quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O que é um Círio?

Padre Sidney Augusto Canto (*)

Círio é uma grande vela, uma vela especial que se acende por ocasiões especiais. O Círio Pascal, aceso na noite de Páscoa é o mais especial de todos os Círios, simbolizando o Cristo Ressuscitado que ilumina o mundo. A “procissão dos círios” é um nome que se dava antigamente para os cortejos religiosos iluminados pelas luzes das velas. Não é à toa que o PRIMEIRO CÍRIO de Nossa Senhora de Nazaré foi realizado na parte final da tarde. Sim, as procissões dos círios não eram, ao que se consta, realizadas pela parte matutina. Depois, como o passar do tempo e as modificações que vieram, o “Círio” virou nome de procissão da padroeira (ou padroeiro)... E poderíamos terminar por aqui.

Contudo, falar de Círio hoje, é falar de Festa! Não uma festa qualquer, dessas que vamos e depois nem sequer nos lembramos. O Círio é uma Festa que marca nossas vidas, que marca nossos corações. Cada Círio é especial, e cada fato é lembrado com carinho. Lembramos das pessoas que amamos, que caminham ou que já caminharam conosco. Lembramos dos fatos acontecidos no ano que passou, das coisas em que nós crescemos, das alegrias, das conquistas; mas, também lembramos dos nossos tropeços, das nossas dores e sofrimentos.

O Círio é caminhada. E como toda caminhada, relembra um processo de vida. Para caminhar é preciso a coragem de dar o primeiro passo, e depois, passo a passo, chegar a um objetivo. O Círio não é uma simples caminhada que leva de uma igreja à outra, através das ruas de nossa cidade. O Círio é uma caminhada que nos leva do desânimo para a esperança. Ao contrário das outras caminhadas que fazemos, esta é especial: nos aponta um sentido, nos fortalece em nossa fé, nos proporciona momentos de partilha e de generosidade para com aqueles que conosco caminham.

O Círio é confraternização. Um momento em que todos caminham como irmãos na mesma fé. Onde o rico e o pobre vão à rua e caminham lado a lado. Onde não olhamos para os outros pelos que eles têm, mas pelo que eles são. Um momento de ser solidário, de dar a água aos que têm sede. Não somente a água que o corpo precisa, mas a água do Cristo que nos sacia de esperança e que nos fortalece na caridade. O Círio é o Natal antecipado. É o nascimento do Cristo na manjedoura do coração humano. É momento de deixar de lado os desafetos e dar espaço para o perdão e a misericórdia.

Para os que não acreditam, para os que não têm a fé dos que caminham, o Círio é visto como fato da cultura de um povo. E mesmo como cultura, como tradição, o Círio nos encanta. Ver a massa ocupar o lugar dos barulhentos carros, contemplar um pai ou uma mãe carregando o filho, vestido de anjo, no colo ou nos ombros. Olhar a demonstração dos promesseiros da corda. Ouvir os foguetes, os cantos, as homenagens. Ver a história renovada, tal qual a roupa nova que se usa para a ocasião. Celebrar o banquete, com as tradicionais comidas tomando o cuidado e o carinho de não deixar ninguém passar fome. É a cultura no sentido da ação humana transformadora das relações sociais, gerando a união e a solidariedade fraterna.

Para os que estão longe (como é o meu caso e de tantos outros) o Círio é saudade... Aquele amor que se sente do que está ausente. O Círio é parte da nossa identidade. É um pedacinho de nós que ficou, mas que também levamos para onde estamos naquele dia especial. Quantas recordações, lembranças, emoções. A comunhão com os que ficaram e que estão participando daquele evento. A preocupação de saber se tudo está acontecendo da melhor forma possível.

O Círio é tudo isso e muito mais. É o que podemos falar dele e ao mesmo tempo é o que não podemos explicar pelas palavras. O Círio é um fato da fé, da cultura, da tradição. Mas também continua sendo um círio: uma luz que, tal qual a de uma vela, ilumina nossos passos pelas estradas desta vida!

Um Feliz Círio da Conceição a todos os santarenos, presentes ou ausentes da nossa magnífica pérola do Tapajós.

*) Sacerdote santareno e foi ordenado presbítero no dia 28 de dezembro de 2001. É membro da Academia de Letras e Artes de Santarém, como escritor e pesquisador da história da sua Diocese já tendo dois livros publicados e outros dois inéditos.

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