Celso Ming (*)
A inflação vai ficando mais virulenta e, pior do que isso, a cabeça dos marcadores de preços está cada vez mais turbinada com a alta que vem pela frente. Ou seja, não é apenas a inflação que está ficando mais séria; é, também, a expectativa do mercado que vai se deteriorando, tornando ainda mais difícil o seu combate.
O IPCA-15 é apenas uma antecipação do que pode vir a ser a inflação do mês, mas apontou um avanço muito forte, de 0,97%, o maior desde 2003. Esse IPCA-15 é o mesmo IPCA, com uma diferença: mede a evolução dos preços também em 30 dias, só que captados no período que vai do dia 15 de um mês ao dia 15 do mês seguinte.
O IPCA-15 de fevereiro, divulgado nesta terça-feira pelo IBGE, mostrou que, em 12 meses, a inflação já é de 6,08%. E a Pesquisa Focus, do Banco Central, apontou segunda-feira que as projeções do mercado para a inflação deste ano, medida pelo IPCA, já estão em 5,79%. Mas os analistas começam a apostar em números mais próximos dos 7%. Se passar dos 6,5%, a meta estará estourada, já contada a área admissível de escape, de 2 pontos porcentuais.
O fato positivo é o de que o impacto dos alimentos no custo de vida já é mais baixo do que há algumas semanas. Foi de 1,21% e agora caiu à metade, para 0,57%. Em compensação, o governo e outros organismos encarregados da política anti-inflação têm de lidar com novos fatores adversos.
O primeiro deles é a estocada dos preços do petróleo. Aí há dois condicionantes trabalhando na mesma direção. O primeiro deles é a alta que já vinha vindo e que tem a mesma qualidade da esticada das commodities agrícolas. Reflete aumento do consumo.
Esse condicionante vai continuar atuando, embora mais devagar. O outro tem a ver com a crise no mundo islâmico, o chamado efeito dominó que vai arrastando um a um os governantes da região. Alguns desses países, como Líbia e Irã, são grandes fornecedores de petróleo. Uma paralisação prolongada da produção por lá pode derrubar a oferta e pressionar os preços. E, assim, mais cedo ou mais tarde, a Petrobrás, que já vai sangrando em seu caixa, poderá vir a ser obrigada a reajustar os preços dos derivados.
O segundo fator que trabalha contra o governo é o câmbio (âncora cambial). Quanto mais baixa for a cotação do dólar, mais fácil será segurar a inflação porque ajuda a baratear em reais os preços dos produtos importados. Com algumas interrupções de percurso, desde 2004, o câmbio vem derrubando a cotação do dólar em reais. Daqui para frente não se pode contar mais com esse efeito – até porque a decisão de política econômica é evitar maior valorização do real.
O outro fator que agora está trabalhando contra é a inflação externa. A crise derrubou o consumo e os preços. Até há alguns meses, o grande temor dos países industrializados era a deflação. A nova situação é o oposto disso. A alta dos alimentos, a escalada do petróleo e a reativação do consumo tendem a acelerar a inflação global e a obrigar os bancos centrais a voltar a puxar pelos juros.
A força da inflação aqui no Brasil exige ação do governo, sob pena de perder o controle. É a situação que aumenta a importância do corte de despesas públicas e, ao mesmo tempo, exige ainda mais aperto dos juros.
(*) Jornalista . Possui uma coluna de Economia publicada em vários jornais do País.
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