Miriam Leitão (*)
Os preços artificiais são a mais aguda fonte de distorção da economia brasileira. Alguns produtos e serviços estão acumulando uma defasagem perigosa, porque sempre chega a hora da correção. A distância entre a inflação dos preços livres e dos preços controlados pelo governo é enorme. Esses aumentos serão adiados indefinidamente?
Ninguém gosta de inflação, e eu sou da geração de jornalista de economia que adquiriu alergia a isso, por ver até que ponto se pode chegar quando os preços sobem fora de controle. Mas uma lição também se aprende quando se acompanha por décadas a luta de um país contra a superinflação: a de que a repressão dos preços que o governo administra é o pior caminho para manter a estabilidade da moeda. O controle tem resultado passageiro e deixa problemas permanentes, como esqueletos de contas que são estatizadas e cobertas por endividamento.
Nos últimos 12 meses, os itens administrados subiram apenas 1,26%, enquanto os livres subiram 7,64%, segundo levantamento feito pelo economista Luis Otávio Leal, do Banco ABC Brasil. Essa diferença, em torno de seis pontos percentuais, se mantém desde o início de 2012 e virou fonte de pressão inflacionária. O gráfico abaixo mostra a série histórica e percebe-se que não é possível conter esses preços indefinidamente. Há sempre a hora do acerto de contas.
A pressão maior vem da gasolina e do diesel, mas ela não é a única. A conta de luz caiu de forma artificial. A tarifa residencial e industrial caiu ao mesmo tempo em que o país passou a consumir uma energia mais cara, produzida pelas usinas termelétricas. O preço dos automóveis permaneceu em baixa pela prorrogação do IPI reduzido. A Petrobras já gastou R$ 8 bilhões este ano vendendo gasolina e diesel a um preço mais baixo do que importa. Ontem, a presidente sancionou lei que zera os impostos de PIS e Cofins para o transporte público municipal. O custo será de R$ 744 milhões este ano. A Cide, imposto que se cobrava da gasolina, foi também zerada para evitar o reajuste. E ele era uma forma de financiar a melhoria da infraestrutura de transporte.
Esse esqueleto inflacionário foi assunto tratado ontem pelo economista Mário Mesquita, do banco Brasil Plural, e ex-diretor do Banco Central, em artigo no "Valor Econômico". Mesquita explicou que esse represamento pode reduzir o IPCA no curto prazo, mas dificulta a tarefa do Banco Central de controlar as expectativas. Isso porque todos sabem que a conta chegará um dia. As projeções para a inflação nos próximos 12 meses estão em alta há 10 semanas e saíram de 5,65% para 6,13%, mesmo com o aumento da taxa Selic. Além da alta do dólar, os economistas precisam embutir na conta a possibilidade de que alguma dessas amarras seja solta. A que pode se soltar primeiro é que a prende o preço da gasolina e do diesel, porque os prejuízos para a Petrobras estão ficando insustentáveis.
O impacto fiscal das medidas é uma das razões para o não cumprimento do superávit primário este ano. O governo já admite que será difícil chegar a uma economia de 2,3% do PIB. A meta é 3,1% e já foi reduzida. Tudo fica pior porque o país não sabe qual o custo desses subsídios. Nem todos esses gastos são contabilizados no Orçamento ou explicitados de qualquer forma. Parte é financiada por emissão de dívida, que será paga por futuros governantes, como os aportes feitos na CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), que financia a redução da conta de energia. O risco é que tudo fique para ser resolvido em 2015.
(*) Jornalista é colunista do jornal O Globo
Os preços artificiais são a mais aguda fonte de distorção da economia brasileira. Alguns produtos e serviços estão acumulando uma defasagem perigosa, porque sempre chega a hora da correção. A distância entre a inflação dos preços livres e dos preços controlados pelo governo é enorme. Esses aumentos serão adiados indefinidamente?
Ninguém gosta de inflação, e eu sou da geração de jornalista de economia que adquiriu alergia a isso, por ver até que ponto se pode chegar quando os preços sobem fora de controle. Mas uma lição também se aprende quando se acompanha por décadas a luta de um país contra a superinflação: a de que a repressão dos preços que o governo administra é o pior caminho para manter a estabilidade da moeda. O controle tem resultado passageiro e deixa problemas permanentes, como esqueletos de contas que são estatizadas e cobertas por endividamento.
Nos últimos 12 meses, os itens administrados subiram apenas 1,26%, enquanto os livres subiram 7,64%, segundo levantamento feito pelo economista Luis Otávio Leal, do Banco ABC Brasil. Essa diferença, em torno de seis pontos percentuais, se mantém desde o início de 2012 e virou fonte de pressão inflacionária. O gráfico abaixo mostra a série histórica e percebe-se que não é possível conter esses preços indefinidamente. Há sempre a hora do acerto de contas.
A pressão maior vem da gasolina e do diesel, mas ela não é a única. A conta de luz caiu de forma artificial. A tarifa residencial e industrial caiu ao mesmo tempo em que o país passou a consumir uma energia mais cara, produzida pelas usinas termelétricas. O preço dos automóveis permaneceu em baixa pela prorrogação do IPI reduzido. A Petrobras já gastou R$ 8 bilhões este ano vendendo gasolina e diesel a um preço mais baixo do que importa. Ontem, a presidente sancionou lei que zera os impostos de PIS e Cofins para o transporte público municipal. O custo será de R$ 744 milhões este ano. A Cide, imposto que se cobrava da gasolina, foi também zerada para evitar o reajuste. E ele era uma forma de financiar a melhoria da infraestrutura de transporte.
Esse esqueleto inflacionário foi assunto tratado ontem pelo economista Mário Mesquita, do banco Brasil Plural, e ex-diretor do Banco Central, em artigo no "Valor Econômico". Mesquita explicou que esse represamento pode reduzir o IPCA no curto prazo, mas dificulta a tarefa do Banco Central de controlar as expectativas. Isso porque todos sabem que a conta chegará um dia. As projeções para a inflação nos próximos 12 meses estão em alta há 10 semanas e saíram de 5,65% para 6,13%, mesmo com o aumento da taxa Selic. Além da alta do dólar, os economistas precisam embutir na conta a possibilidade de que alguma dessas amarras seja solta. A que pode se soltar primeiro é que a prende o preço da gasolina e do diesel, porque os prejuízos para a Petrobras estão ficando insustentáveis.
O impacto fiscal das medidas é uma das razões para o não cumprimento do superávit primário este ano. O governo já admite que será difícil chegar a uma economia de 2,3% do PIB. A meta é 3,1% e já foi reduzida. Tudo fica pior porque o país não sabe qual o custo desses subsídios. Nem todos esses gastos são contabilizados no Orçamento ou explicitados de qualquer forma. Parte é financiada por emissão de dívida, que será paga por futuros governantes, como os aportes feitos na CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), que financia a redução da conta de energia. O risco é que tudo fique para ser resolvido em 2015.
(*) Jornalista é colunista do jornal O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário