sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Como funciona a “lavagem” de madeira ilegal na Amazônia

Revista Exame 

O governo adiou a divulgação dos novos números do desmatamento na Amazônia para depois das eleições, alimentando suspeitas de que os resultados não são bons. 
Em 2013, segundo os últimos dados, a derrubada de florestas voltou a crescer após uma década em queda. Uma nova denúncia, feita pelo grupo ambientalista Greenpeace, reforça essa ideia. 

Com ajuda de tecnologia de rastreamento por satélite, a ONG revelou um esquema de “lavagem” de madeira ilegal que destrói silenciosamente a floresta no Pará, estado que mais produz e exporta madeira da Amazônia. 

Entre agosto e setembro de 2014, ativistas da organização ambiental viveram perto de Santarém, centro da indústria madeireira da região, e colocaram rastreadores GPS nos caminhões dos madeireiros para monitorar suas atividades. 
O local escolhido é atravessado por rotas de caminhões madeireiros que fazem o trajeto entre as áreas públicas de florestas no oeste do Estado e as serrarias da região. 

Segundo a investigação, durante o dia, os caminhões vazios avançam floresta adentro e, uma vez carregados, viajam durante a noite, quando a fiscalização era menor. 
O trajeto era o mesmo: eles saíam das áreas de extração ilegal até as madeireiras em Santarém e arredores. 

Na investigação, os ativistas identificaram três serrarias que recebem as cargas ilegais. Essas mesmas empresas, de acordo documentos oficiais, recebem madeira de áreas de planos de manejo florestais autorizados. 
O manejo florestal sustentável é a administração da floresta para obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema. 

Porém, análise de imagens de satélite feita pelo Greenpeace mostra que não houve nenhuma atividade madeireira na maioria dessas áreas de manejo autorizado no período, "o que indica que esses planos estão servindo para fornecer créditos e documentação oficial para 'lavar' a madeira ilegal". 

Conforme a denúncia, abastecidas com madeira ilegal, estas serrarias exportam regularmente para a Europa, China, Japão e Estados Unidos – a despeito das leis que proíbem a comercialização de madeira ilegal em alguns desses mercados. 
Enquanto isso, segundo ao ONG, as terras públicas de onde a madeira está sendo roubada apresentam sinais claros de exploração, com madeira estocada em grandes clareiras abertas na mata e diversas estradas ligando esses caminhos. 

De acordo com a coordenadora do Greenpeace Marina Lacorte, a facilidade de “fabricação” de “créditos” de madeira sem lastro permite que toda a exploração ilegal encontre documentação oficial, “pois os sistemas que deveriam impedir a madeira ilegal servem,na maioria das vezes, para lavá-la, dando a aparência de legalidade à uma madeira que pode ter sido extraída de áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação". 

Procurada por EXAME.com, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Pará (SEMA) informou em nota que a investigação da ONG “mostra que é necessário aperfeiçoar os mecanismos de controle e monitoramento para impedir a extração ilegal de florestas no Pará”. 

Uma das principais medidas para coibir a exploração ilegal de madeira, segundo a Secretaria, é implementar sistemas e mecanismos que permitam rastrear as toras de madeira obtidas a partir da árvores autorizadas pelo órgão ambiental, impedindo que árvores não autorizadas sejam exploradas e comercializadas ilegalmente. 

Na mesma nota, a SEMA diz que um novo sistema de licenciamento e monitoramento de Planos de Manejo Florestais denominado Sisflora II será implantado até o segundo semestre de 2015. Neste novo sistema, o controle das toras de madeiras será feita a partir de “chips”, permitindo rastrear e confirmar a origem da madeira, de forma a coibir que sejam adquiridas pelas empresas do setor florestal madeiras vindas de áreas exploradas ilegalmente.

Um comentário:

  1. Um artigo que expressa como uma um leque de corrupção, indiferença, e poucas ações concretas para combater o desmatamento.

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