Botafogo rescinde contrato de Sheik, Edilson, Bolivar e Júlio César. Motivo: cobrar três meses de atrasos salariais e sete em direito de imagem. O clube já deve R$ 800 milhões. Vergonha que o ministro dos Esportes finge não enxergar…
Cosme Rímoli (*)
Se não usasse seu cargo apenas para fazer política, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo estaria hoje no Botafogo. O clube está a quatro dias de completar três meses de atrasos de salários dos jogadores. E sete, sim, sete de direito de imagem.
As dívidas já ultrapassam R$ 800 milhões.
Sheik, Julio César, Edilson e Bolívar acabam de ser afastados.
Pela diretoria, não jogam mais no clube. Os dirigentes querem a rescisão de contrato.
Eles estariam, junto com Jefferson, organizando protestos contra a diretoria.
Já na partida de amanhã contra o Vitória, em Salvador. A ordem partiu do presidente Mauricio Assumpção. O técnico Vagner Mancini colocou o cargo à disposição.
Mas o presidente implorou para ele continuar. Um vexame histórico.
A situação do Botafogo é exemplar.
Mostra o quanto há de irresponsabilidade no futebol brasileiro.
Se existisse uma lei que punisse os clubes por calotes com jogadores e funcionários, a equipe estaria rebaixado há muito tempo. É uma vergonha o que os dirigentes estão fazendo por anos e anos.
Assumpção já disse chorando à própria presidente Dilma que talvez o Botafogo tivesse de abandonar o Brasileiro. Não conseguiria chegar ao fim do torneio, tamanha as suas dívidas. E confessou também que está sem pagar os impostos do clube desde o início do ano. Apostava na aprovação do Proforte, projeto absurdo governamental que está em estudo para liberar R$ 4 bilhões em dívidas dos clubes brasileiros.
Enquanto não há a aprovação do Proforte, a direção do clube tem repetido o que já faz há anos e anos. Usado brechas na legislação para fazer seu time sofrer.
O mês passou a ter 90 dias literalmente. Como a lei prevê que o atleta pode se considerar sem vínculo se ficar três meses sem receber, o Botafogo é cruel.
Paga cada mês na véspera de completar 90 dias.
E atrasa o quanto for melhor os direitos de imagem, maior fatia salarial dos jogadores.
Atletas com a vida financeira definida como Sheik emprestavam dinheiro aos companheiros. Emerson já falou a ex-companheiros do Corinthians que já viu jogadores botafoguenses chorando, desesperados. Sem ter como pagar a escola do filho, colocar gasolina no carro, com medo de serem presos por não pagar pensão alimentícia a ex-mulheres. Sem poder pagar o aluguel. O dinheiro que Emerson tem direito chega diretamente do Corinthians para sua conta. Ele não confiou que a direção botafoguense conseguiria pagar. No que estava muito certo.
Seedorf já havia feito a mesma coisa no ano passado.
Assim também como o técnico Oswaldo de Oliveira. Mesmo com todas as dificuldades, o Botafogo conseguiu ser campeão invicto em 2013.
A falta de pagamento foi uma constante. Mesmo assim, o clube chegou em quarto no Brasileiro do ano passado. Se classificou para a Libertadores.
Oswaldo de Oliveira abriu mão da maior competição da América do Sul para ir trabalhar no Santos. E receber em dia. Seedorf resolveu apostar na carreira de treinador do Milan. Ele também estava muito irritado com as insinuações que queria virar dono dos atletas a quem emprestava dinheiro.
A previsão que a crise ficaria insustentável no Botafogo vem desde janeiro deste ano. Tudo piorou ainda mais com uma revelação chocante.
A empresa do pai do presidente do clube e de sua madrasta tem um contrato desde 2010 com o Botafogo. E lhe garante 5% do acordo de patrocínio com a Viton 44.
A oposição tentou se unir para pedir a destituição imediata de Assumpção.
Divulgou uma carta aberta para os torcedores do clube e imprensa.
Este é só um trecho do documento.
"Em uma demonstração de que o fundo do poço a que estamos sendo levados por esta administração ainda não foi atingido e que nada está tão ruim que não possa piorar, matéria publicada ontem nos informa que "Empresa de familiares de Assumpção recebe 5% de patrocínio do Botafogo”, o que foi confirmado pelo próprio sr Maurício, o qual, além de tudo, não vê nenhum problema nisto, achando normal remunerar a referida empresa, desde 2010, com mais de um milhão de reais por ano."
Mauricio rebateu dizendo não haver qualquer irregularidade.
