IstoÉ Dinheiro
Em 1989, o empresário Lawrence Pih, dono do maior moinho de trigo da América Latina, o Moinho Pacífico, surpreendeu seus pares ao declarar voto no então candidato Lula.
Aos 72 anos, Pih diz que rompeu com o PT após a crise econômica, em 2008, por questões ideológicas. Em entrevista à DINHEIRO, na quarta-feira 1º, em seu escritório, em São Paulo, o empresário chinês se mostrou preocupado com o futuro do País e afirmou que votará na oposição nesta eleição.
Qual deve ser a prioridade na economia brasileira?
Tratar com mais cuidado das contas públicas. É preciso apoiar os três pilares da nossa economia, que são o superávit primário, a meritocracia e o câmbio flutuante.
O sr. acha que, numa eventual reeleição de Dilma, não haveria comprometimento com esse tripé econômico?
Não. Pelo histórico dos quatro anos, não há indícios de que esses pilares serão abraçados. Temos uma meta de superávit primário de 3,1%, mas, infelizmente, não vai chegar nem a 1%. É errado ter superávit primário deficitário, como vem ocorrendo nos últimos meses. As contas fiscais estão bastante frágeis.
O sr. teme que o País possa perder o grau de investimento pelas agências de classificação de risco?
Com certeza. Se continuar assim, perderemos o grau de investimento. Haverá um corte na nota nos próximos seis meses. E daí a coisa complica, porque muitos investidores serão obrigados a vender os títulos da dívida brasileira.
A inflação está beirando o teto, o PIB cresce pouco e as contas públicas estão deficitárias. Haverá ajustes, independentemente de quem vencer, certo?
O mercado vai impor os ajustes. E sabemos que, quando o mercado impõe, os custos são sempre maiores. Quando você diz que a inflação está beirando 6,5%, eu contesto isso.
Eu acho que a inflação real está mais perto de 8% a 9%, pois há um monte de preços represados. Se não tivesse represamento de tarifas de energia, ônibus, combustível, estaria mais perto dos 8%. Não posso aceitar essa tese porque a inflação é artificial.
Não é controle, é supressão.
O sr. acha que estamos passando por um processo de “argentinização”?
Se Dilma continuar, o Brasil vai virar uma Argentina, sem dúvida. E a minha grande preocupação é que, depois da Argentina, sejamos uma Venezuela.
Uma eventual vitória da oposição, com Aécio ou Marina, seria uma maneira de reverter esse processo?
Eu diria que, num primeiro momento, estancar. As correções que devem ser feitas são enormes.
Dá para resolver tudo em quatro anos?
Não conserta tudo, mas dá para começar. É verdade que a crise mundial em 2008 não ajudou a economia, mas, de lá para cá, a intervenção do Estado tem criado uma situação cada vez mais difícil para nós.
A intervenção estatal excessiva inibe o setor privado?
Com certeza. Quando as regras não são claras, o governo é pouco previsível e há insegurança jurídica, o capital foge. A partir da segunda metade do mandato do Lula, senti nitidamente um viés ideológico. Por isso, rompi com ele. O Bolsa Família, por exemplo, é importante – e isso é inegável. Resgatou da miséria uma parte importante da população.
A questão que nunca devemos esquecer é como financiar isso. E como criar portas de saída do programa.
O papel do BNDES está correto?
Usar o BNDES, assim como o Banco do Brasil e a Caixa, é um instrumento que o governo tinha para bancar os empréstimos. Entretanto, se for olhar com cuidado, os financiamentos se restringem aos mesmos players, com grande quantidade de recursos concentrados em mãos de poucas empresas. E como é um crédito subsidiado, todo mundo quer, mas nem todo mundo tem acesso.
É justa a crítica de que o BNDES escolhe os campeões da economia? Primeiramente, como definir o campeão? O critério é técnico ou político?
Pelo visto, tem um conteúdo político. Não digo em todos os financiamentos, mas em alguns.
O sr. teme que, se reeleita, Dilma Rousseff não terá coragem para colocar a economia nos trilhos?
