha ao seu Suri, em Pinheiros. Lá, ele vai servir, em um balcão, receitas para comer no local ou para levar, como tacos, arepas e mandioca gratinada.
No Aconchego Carioca, bar nos Jardins, a ideia nasceu quando os donos serviram churrasquinho grego na rua no aniversário da casa. Após o sucesso, o evento ganhou edições fixas --no começo de outubro, será a vez do sanduíche de carne assada (R$ 20).
Ação semelhante acontecerá em outubro no Obá, também nos Jardins. De uma tenda na fachada do restaurante, o mexicano Hugo Delgado venderá tostadas (massa à base de milho com frango ou carne desfiada, R$ 13) aos pedestres entre 18h30 e 20h.
Chef do restaurante Marcel, Raphael Despirite, presença constante em eventos de rua com o cachorro-quente à francesa, tem planos de abrir um "food truck" próprio.
"Existe uma demanda absurda por comida de rua em São Paulo, basta ver a lotação da Feirinha [Gastronômica] toda semana. É algo que passa pelo desejo de uma comida mais barata, mas também pela ausência de programas ao ar livre na cidade", diz.
Para Rolando Vanucci, criador das barracas Rolando Massinha e Rolando Doguinho, quem decide cozinhar na calçada precisa estar atento às dificuldades. "Os chefs que entrarem nesse setor precisam saber o que é a rua. Numa cozinha física você não sabe o que é frio, chuva, vento. Nem tem ideia de como é a logística de não ter tudo à mão", explica.
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