Vanderlei Silva Ataídes (*)
A agricultura brasileira vem crescendo cada vez mais, e com isso sé tornando um setor de muita importância na economia do país. Mas existem fatores que acabam prejudicando esse crescimento direta e indiretamente, como a falta logística.
Com esse avanço agrícola, vários estados que antes só tinham o comércio madeireiro e a pecuária como opção-econômica aderiram a essa nova alternativa.
Um dos grandes exemplos disso é a cidade Paragominas no Sudeste do Pará, que aderiu fortemente a agricultura e vem se destacando como uma nova fronteira agrícola do Brasil.
Não por acaso, os dados históricos da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) mostram que é a região agregada do MAPITO, da Bahia e do Pará (PAMAPITOBA) onde as culturas agrícolas, em particular a soja, mais cresceram nos últimos dez anos.
Em conjunto, a soja nesta área de fronteira cresceu 189% entre 2004 e 2014.
Dentre os estados, o Pará se destaca como o segundo estado de maior crescimento da área agrícola, 260%, sendo superado apenas pelo Piauí que cresceu 320%.
Ainda assim, toda a área de soja no Pará representa pouco mais de 0,1% da área do estado, demonstrando não ser um fator de pressão de desmatamento no Bioma Amazônia. Conclusão semelhante chegaram os responsáveis pelos levantamentos da chamada Moratória da Soja, encabeçada pela Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove) e Associação Nacional de Exportadores de Cereais (ANEC), ação apoiada por diversas ONGs ambientalistas e clientes europeus. Tudo isso mostra que a agricultura cresce em bases sustentáveis no estado do Pará.
Contudo, apesar da agricultura ter se desenvolvido muito, a falta de infraestrutura e logística acabou se tornando o inimigo número um do produtor rural e do agronegócio da região. Com a falta de portos, ferrovias, hidrovias e a situação precária das rodovias, os grãos como soja, milho, sorgo, acabam não chegando ao local de destino.
Com isso, acabam estragando no meio do caminho, perdendo parte da carga, reduzindo sua qualidade e valor de mercado. Um duro golpe contra a competitividade da região que poderia ser corrigido se fossem feitos os investimentos necessários ao longo do tempo.
Mas infelizmente, os governantes parecem não estar preocupados com a competitividade da agricultura da região. Me pergunto se há outra coisa tão importante na pauta do estado para dar condições de crescimento do que pavimentar estradas, construir ferrovias e dar condição de navegação as hidrovias. Parece que outra agenda que desconhecemos tomou conta das preocupações destes governantes, mesmo o país levando um prejuízo global de R$ 6,6 bilhões pela falta de infraestrutura e logística por ano. Segundo a CNA, a cada cinco safras uma se vai em prejuízos com a logística. Além de problemas recorrentes com transporte, surgiu em 2012 uma Lei que prejudicou diretamente o produtor, a Lei Nº 12.619 criada em 30 de Abril de 2012. Esta lei determina que o motorista profissional trabalhe no Maximo 10 horas diárias ao volante e descanse 30 minutos a cada 4 horas.
Além disso, determina que o tempo de descanso a noite deve ser de 11 horas e o limite máximo de 4 horas extras.
Dar melhor condições de trabalhos aos motoristas, ninguém se opõe a isso.
Também nos preocupamos com a qualidade de vida dos cidadãos que trabalham em toda a cadeia que evolve nossa atividade. O problema é que num canetaço se impôs uma condição não aplicável, onde nem se quisesse o motorista teria onde parar após 4 horas na maioria das rodovias brasileiras (não há áreas de descanso).
Com isso, o que aumentou foi à insegurança e os perigos de roubo de cargas.
Por fim, o tempo de entrega das cargas aumentou, os fretes encareceram 20%, as transportadoras continuam lucrando e os produtores pagando a conta.
Em um grande esforço dentro do congresso nacional, foi elaborado um texto alternativo para solucionar o problema e que esperamos seja sancionado em breve pelo próximo presidente.
Mas o questionamento que fica é que num país tão grande e com tudo para crescer cada vez mais economicamente com sustentabilidade, os governantes deveriam não criar mais problemas e sim soluções. O Pará e o Acre lideram o ranking das piores e mais precárias estradas do país. No caso do Pará, os maiores problemas estão concentrados na região sul, por onde transportamos nossos grãos até os portos. Rodovias em péssimo estado de conservação, sinônimo de fretes exorbitantes e prejuízos para o produtor e para o estado que encarece o preço dos alimentos. É obvio que um estado como o Pará em franca expansão precisa de mais investimentos e atenção dos governantes para que grandes polos produtores se desenvolvam.
