"BBB", Toninho Cerezo e as bananas
Ivan Finotti (*)
Escrevo esse texto do alto da minha ignorância: nunca assisti a nenhum episódio de "BBB". O pessoal da Ilustrada achou isso curioso e me escalou para uma leve olhada na noite desta terça. Como se eu fosse um ET que acaba de aterrissar na Terra. Mais precisamente que acaba de aterrissar na frente de uma televisão sintonizada na Globo.
Começa às 22h16, o programa é pontual. O primeiro abacaxi aparece logo na apresentação, quando colocam dois participantes se dIgladiando como se estivessem em um videogame de luta. Efeitos especiais dignos dos filmes dos Trapalhões nos anos 70 imitam raios saindo das mãos dos infelizes. Sei que o programa elimina gente de vez em quando. Esses dois são as estrelas de hoje.
Percebo após cinco minutos de edição confusa, nervosa, rapidíssima, que estamos recapitulando a semana. Já já começa o verdadeiro programa.. Mas o que é aquilo, com o povo vestido de anjo e tirando palavras de uma piscina? Se a palavra for "ódio", algum deserdado é expulso da brincadeira. Mas quem inventa essas coisas ridículas?
Para não dizer que nada me chamou a atenção positivamente, o diretor Boninho escolheu de forma exemplar as mulheres desse programa. É uma mais bonita que a outra, parabéns, Boninho!
Para transformar a semana inteira em uma hora e pouco, a equipe de edição monta historinhas: o namoro de um casal, por exemplo, é mostrado através dos dias, sob música de Marvin Gaye (aliás, outro ponto positivo são as canções, de muito bom gosto --ops, mudei de ideia. Agora está tocando um forró sertanejo...)
Pedro Bial: ele chama o confinado de "meu rei", diz que "muita coisa se mostra nos olhos" e pergunta se "ver a família através das câmeras dá mais emoção que ao vivo", tudo metralhado por risadas e gargalhadas. Caramba, essa alegria dá vergonha alheia!
Bial informa agora que há dois grupos na disputa. Pensei que era cada um por si. Mas não, há duas gangues formadas. A cada frase de efeito dos concorrentes, a equipe do programa produz cartuns animados fazendo piada. São para deixar claro o que está acontecendo.
O programa de hoje não começa nunca. Já se passaram 45 minutos e ao vivo temos apenas as intervenções de Pedro Bial conversando com o povo no sofá. Faz perguntas sobre nada. Uma vez assisti à "Casa dos Artistas", há uns dez anos, quando Supla ficou em segundo lugar. Parecia mais interessante, ou será que era apenas a novidade do gênero reality show?
Na minha pré-apuração para fazer esse texto, conversei com a Eulina de Oliveira, a mulher que lava, passa, limpa e faz comida aqui em casa. Ela disse que não gosta do programa porque os concorrentes são pessoas que não precisam. Não precisam do quê?, perguntei. "Do dinheiro! Deveriam dar oportunidade para quem precisa do dinheiro, como aquela que tinha uma filha com problemas, no 'BBB4' ou '5'".
Discordo da Eulina. Não acho que o programa melhoraria se tivéssemos um desfile da miséria brasileira. Ao contrário, acho que se a produção escolhesse alguns intelectuais, tipo um critico de literatura bem inteligente, um cineasta bem sucedido, uma bela filósofa bonita e uma antropóloga bem gostosa, aí sim poderia ser divertido.
Seja como for, a Eulina, evangélica, se incomoda com o alto índice de insinuação sexual do "BBB". E me alertou: tem um transexual, filho de um jogador de futebol no programa. Como eu leio jornais, sei que ela se confundiu. O transexual filho do Toninho Cerezo está em outro circo, o da SPFW. Mas me pôs a pensar: não sou só eu, mas ninguém entende nada desse programa da Globo. Por que existe? Por que faz sucesso?
Aterrissei na frente de uma TV no Brasil do futuro. Não estamos em 2011, mas no ano de 3978. É a Terra do Planetas dos Macacos, dominada por primatas. Macacos dentro e, ouso dizer, na frente das telas de televisão. O "BBB" deveria dar 1 milhão de bananas aos seus concorrentes e vender as cascas aos telespectadores.
(*) Jornalista, é editor assistente do Caderno Ilustrada da Folha de São Paulo.
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