sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Megatemplo é inaugurado com noite de gala e 'show de fé' para políticos

UOL 

Um tapete vermelho foi estendido na faixa de ônibus da avenida Celso Garcia, no bairro paulistano do Brás, mas por cima dele não passou nem políticos como a presidente Dilma Rousseff, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT), nem celebridades da TV Record, como Gugu e Paulo Henrique Amorim. 

A grande estrela da noite foi uma reprodução folhada a ouro da arca da aliança, que veio carregada por sacerdotes para a inauguração do Templo de Salomão, a nova sede da Igreja Universal do Reino de Deus. Sua entrada foi ao som da trilha do compositor Elmer Berstein para o filme épico "Os Dez Mandamentos" (1956), de Cecil B. De Mille. 

Toda essa gala tinha como referência uma entrega de Oscar e reforçava a aparência de locação cenográfica que o megatemplo provoca. Depois da entrada triunfal da arca, porém, a cerimônia retomou o roteiro típico da TV Universal: testemunhos de fé e orações para um público que reunia políticos em ano de eleição e celebridades rendendo conta para seus patrões. 

Do lado de fora do templo, muitos fieis e obreiros rezavam com a cabeça e os braços encostados contra a parede, em gesto parecido ao que acontece no Muro das Lamentações, em Israel. As pedras calcárias que revestem o templo na região central de São Paulo foram trazidas de Hebron, na Cisjordânia, e são similares às presentes no templo original de Jerusalém, do qual só sobrou o muro sagrado para o judaísmo. 

Do lado de dentro, o bispo Ricardo Formigoni falava como passou de viciado em drogas a religioso e argumentava que nenhum hospital cura os drogados como a Igreja Universal. 

"Eu cheirava um quilo de cocaína,cem pedras de crack e via as paredes derretendo, mas pela fé eu larguei o vício. Não tem hospital que faça isso", se confessava diante do governador paulista e da presidente da república, responsáveis por políticas públicas sobre o assunto. O mesmo bispo terminou falando que curava "lésbicas e homossexuais". 

Vestido também com roupas judaicas como o quipá e o talit (xale ritualístico), o bispo Edir Macedo, líder da Universal, mandou também seu recado para as autoridades, afirmando que só as orações podem devolver a segurança e a saúde para as pessoas. 

A cerimônia teve a execução dos hinos de Israel e do Brasil, além de um coro de fieis africanas, vindos das filiais da Universal no continente. 
Em sua oração, Edir Macedo pediu paz para Israel e disse que a beleza do novo templo toca "na alma das pessoas" e a "lembrança física agrada a Deus". 

O ato teve também um filme projetado na fachada do templo contando uma história do cristianismo. Na narração, havia uma crítica direta à Igreja Católica, chama de "igreja apóstata que espalhava as trevas". 

O megatemplo teve problemas com seu sistema de iluminação durante a cerimônia, com cortes de luz tanto no interior, onde estavam 10 mil pessoas, quanto na fachada.
Em sua oração, Macedo pediu um sinal divino para seu novo templo, mas nos telões espalhados do lado de fora os cortes de transmissão eram frequentes, com o aviso na tela "sinal fraco ou inexistente". 

A cerimônia acabou e nenhum político quis se pronunciar, preferindo só aparecer na plateia para agradar os aliados e os eleitores evangélicos. 
A presidência da República chegou a armar um púlpito para um pronunciamento de Dilma, mas ela preferiu sair sem falar com a imprensa. 

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