Com tantos recursos naturais a favor, a região Norte deveria aproveitar seus rios e fazer projetos voltados para o transporte hidroviários, trabalhar na criação de mais portos. Ferrovias também seriam um importante meio de impulsionar o potencial produtivo. Porém, também é preciso investir em estradas, mas que tenham uma condição respeitável, com acostamentos, pontes seguras, ampliando vias de trafego interestaduais. Não é por acaso que o frete no Brasil é 80 dólares e dos EUA e Argentina gira em torno dos 30 dólares. Nossas estradas, portos, as ferrovias que existem, são muito piores.
Não tem milagre, pra baixar o custo tem que melhorar a qualidade.
Hoje, infelizmente, toda a ação para viabilizar logística e infraestrutura tem vindo do setor privado. Não que sejamos contra, mas pelo menos deveria ter sido criado vários modelos padrão de Parcerias Público Privadas (PPPs) para impulsionar os projetos existentes. Ao invés disso, foram ideias e iniciativas privadas que construíram os portos existentes como o porto em Miritituba-Barcarena, sem contar com quatro que ainda estão em projeto que não saíram do papel. Projetos como esse, fortalecem e viabilizam toda a agricultura do país, além do próprio Norte que está em desenvolvimento.
Infelizmente, mesmo com todo o crescimento do setor, o produtor rural ainda vê boa parte do seu lucro, resultado do seu suor, descerem pelo ralo. Afinal, não adianta ter excelentes safras se no decorrer do transporte, uma parte do lucro se perde no chão e outra para os longos atrasos para chegar ao local determinado para desembarque. Justamente devido ao difícil acesso aos terminais, portos, e as rodovias em péssimas condições. Sem infraestrutura e logística, não há condições de desenvolvimento econômico digno e de boa qualidade. É como querer correr não tendo pernas.
Por isso, seguiremos cobrando lançamento rápido de editais viáveis de licitação de obras e aceleração na celebração das PPPs, apontando sempre onde estão as falhas e atrasos.
O que não podemos é nos render diante teste inimigo. Ou o enfrentamos de frente ou ele continuará nos atingindo, nos afrontando, lentamente levando o que construímos ano após ano com muito esforço, nossa renda.
(*) É Presidente da Aprosoja-PA
A agricultura brasileira vem crescendo cada vez mais, e com isso sé tornando um setor de muita importância na economia do país. Mas existem fatores que acabam prejudicando esse crescimento direta e indiretamente, como a falta logística.
Com esse avanço agrícola, vários estados que antes só tinham o comércio madeireiro e a pecuária como opção-econômica aderiram a essa nova alternativa.
Um dos grandes exemplos disso é a cidade Paragominas no Sudeste do Pará, que aderiu fortemente a agricultura e vem se destacando como uma nova fronteira agrícola do Brasil.
Não por acaso, os dados históricos da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) mostram que é a região agregada do MAPITO, da Bahia e do Pará (PAMAPITOBA) onde as culturas agrícolas, em particular a soja, mais cresceram nos últimos dez anos.
Em conjunto, a soja nesta área de fronteira cresceu 189% entre 2004 e 2014.
Dentre os estados, o Pará se destaca como o segundo estado de maior crescimento da área agrícola, 260%, sendo superado apenas pelo Piauí que cresceu 320%.
Ainda assim, toda a área de soja no Pará representa pouco mais de 0,1% da área do estado, demonstrando não ser um fator de pressão de desmatamento no Bioma Amazônia. Conclusão semelhante chegaram os responsáveis pelos levantamentos da chamada Moratória da Soja, encabeçada pela Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove) e Associação Nacional de Exportadores de Cereais (ANEC), ação apoiada por diversas ONGs ambientalistas e clientes europeus. Tudo isso mostra que a agricultura cresce em bases sustentáveis no estado do Pará.
Contudo, apesar da agricultura ter se desenvolvido muito, a falta de infraestrutura e logística acabou se tornando o inimigo número um do produtor rural e do agronegócio da região. Com a falta de portos, ferrovias, hidrovias e a situação precária das rodovias, os grãos como soja, milho, sorgo, acabam não chegando ao local de destino.
Com isso, acabam estragando no meio do caminho, perdendo parte da carga, reduzindo sua qualidade e valor de mercado. Um duro golpe contra a competitividade da região que poderia ser corrigido se fossem feitos os investimentos necessários ao longo do tempo.
