Blog do Josias
O Congresso inaugura neste domingo uma legislatura condenada a defrontar-se com um desastre definidor do seu caráter. Todos sabem que o petrolão, espécie de asteroide político, vai se chocar com a edificação de Oscar Niemeyer. Prestes a se tornar uma instituição ainda mais frágil num sistema político cada vez mais precário, o Parlamento vive seus últimos dias de ansiedade antes da explosão. E o que faz? Em vez de tentar salvar a alma, entrega-se aos seus vícios mais calhordas. Sem disfarces.
O primeiro ato dos congressistas após a posse será a eleição dos presidentes do Senado e da Câmara. A grande novidade do processo é a ausência de novidades. Ouve-se de tudo no Legislativo —do tilintar de verbas orçamentárias à oferta de cargos. Só não se escuta um debate consequente sobre a certeza do choque com o asteroide e a melhor maneira de evitar que as dezenas de ações que a Procuradoria moverá contra parlamentares no STF se converta numa desmoralização irreversível de uma classe já tão esculhambada.
No Senado, o favorito é Renan Calheiros, um político cuja reincidência tornou-se prova irrefutável da insanidade reinante na política brasileira —uma atividade em que prontuários são confundidos com biografias. Símbolo mais poderoso dessa vocação para a reabsolvição perpétua, Renan reivindica sua tetra presidência com o aval do PMDB e com as bênçãos de Dilma Rousseff. O rival Luiz Henrique, também peemedebista, vai à disputa como azarão.
Na Câmara, a mesma Dilma que conspira a favor de Renan faz cara de nojo para Eduardo Cunha, outro favorito do PMDB. Mobilizada pelo Planalto, uma infantaria de ministros promete mundos e, sobretudo, fundos aos deputados que se dispuserem a votar no petista Arlindo Chinaglia, vendido como herói da resistência, o único capaz de fazer da Câmara uma Casa “independente” do Executivo. Nessa dança de elefantes, Júlio Delgado (PSB) e Chico Alencar (PSOL), outros dois pseudo-concorrentes, fazem figuração.
O convívio com a certeza pré-anunciada do desastre não fez bem ao Congresso.
A instituição entregou-se de vez ao deboche. Ligou o botão de ‘dane-se’.
Difícil escolher uma metáfora para o que sucede no Legislativo.
Brincar de roleta-russa sobre um sumidouro talvez seja a descrição mais adequada.
(*) É jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na "Folha de S.Paulo" (foi repórter, diretor da Sucursal de Brasília)
O Congresso inaugura neste domingo uma legislatura condenada a defrontar-se com um desastre definidor do seu caráter. Todos sabem que o petrolão, espécie de asteroide político, vai se chocar com a edificação de Oscar Niemeyer. Prestes a se tornar uma instituição ainda mais frágil num sistema político cada vez mais precário, o Parlamento vive seus últimos dias de ansiedade antes da explosão. E o que faz? Em vez de tentar salvar a alma, entrega-se aos seus vícios mais calhordas. Sem disfarces.
O primeiro ato dos congressistas após a posse será a eleição dos presidentes do Senado e da Câmara. A grande novidade do processo é a ausência de novidades. Ouve-se de tudo no Legislativo —do tilintar de verbas orçamentárias à oferta de cargos. Só não se escuta um debate consequente sobre a certeza do choque com o asteroide e a melhor maneira de evitar que as dezenas de ações que a Procuradoria moverá contra parlamentares no STF se converta numa desmoralização irreversível de uma classe já tão esculhambada.
No Senado, o favorito é Renan Calheiros, um político cuja reincidência tornou-se prova irrefutável da insanidade reinante na política brasileira —uma atividade em que prontuários são confundidos com biografias. Símbolo mais poderoso dessa vocação para a reabsolvição perpétua, Renan reivindica sua tetra presidência com o aval do PMDB e com as bênçãos de Dilma Rousseff. O rival Luiz Henrique, também peemedebista, vai à disputa como azarão.
Na Câmara, a mesma Dilma que conspira a favor de Renan faz cara de nojo para Eduardo Cunha, outro favorito do PMDB. Mobilizada pelo Planalto, uma infantaria de ministros promete mundos e, sobretudo, fundos aos deputados que se dispuserem a votar no petista Arlindo Chinaglia, vendido como herói da resistência, o único capaz de fazer da Câmara uma Casa “independente” do Executivo. Nessa dança de elefantes, Júlio Delgado (PSB) e Chico Alencar (PSOL), outros dois pseudo-concorrentes, fazem figuração.
O convívio com a certeza pré-anunciada do desastre não fez bem ao Congresso.
A instituição entregou-se de vez ao deboche. Ligou o botão de ‘dane-se’.
Difícil escolher uma metáfora para o que sucede no Legislativo.
Brincar de roleta-russa sobre um sumidouro talvez seja a descrição mais adequada.
(*) É jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na "Folha de S.Paulo" (foi repórter, diretor da Sucursal de Brasília)
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