José Luiz Portella (*)
Nasce um jovem em um bairro pobre com altos índices de violência e resiste à pressão para se marginalizar. Não se torna drogado, assaltante ou auxiliar de traficante. Não se evade da escola. Estuda duro e fica sempre entre os cinco melhores alunos da classe. .Deixa a mãe feliz. Mas não terá muitas oportunidades para ganhar mais que três salários-mínimos, quando entrar no mercado de trabalho. Ele não chegará a uma boa faculdade ou sequer ao terceiro grau, pois não terá o mesmo nível educacional da classe média. E não terá acesso a quem dirige as empresas. .
Não há política pública específica que o apoie por se destacar. Ele está praticamente só. .
Quase não temos políticas que estimulem quem faz a coisa certa. Há muitos projetos para quem entra no desvio: o egresso da prisão, o drogado, aquele que se atrasou na escola. Está certo. Mas, se o cidadão realizou o que a sociedade esperava dele, nada. .A meritocracia é valor importante. De uma forma ou outra, é aplicada em muitas empresas.
Na universidade, há poucos programas de incentivo para quem se destaca. Porém, os melhores alunos acabam nos melhores empregos. Os melhores do Capão Redondo, da Vila Cruzeiro, da favela de Salvador, não. .Dizer que quem faz a coisa certa apenas cumpre com a obrigação é papo- furado.
Todo o mundo precisa de reconhecimento, carinho e incentivo pelos gols marcados. Ainda que naturais.
No mundo de hoje, carente de indivíduos honestos e dedicados, repleto de frustrações com a ética, por que não incentivar quem faz a coisa certa?
O jovem dos Jardins que se destaca na escola é premiado pela família ou por cursinhos ávidos em propagandear o índice de sucesso na aprovação em faculdades de grife. Por que não dar bolsa para curso pré-vestibular aos que se destacam nas escolas públicas em regiões carentes? Por que não bancar bolsa completa para a faculdade aos primeiros colocados dessas escolas?
O mesmo ocorre com quem paga impostos. Os sonegadores sempre têm um perdão e um Refis (Programa de Recuperação Fiscal) à disposição. Os que pagam impostos em dia não recebem qualquer desconto. Desconto que seria crescente se continuassem a pagar em dia, tornando-se um investimento do Estado nos bons pagadores. .Mas não. Para eles, só a lei dura e crua. Se atrasarem uma prestação, multa. Se passarem mais dez anos em dia, nada.
O Estado é pai para transgressores e padrasto para quem é correto. E seguimos a lamentar os malfeitos que jorram pelo noticiário.
Não faz sentido. Está na hora de premiar os que se destacam pela virtude.
Principalmente os mais pobres.
(*) Engenheiro Civil especializado em administração e gerenciamento
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