Não é coragem. O problema da Dilma é a ideologia. Ela tem certeza de que o modelo chinês funciona no Brasil. E não funciona. Primeiro, porque o regime na China é autoritário. Não tem Congresso para negociar. Além disso, é uma sociedade cooperativista, não individualista. Aqui, no Brasil, há 3,5 milhões de ações trabalhistas por ano. Lá, na China, isso só é permitido quando o governo autoriza.
Como estará a economia brasileira em 2018, em caso de reeleição de Dilma?
Estaremos numa situação muito difícil. Não veremos as reformas de que precisamos, a começar pela reforma política, a tributária, trabalhista e a da previdência.
Como estará o seu setor daqui a quatro anos?
Depende do câmbio. As empresas mais cautelosas fazem o hedge, mas, com os juros primários altíssimos, o custo também é altíssimo. Porque o custo é volatilidade mais o custo do dinheiro. E os dois são altos. Quando o câmbio desanda, sou obrigado a repassar os custos quase de forma imediata. Mas, no fundo, o que o empresário quer é previsibilidade. Não importa se o câmbio é R$ 2 ou R$ 4. O que queremos é que ela seja mais previsível. Quando não há regras claras, fica difícil fazer qualquer previsão.
O sr. já disse que votará na Marina no primeiro turno. E se o Aécio for para o segundo turno com a Dilma?
Irei apoiá-lo. O Armínio Fraga, que o Aécio já designou como ministro da Fazenda, se eleito, é uma pessoa que tem um sólido conhecimento de economia e fará uma gestão muito boa. O pessoal do PSDB me impressiona muito bem.
O sr. já esteve alguma vez com a presidenta Dilma Rousseff?
Não, nunca estive interessado em conversar com ela. E nem o Lula me procurou para saber por que eu mudei de lado. Eles não se preocupam em saber por que deixei de apoiar o PT porque, no íntimo, sabem muito bem.
Como está o humor dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil?
Muito negativo. Um monte de colegas está a ponto de retirar o capital daqui. Tanto que o câmbio subiu para R$ 2,48. Daí haverá controle de capital.
O sr. se considera pessimista com o Brasil?
Não sou pessimista, sou realista. Se fosse pessimista, não seria empresário. Se fosse pessimista, seria funcionário público.
Lawrence Pih |
Aos 72 anos, Pih diz que rompeu com o PT após a crise econômica, em 2008, por questões ideológicas. Em entrevista à DINHEIRO, na quarta-feira 1º, em seu escritório, em São Paulo, o empresário chinês se mostrou preocupado com o futuro do País e afirmou que votará na oposição nesta eleição.
Qual deve ser a prioridade na economia brasileira?
Tratar com mais cuidado das contas públicas. É preciso apoiar os três pilares da nossa economia, que são o superávit primário, a meritocracia e o câmbio flutuante.
O sr. acha que, numa eventual reeleição de Dilma, não haveria comprometimento com esse tripé econômico?
Não. Pelo histórico dos quatro anos, não há indícios de que esses pilares serão abraçados. Temos uma meta de superávit primário de 3,1%, mas, infelizmente, não vai chegar nem a 1%. É errado ter superávit primário deficitário, como vem ocorrendo nos últimos meses. As contas fiscais estão bastante frágeis.
O sr. teme que o País possa perder o grau de investimento pelas agências de classificação de risco?
Com certeza. Se continuar assim, perderemos o grau de investimento. Haverá um corte na nota nos próximos seis meses. E daí a coisa complica, porque muitos investidores serão obrigados a vender os títulos da dívida brasileira.
A inflação está beirando o teto, o PIB cresce pouco e as contas públicas estão deficitárias. Haverá ajustes, independentemente de quem vencer, certo?
O mercado vai impor os ajustes. E sabemos que, quando o mercado impõe, os custos são sempre maiores. Quando você diz que a inflação está beirando 6,5%, eu contesto isso.
Eu acho que a inflação real está mais perto de 8% a 9%, pois há um monte de preços represados. Se não tivesse represamento de tarifas de energia, ônibus, combustível, estaria mais perto dos 8%. Não posso aceitar essa tese porque a inflação é artificial.
Não é controle, é supressão.
O sr. acha que estamos passando por um processo de “argentinização”?