Mas infelizmente, os governantes parecem não estar preocupados com a competitividade da agricultura da região. Me pergunto se há outra coisa tão importante na pauta do estado para dar condições de crescimento do que pavimentar estradas, construir ferrovias e dar condição de navegação as hidrovias. Parece que outra agenda que desconhecemos tomou conta das preocupações destes governantes, mesmo o país levando um prejuízo global de R$ 6,6 bilhões pela falta de infraestrutura e logística por ano. Segundo a CNA, a cada cinco safras uma se vai em prejuízos com a logística. Além de problemas recorrentes com transporte, surgiu em 2012 uma Lei que prejudicou diretamente o produtor, a Lei Nº 12.619 criada em 30 de Abril de 2012. Esta lei determina que o motorista profissional trabalhe no Maximo 10 horas diárias ao volante e descanse 30 minutos a cada 4 horas.
Além disso, determina que o tempo de descanso a noite deve ser de 11 horas e o limite máximo de 4 horas extras.
Dar melhor condições de trabalhos aos motoristas, ninguém se opõe a isso.
Também nos preocupamos com a qualidade de vida dos cidadãos que trabalham em toda a cadeia que evolve nossa atividade. O problema é que num canetaço se impôs uma condição não aplicável, onde nem se quisesse o motorista teria onde parar após 4 horas na maioria das rodovias brasileiras (não há áreas de descanso).
Com isso, o que aumentou foi à insegurança e os perigos de roubo de cargas.
Por fim, o tempo de entrega das cargas aumentou, os fretes encareceram 20%, as transportadoras continuam lucrando e os produtores pagando a conta.
Em um grande esforço dentro do congresso nacional, foi elaborado um texto alternativo para solucionar o problema e que esperamos seja sancionado em breve pelo próximo presidente.
Mas o questionamento que fica é que num país tão grande e com tudo para crescer cada vez mais economicamente com sustentabilidade, os governantes deveriam não criar mais problemas e sim soluções. O Pará e o Acre lideram o ranking das piores e mais precárias estradas do país. No caso do Pará, os maiores problemas estão concentrados na região sul, por onde transportamos nossos grãos até os portos. Rodovias em péssimo estado de conservação, sinônimo de fretes exorbitantes e prejuízos para o produtor e para o estado que encarece o preço dos alimentos. É obvio que um estado como o Pará em franca expansão precisa de mais investimentos e atenção dos governantes para que grandes polos produtores se desenvolvam.
Com tantos recursos naturais a favor, a região Norte deveria aproveitar seus rios e fazer projetos voltados para o transporte hidroviários, trabalhar na criação de mais portos. Ferrovias também seriam um importante meio de impulsionar o potencial produtivo. Porém, também é preciso investir em estradas, mas que tenham uma condição respeitável, com acostamentos, pontes seguras, ampliando vias de trafego interestaduais. Não é por acaso que o frete no Brasil é 80 dólares e dos EUA e Argentina gira em torno dos 30 dólares. Nossas estradas, portos, as ferrovias que existem, são muito piores.
Não tem milagre, pra baixar o custo tem que melhorar a qualidade.
Hoje, infelizmente, toda a ação para viabilizar logística e infraestrutura tem vindo do setor privado. Não que sejamos contra, mas pelo menos deveria ter sido criado vários modelos padrão de Parcerias Público Privadas (PPPs) para impulsionar os projetos existentes. Ao invés disso, foram ideias e iniciativas privadas que construíram os portos existentes como o porto em Miritituba-Barcarena, sem contar com quatro que ainda estão em projeto que não saíram do papel. Projetos como esse, fortalecem e viabilizam toda a agricultura do país, além do próprio Norte que está em desenvolvimento.
Infelizmente, mesmo com todo o crescimento do setor, o produtor rural ainda vê boa parte do seu lucro, resultado do seu suor, descerem pelo ralo. Afinal, não adianta ter excelentes safras se no decorrer do transporte, uma parte do lucro se perde no chão e outra para os longos atrasos para chegar ao local determinado para desembarque. Justamente devido ao difícil acesso aos terminais, portos, e as rodovias em péssimas condições. Sem infraestrutura e logística, não há condições de desenvolvimento econômico digno e de boa qualidade. É como querer correr não tendo pernas.
Por isso, seguiremos cobrando lançamento rápido de editais viáveis de licitação de obras e aceleração na celebração das PPPs, apontando sempre onde estão as falhas e atrasos.
O que não podemos é nos render diante teste inimigo. Ou o enfrentamos de frente ou ele continuará nos atingindo, nos afrontando, lentamente levando o que construímos ano após ano com muito esforço, nossa renda.
(*) É Presidente da Aprosoja-PA
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