quinta-feira, 16 de maio de 2013

Não é para qualquer um

Pianista brasileiro é admitido como membro da Royal Philharmonic Society 

Estadão 

Na noite de terça, 14, Ricardo Castro, fundador e diretor artístico do projeto Neojiba, voltou à Inglaterra para receber uma honraria. Isso, 20 anos depois de ter vencido a mais difícil prova internacional para pianistas, o Concurso de Leeds, no norte do país. O reconhecimento, desta vez, abarca tudo: não só o grande solista da sua geração, mas o regente e o formador musical para o qual os olhos hoje se voltam. Castro foi admitido como membro honorável da mais tradicional ordem musical inglesa, a Royal Philharmonic Society. É o primeiro brasileiro a fazer parte desta instituição que completa 200 anos e coleciona, na lista de seus integrantes, mestres compositores como Brahms e Wagner, regentes como Toscanini e Abbado, solistas como Casals e Rubinstein. 

A cerimônia aconteceu num jantar no Dorchester Hotel, em Londres, na qual Castro e quatro personalidades de diferentes procedências foram integrados à sociedade real. São eles Rosemary Nalden, da África do Sul, Ahmad Sarmast, do Afeganistão, Aaron Dworkin, dos Estados Unidos, e Armand Diangienda Wabasolele, do Congo. O quinteto homenageado, por si só, já explica o critério de escolha dos novos eleitos: são artistas visionários à frente de projetos musicais que transformam vidas. "Há oito meses recebi uma carta dizendo que a sociedade me convidava a fazer parte dela. Fico feliz, isso vai nos ajudar bastante", diz Castro, baiano de Vitória da Conquista. 

Fundado há cinco anos, o Neojiba - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia - trabalha diretamente com 750 músicos formados no projeto e já disseminou 22 outros grupos por todo o Estado, num processo catalisador constante, inspirado no modelo venezuelano El Sistema. Quando diz que a distinção da Royal Philharmonic Society pode ajudar, Castro pensa na sede que o projeto ainda não tem. "Estamos usando parcialmente o Teatro Castro Alves, em Salvador, e espaços cedidos, sem condições técnicas. É urgente ter uma sede para receber os núcleos, ensaiar, preparar e fazer apresentações. Visibilidade é crucial para um projeto como este." 

Num encontro promovido pela sociedade e pelo British Council, os escolhidos para o Honorary Membership intercambiaram experiências. O afegão Ahrmad Sarmast, por exemplo, falou de um instituto de educação musical que lida com órfãos de uma nação em guerras sucessivas. Armand Diangienda Wabasolele relatou histórias da orquestra que fundou no Congo. Rosemary Nalden admitiu a barra que foi levar Bach e Beethoven para as crianças negras em Soweto. 

Ricardo Castro, na sua vez, revelou a descoberta pessoal que acabaria levando-o ao Neojiba. Contou da solidão de ter ganho a mais árdua competição entre pianistas, 20 anos atrás, em Leeds. "Depois de todo aquele esforço para competir e derrotar até amigos, eu me senti como alguém que chega ao topo de uma montanha do Himalaia e não tem para onde ir. Resolvi ensinar", avalia. Mais tarde, o contato com o professor José Maria Abreu, criador do El Sistema, iria inspirar a guinada profissional. Atualmente Castro passa dez dias por mês na Haute École de Musique de Lausanne, Suíça, onde é professor titular de piano; e os restantes em Salvador, construindo núcleos musicais. Seus recitais são cada vez mais raros. Mas a música orquestral e de câmara, garante, continuam desafiadoras. 

Nos cinco anos à frente do Neojiba, Castro promoveu mais de duas centenas de concertos, viajou com a Orquestra Jovem da Bahia para fora, tocando até no Queen Elizabeth Hall, em Londres. Em 2014, excursionam pelos Estados Unidos.

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