Se Dilma continuar, o Brasil vai virar uma Argentina, sem dúvida. E a minha grande preocupação é que, depois da Argentina, sejamos uma Venezuela.
Uma eventual vitória da oposição, com Aécio ou Marina, seria uma maneira de reverter esse processo?
Eu diria que, num primeiro momento, estancar. As correções que devem ser feitas são enormes.
Dá para resolver tudo em quatro anos?
Não conserta tudo, mas dá para começar. É verdade que a crise mundial em 2008 não ajudou a economia, mas, de lá para cá, a intervenção do Estado tem criado uma situação cada vez mais difícil para nós.
A intervenção estatal excessiva inibe o setor privado?
Com certeza. Quando as regras não são claras, o governo é pouco previsível e há insegurança jurídica, o capital foge. A partir da segunda metade do mandato do Lula, senti nitidamente um viés ideológico. Por isso, rompi com ele. O Bolsa Família, por exemplo, é importante – e isso é inegável. Resgatou da miséria uma parte importante da população.
A questão que nunca devemos esquecer é como financiar isso. E como criar portas de saída do programa.
O papel do BNDES está correto?
Usar o BNDES, assim como o Banco do Brasil e a Caixa, é um instrumento que o governo tinha para bancar os empréstimos. Entretanto, se for olhar com cuidado, os financiamentos se restringem aos mesmos players, com grande quantidade de recursos concentrados em mãos de poucas empresas. E como é um crédito subsidiado, todo mundo quer, mas nem todo mundo tem acesso.
É justa a crítica de que o BNDES escolhe os campeões da economia? Primeiramente, como definir o campeão? O critério é técnico ou político?
Pelo visto, tem um conteúdo político. Não digo em todos os financiamentos, mas em alguns.
O sr. teme que, se reeleita, Dilma Rousseff não terá coragem para colocar a economia nos trilhos?
Não é coragem. O problema da Dilma é a ideologia. Ela tem certeza de que o modelo chinês funciona no Brasil. E não funciona. Primeiro, porque o regime na China é autoritário. Não tem Congresso para negociar. Além disso, é uma sociedade cooperativista, não individualista. Aqui, no Brasil, há 3,5 milhões de ações trabalhistas por ano. Lá, na China, isso só é permitido quando o governo autoriza.
Como estará a economia brasileira em 2018, em caso de reeleição de Dilma?
Estaremos numa situação muito difícil. Não veremos as reformas de que precisamos, a começar pela reforma política, a tributária, trabalhista e a da previdência.
Como estará o seu setor daqui a quatro anos?
Depende do câmbio. As empresas mais cautelosas fazem o hedge, mas, com os juros primários altíssimos, o custo também é altíssimo. Porque o custo é volatilidade mais o custo do dinheiro. E os dois são altos. Quando o câmbio desanda, sou obrigado a repassar os custos quase de forma imediata. Mas, no fundo, o que o empresário quer é previsibilidade. Não importa se o câmbio é R$ 2 ou R$ 4. O que queremos é que ela seja mais previsível. Quando não há regras claras, fica difícil fazer qualquer previsão.
O sr. já disse que votará na Marina no primeiro turno. E se o Aécio for para o segundo turno com a Dilma?
Irei apoiá-lo. O Armínio Fraga, que o Aécio já designou como ministro da Fazenda, se eleito, é uma pessoa que tem um sólido conhecimento de economia e fará uma gestão muito boa. O pessoal do PSDB me impressiona muito bem.
O sr. já esteve alguma vez com a presidenta Dilma Rousseff?
Não, nunca estive interessado em conversar com ela. E nem o Lula me procurou para saber por que eu mudei de lado. Eles não se preocupam em saber por que deixei de apoiar o PT porque, no íntimo, sabem muito bem.
Como está o humor dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil?
Muito negativo. Um monte de colegas está a ponto de retirar o capital daqui. Tanto que o câmbio subiu para R$ 2,48. Daí haverá controle de capital.
O sr. se considera pessimista com o Brasil?
Não sou pessimista, sou realista. Se fosse pessimista, não seria empresário. Se fosse pessimista, seria funcionário público.
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