quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Carência de heróis ou fartura de ladrões?

Augusto Nunes (*) 

Terra+Brasilis_Augusto_Nunes.jpg (447×309)Brasileiro tem memória curta, logo esquece gatunagens protagonizadas por larápios influentes, concluíram os quadrilheiros do mensalão desde que Lula sobreviveu ao escândalo descoberto em 2005 e reelegeu-se no ano seguinte. 

Brasileiro vive engolindo sem engasgos caciques da tribo que rouba mas faz, acreditaram nos últimos sete anos os sócios do grande clube dos cafajestes disfarçado de Congresso e financiado pelo Planalto. 

A pátria de Macunaíma celebra heróis sem caráter desde a chegada das primeiras caravelas, provaram ensaios mambembes paridos por sociólogos com mais livros que neurônios na cabeça. 

No país do jeitinho, só otários de nascença agem honestamente, ensina desde o primeiro assalto aos cofres públicos o hino da Frente Nacional dos Ladrões, Vigaristas e Canalhas em Geral. 

A menos que a economia sofra algum enfarte, delinquentes de todos os partidos serão absolvidos pelas urnas mesmo se furtarem a poupança da avó ou o cofrinho da igreja da Candelária, garantiram analistas de pesquisas tão confiáveis quanto um parecer do consultor Palocci. 

Candidato que denuncia bandalheiras alheias fica com imagem de briguento e despenca nas pesquisas, descobriram marqueteiros que erram até na combinação terno-e-gravata. 

Combater a roubalheira nunca rendeu voto, o que decide eleição é programa de governo, endossou a oposição que não se opõe desde 2002. Melhor compor que lutar, vêm balbuciando poltrões promovidos a líderes oposicionistas por falta de coisa melhor: na Era da Mediocridade, os melhores e mais brilhantes são perseguidos como as ratazanas grávidas de Nelson Rodrigues. 

A Ópera dos Embusteiros seguiria seu curso se um juiz de verdade não atravessasse a partitura com a protofonia da Constituição e os acordes do Código Penal. 

Designado relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa limitou-se a cumprir seu dever. Analisou provas, evidências e depoimentosas, examinou os argumentos das partes envolvidas, enxergou as coisas como as coisas são, contou o caso como o caso foi, eviscerou o esquema criminoso e, amparado na lei, deixou claro que corrupção dá cadeia. 

Tanto bastou para virar celebridade nacional, atesta o segundo vídeo estrelado pelo relator do mensalão, publicado na seção História em Imagens. A reação de milhões de brasileiros demonstra que o que parecia desinteresse era descrença. Muito mais que a carência de heróis, é a fartura de ladrões impunes que transformou Joaquim Barbosa em ídolo da imensidão de indignados. 

Sem ter feito mais que a obrigação, um ministro sem medo tornou-se campeão de popularidade. E o julgamento de José Dirceu nem começou. 

(*) Jornalista e Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes. Atualmente na Revista Veja

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