domingo, 6 de novembro de 2011

Refrescando a memória para aprender a lição

Edilberto Sena (*)

O plebiscito da emancipação se aproxima, a campanha pelo rádio e televisão começa na próxima semana, em Manaus os eleitores paraenses são estimulados a votarem e os ânimos se alteram nas regiões em disputa. Em Santarém, o macaco, além do rabo que já estava de fora, mostra o corpo todo. Os amigos da multinacional Cargill devem estar de cara no chão, indignados com a sem cerimônia da empresa estrangeira implantada na ex praia da Vera Paz, usufruindo da subserviência das autoridades que se abaixaram todas com a ilusão de empregos e desenvolvimento para a região.

Agora, por causa da campanha pela emancipação a multinacional afirma que não contribuirá com nada pois, não se envolve com questões políticas. Assim mesmo seus dirigentes afirmaram, que a empresa não se envolve com questões políticas, imagine!

Para quem tem memória curta é importante lembrar 11 anos atrás. A Cargill chegou em Santarém e começou a destruir a praia da Vera Paz e parte do sítio arqueológico, para construir o moderno porto graneleiro, invadindo também o rio Tapajós. Alguns poucos grupos populares, defensores da soberania cultural e territorial de Santarém denunciaram os crimes ao Ministério Público Federal, que abriu processo contra a Cargill ainda no ano 2.000.

A elite santarena, políticos, incluindo o então prefeito, hoje um dos líderes da luta pela emancipação, como também a Câmara de vereadores, estudantes universitários e empresários aplaudiram a chegada da multinacional. Com apoio total do Estado do Pará, através da antiga SECTAM, hoje SEMA, que expediu licença ilegal, hoje ainda com processo aberto na justiça federal, a empresa foi destruindo a praia, invadindo o rio e construindo esse moderno monumento à colonização de Santarém. Toda a elite aplaudiu e a população se calou, com algumas exceções.

Hoje, está aí mais um resultado da ilusão de desenvolvimento para a região. Os dirigentes da Cargill, com a maior pureza de alma dizem que não se comprometem com a campanha emancipatória, porque a empresa não se envolve com questões políticas. Dá para crer? 
Desde quando a multinacional, presente em mais de 50 países, não utiliza a política para atender seus interesses? No atual contexto, o que poderá fazer o Estado do Pará, através da SEMA, caso a Cargill se manifeste em favor da emancipação? Só se espera que os antigos apoiadores da empresa aprendam a lição do escorpião, cujo destino é picar até seus parceiros e que, quem gosta de nós somos nós.

(*) Sacerdote e Diretor da Rádio Rural de Santarém (PA)

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