sábado, 30 de agosto de 2014

O macaco e a vadia.

Luiz Caversan (*) para a Folha de São Paulo

A história da moça flagrada pela TV chamando o goleiro do Santos de macaco é exemplar do momento surpreendente (e assustador) pelo qual estamos passando, em que as pessoas não fazem mais questão nenhuma, ao contrário, de tomar cuidados para expor suas intolerâncias, seus limites e em grande medida sua boçalidade. Mesmo correndo o risco elas mesmas e rapidamente de serem vítimas de práticas semelhantes às que adotam na sua triste vida. 

Porque depois de manifestar seu racismo achando que estava protegida pelo anonimato da arquibancada, tolinha, a moça captada em close na TV passou a ser alvo de agressões verbais, de sexismo, de ameaças diversas nos twitters e facebooks da vida. No mínimo foi chamada de vadia… 

Olho por olho é a velha ética rediviva e turbinada pelas redes sociais numa velocidade alucinante, veja que bastaram poucas horas para que ela fosse localizada, identificada e vitimada por gente como ela mesma. 

Ao xingar o goleiro, a guria não tinha dúvida de que exercia seu direito de expressão e, dane-se, sou apenas mais uma na multidão, mesmo… Ao linchá-la no Face, seus algozes têm certeza de que este tipo de justiçamento é correto, construtivo e legítimo. 

E assim vamos nós em meio a uma arena virtual em que se digladiam forças cada vez mais delinquentes e assustadoras, com a velocidade dos terabytes, em vez estar a serviço da sabedoria, mantendo-se atrelada às trevas e ao retrocesso. 

(*) Jornalista e consultor na área de comunicação corporativa da Folha de São Paulo

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