E a vida continuou dessa maneira trágica no clube. Com os atrasos constantes.
Jogadores se cansaram de implorar por seus salários em dia.
Resolveram escancarar a situação entrando com uma faixa no clássico contra o Flamengo. Era mais um pedido de socorro do que um protesto.
"Estamos aqui porque somos profissionais. E por vocês torcedores."
Estava estampado também um resumo da situação dos atletas.
Cinco meses de atrasos no direito de imagem. Três meses de salário. E a falta de depósito do FGTS.
Exercesse a plenitude de seu cargo, Aldo Rebelo já teria interferido a favor dos atletas no Botafogo há muito tempo. Os atrasos fizeram com que os atletas abolissem a concentração. E até se negassem a atuar em amistosos. A situação é calamitosa.
Os dirigentes souberam que haveria novo protesto em Salvador.
E apuraram que Emerson Sheik, Júlio César, Edilson, Bolívar e Jefferson seriam os articuladores. Como os contratos dos quatro primeiros terminam no final do ano, veio a decisão da rescisão. O goleiro da Seleção Brasileira, não. O clube ainda espera vendê-lo e fazer dinheiro em uma negociação.
No final da manhã, o presidente deu uma coletiva.
E assumiu todo o caos que o clube vive.
"Os quatro terão seus contratos rescindidos. A decisão é minha. Se o Botafogo for rebaixado, a culpa também será minha. O Mancini não tem culpa alguma no que está acontecendo. Ele colocou o cargo à disposição, mas não aceito. Ele continuará sendo o nosso treinador. Se o clube cair, a culpa é minha."
Mauricio só não assumiu a incompetência dele como presidente de um grande clube como o Botafogo. A situação lastimável, vergonhosa, que chegou.
Culpa também dos conselheiros, apáticos diante de tantas decisões equivocadas.
E absurdas. Como não pagar jogadores e funcionários, não depositar o fundo de garantia. Deixar acumular os impostos. Inacreditável.
Fosse o Botafogo uma empresa, estaria falida, lacrada.
Sem prejudicar seus funcionários. Com os responsáveis tendo de se virar para pagar o que devem. Justificar os R$ 800 milhões em dívidas.
Se o Brasil tivesse um ministro dos Esportes ativo, tomaria alguma providência.
Como não tem, é só mais um escândalo...
(*) Jornalista esportivo é comentarista da Record News
Cosme Rímoli (*)
Se não usasse seu cargo apenas para fazer política, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo estaria hoje no Botafogo. O clube está a quatro dias de completar três meses de atrasos de salários dos jogadores. E sete, sim, sete de direito de imagem.
As dívidas já ultrapassam R$ 800 milhões.
Sheik, Julio César, Edilson e Bolívar acabam de ser afastados.
Pela diretoria, não jogam mais no clube. Os dirigentes querem a rescisão de contrato.
Eles estariam, junto com Jefferson, organizando protestos contra a diretoria.
Já na partida de amanhã contra o Vitória, em Salvador. A ordem partiu do presidente Mauricio Assumpção. O técnico Vagner Mancini colocou o cargo à disposição.
Mas o presidente implorou para ele continuar. Um vexame histórico.
A situação do Botafogo é exemplar.
Mostra o quanto há de irresponsabilidade no futebol brasileiro.
Se existisse uma lei que punisse os clubes por calotes com jogadores e funcionários, a equipe estaria rebaixado há muito tempo. É uma vergonha o que os dirigentes estão fazendo por anos e anos.
Assumpção já disse chorando à própria presidente Dilma que talvez o Botafogo tivesse de abandonar o Brasileiro. Não conseguiria chegar ao fim do torneio, tamanha as suas dívidas. E confessou também que está sem pagar os impostos do clube desde o início do ano. Apostava na aprovação do Proforte, projeto absurdo governamental que está em estudo para liberar R$ 4 bilhões em dívidas dos clubes brasileiros.
Enquanto não há a aprovação do Proforte, a direção do clube tem repetido o que já faz há anos e anos. Usado brechas na legislação para fazer seu time sofrer.
O mês passou a ter 90 dias literalmente. Como a lei prevê que o atleta pode se considerar sem vínculo se ficar três meses sem receber, o Botafogo é cruel.
Paga cada mês na véspera de completar 90 dias.
E atrasa o quanto for melhor os direitos de imagem, maior fatia salarial dos jogadores.
