Amazonino Mendes |
Folha de São Paulo
A desempregada Laudenice Cantalista de Paiva, 37, disse à Folha que estava em estado de choque em seu encontro com o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB), na segunda-feira (21).
Em um bate-boca, ela disse a Amazonino que não tinha como abandonar uma área de risco da cidade. Ele retrucou: "Então, morra".
Um dia antes, Laudenice perdeu tudo num temporal que matou três vizinhos.
Mãe de sete filhos e avó de um bebê, ela falou que pretende processá-lo.
Folha - Por que a senhora veio para o Amazonas?
Laudenice Cantalista de Paiva - Sou de Prainha, no Pará. E a vida lá era muito difícil. Meu marido arrumou emprego aqui e eu também. Trabalhava como doméstica.
E como a sra. chegou a Santa Marta, em Manaus?
Vim porque não tinha condição de comprar terreno em outro canto. Não é uma invasão, mas é área de risco. Paguei R$ 6.000. No domingo, durante a chuva, a água invadiu a casa. Perdi o fogão. Fiquei sem roupa para usar.
Como foi o encontro com o prefeito?
Pensei: "Vou correr para ele ajudar". Estava em estado de choque. Eu disse: "Só o senhor para solucionar nosso problema". Ele: "Quem manda invadir área de risco?"
Eu disse: "Não temos condições de morar onde o senhor mora. Por isso estamos aqui". Ele perguntou: "De onde você é?". Eu disse: "Do Pará". E ele: "Tá explicado".
Depois o pessoal da prefeitura saiu me empurrando.
Hoje me sinto muito humilhada [chora]. Passo na rua e o pessoal manga de mim.
E quando ele disse "morra"?
Para mim, a vida acabou naquele momento. Eu me senti um nada.
Sobre a moradia, o que ficou definido?
Meu desespero maior era para ter uma casinha. Todo mundo perdeu tudo.
Quando desabou a casa [dos vizinhos, matando três deles], ligamos para os bombeiros, mas eles não apareceram e nós cavamos com a mão para retirar os corpos.
Meu filho tirou uma criança. Meus filhos não dormem.
O que a sra. vai fazer?
Minha vontade é processar por discriminação. Não pediu desculpas. Vou procurar meus direitos.
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