quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Desenvolvimento se faz com vontade


Antenor Pereira Giovannini (*)
Em meio a tantas crises o que mais se ouve é que devemos usá-las para aprender e principalmente sair delas mais fortalecidos encontrando soluções até mesmo para lucrar mais do que antes delas ocorrerem. Em resumo, usar a crise como demonstrações de capacidade, dinamismo, arrojo e criatividade.

Tudo isso pode ser válido em outras regiões. Lamentavelmente na nossa região o que se vê é descaso, desinteresse, omissão, preocupação tão somente política em todos os sentidos. Desenvolver o município, criar situações novas de comércio, gerar objetivos de crescimento socioeconômico, gerar mais chances de empregos para as centenas de jovens acadêmicos que a cada ano são lançados ao mercado de trabalho pelas diversas faculdades de nossa região e de nossa cidade, isso é utopia. Nada acontece e, o que é pior, nada muda. Apenas os nomes dos governantes, dos secretários, dos auxiliares, mas a situação ao invés de melhorar, piora inclusive com empresas deixando a cidade e se instalando em outros pólos.

O sentimento de desilusão e frustração aumenta quando se lê o caso de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul com pouco mais de sete mil habitantes e elevada à categoria de município em 1959, ou seja, com apenas 50 anos como município, de nome Faxinal do Soturno. Através de uma cooperativa de produtores, conseguiu exportar através de 20 containeres, 480 toneladas de arroz com destino à cidade de Valencia na Espanha via Porto do Rio Grande que dista uns bons pares de quilômetros dessa cidade. Fica a pergunta: em que estágio se encontra o pólo produtivo de Santarém que há poucos anos conseguiu produzir nada menos que dois milhões de sacas de arroz, passando de importador para exportador, criando várias beneficiadoras em seu entorno, gerando renda e empregos, e que principalmente fez o arroz custar R$ 0,50 o kg na gôndola do supermercado? 

Simplesmente foi reduzido a pó graças a uma série de fatores: ingerências de ambientalistas e ongueiros desocupados, falta de titularidade das terras e principalmente à falta de incentivo e apoio dos órgãos municipais. Não se viu o menor interesse das autoridades municipais em manter e fazer com que, de exportadores para outros estados, pudéssemos alçar vôos mais arrojados graças a um porto que nenhum estado tem tão perto da área de produção e principalmente, mais perto da área de consumo. Basta ver o mapa, localizarem os dois portos, o do Rio Grande e o de Santarém e fazer a comparação. Com a sensível redução de produção as beneficiadoras não tiveram como se segurar e fecharam ou foram embora. Vários perderam o emprego. E o que aconteceu com muitos produtores? 

Sucumbiram diante das multas astronômicas impostas pelos órgãos fiscalizadores, que ao invés de titularem quem de direito, regularizarem aqueles que comprovadamente deveriam ser regulados, e punir apenas aqueles que realmente merecessem, optaram pela irracional e cômoda decisão de colocar a todos no mesmo balaio aplicando multas desproporcionais e impossíveis de serem pagas, obrigando-os a abandonar suas terras. Os poucos heróis que ainda se aventuram a plantar alguma coisa lutam tão somente pela sobrevivência porque não há planos, não há uma política agrícola definida seja para pequenos, médios ou grandes produtores. Quadro inconcebível para quem tem na porta um dos maiores elos com o mundo permitindo que nossos produtos pudessem chegar aos mais diversos pontos desse mundo globalizado.

Temos ministérios e secretarias como, talvez nenhum outro país no planeta, mas, em contrapartida, não temos planejamento, não temos objetivos minimamente ambiciosos de sair dessa mesmice de falta de tudo e que obriga os que realmente produzem a andar de porta em porta tanto no âmbito estadual quanto no federal de chapéu na mão em busca de esmolas até mesmo para asfaltarmos uma rua. Não somos competentes para gerir nossos próprios recursos e encontrar soluções criativas como, por exemplo, desenvolver novas portas de comércio e conseqüentemente gerar renda e empregos buscando dentro de casa soluções como a que encontrou essa simples Cooperativa do interior do RS.
Isso, no entanto, não necessita apenas de recursos vindos de quem ou de onde quer que seja. Isso requer, sobretudo, vontade da parte de quem comanda as questões municipais. 

Desenvolvimento antes de tudo exige e depende do que está contido em uma só palavra: VONTADE.

(*) Aposentado e morador em Santarém




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