Atletas com a vida financeira definida como Sheik emprestavam dinheiro aos companheiros. Emerson já falou a ex-companheiros do Corinthians que já viu jogadores botafoguenses chorando, desesperados. Sem ter como pagar a escola do filho, colocar gasolina no carro, com medo de serem presos por não pagar pensão alimentícia a ex-mulheres. Sem poder pagar o aluguel. O dinheiro que Emerson tem direito chega diretamente do Corinthians para sua conta. Ele não confiou que a direção botafoguense conseguiria pagar. No que estava muito certo.
Seedorf já havia feito a mesma coisa no ano passado.
Assim também como o técnico Oswaldo de Oliveira. Mesmo com todas as dificuldades, o Botafogo conseguiu ser campeão invicto em 2013.
A falta de pagamento foi uma constante. Mesmo assim, o clube chegou em quarto no Brasileiro do ano passado. Se classificou para a Libertadores.
Oswaldo de Oliveira abriu mão da maior competição da América do Sul para ir trabalhar no Santos. E receber em dia. Seedorf resolveu apostar na carreira de treinador do Milan. Ele também estava muito irritado com as insinuações que queria virar dono dos atletas a quem emprestava dinheiro.
A previsão que a crise ficaria insustentável no Botafogo vem desde janeiro deste ano. Tudo piorou ainda mais com uma revelação chocante.
A empresa do pai do presidente do clube e de sua madrasta tem um contrato desde 2010 com o Botafogo. E lhe garante 5% do acordo de patrocínio com a Viton 44.
A oposição tentou se unir para pedir a destituição imediata de Assumpção.
Divulgou uma carta aberta para os torcedores do clube e imprensa.
Este é só um trecho do documento.
"Em uma demonstração de que o fundo do poço a que estamos sendo levados por esta administração ainda não foi atingido e que nada está tão ruim que não possa piorar, matéria publicada ontem nos informa que "Empresa de familiares de Assumpção recebe 5% de patrocínio do Botafogo”, o que foi confirmado pelo próprio sr Maurício, o qual, além de tudo, não vê nenhum problema nisto, achando normal remunerar a referida empresa, desde 2010, com mais de um milhão de reais por ano."
Mauricio rebateu dizendo não haver qualquer irregularidade.
E a vida continuou dessa maneira trágica no clube. Com os atrasos constantes.
Jogadores se cansaram de implorar por seus salários em dia.
Resolveram escancarar a situação entrando com uma faixa no clássico contra o Flamengo. Era mais um pedido de socorro do que um protesto.
"Estamos aqui porque somos profissionais. E por vocês torcedores."
Estava estampado também um resumo da situação dos atletas.
Cinco meses de atrasos no direito de imagem. Três meses de salário. E a falta de depósito do FGTS.
Exercesse a plenitude de seu cargo, Aldo Rebelo já teria interferido a favor dos atletas no Botafogo há muito tempo. Os atrasos fizeram com que os atletas abolissem a concentração. E até se negassem a atuar em amistosos. A situação é calamitosa.
Os dirigentes souberam que haveria novo protesto em Salvador.
E apuraram que Emerson Sheik, Júlio César, Edilson, Bolívar e Jefferson seriam os articuladores. Como os contratos dos quatro primeiros terminam no final do ano, veio a decisão da rescisão. O goleiro da Seleção Brasileira, não. O clube ainda espera vendê-lo e fazer dinheiro em uma negociação.
No final da manhã, o presidente deu uma coletiva.
E assumiu todo o caos que o clube vive.
"Os quatro terão seus contratos rescindidos. A decisão é minha. Se o Botafogo for rebaixado, a culpa também será minha. O Mancini não tem culpa alguma no que está acontecendo. Ele colocou o cargo à disposição, mas não aceito. Ele continuará sendo o nosso treinador. Se o clube cair, a culpa é minha."
Mauricio só não assumiu a incompetência dele como presidente de um grande clube como o Botafogo. A situação lastimável, vergonhosa, que chegou.
Culpa também dos conselheiros, apáticos diante de tantas decisões equivocadas.
E absurdas. Como não pagar jogadores e funcionários, não depositar o fundo de garantia. Deixar acumular os impostos. Inacreditável.
Fosse o Botafogo uma empresa, estaria falida, lacrada.
Sem prejudicar seus funcionários. Com os responsáveis tendo de se virar para pagar o que devem. Justificar os R$ 800 milhões em dívidas.
Se o Brasil tivesse um ministro dos Esportes ativo, tomaria alguma providência.
Como não tem, é só mais um escândalo...
(*) Jornalista esportivo é comentarista da Record News
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