Bellini Tavares de Lima Neto (*)
Curiosamente, fala-se mais agora na chamada ditadura militar que quando ela ainda era de recente término. E as críticas giram, quase que sempre, em torno de alguns poucos temas que se repetem: falta de liberdade de expressão por conta da censura, corrupção nas obras públicas, informações distorcidas a respeito da situação do país, torturas, repressão e por aí afora.
Eu vivi esse tempo. Sou antigo, muito antigo. E confesso que, em alguns momentos, olho em volta de mim mesmo e tenho a impressão que continuo com 20 anos.
Não fossem os cabelos brancos, a barriga, a falta de lepidez física e outras particularidades igualmente faltantes, eu seria capaz de apostar que ainda frequento a velha PUC, lá na Rua Monte , alegre e sonho em me tornar um compositor da MPB.
Leio nos jornais que, em certo momento, um ex-presidente simplesmente ignorou uma recomendação vinda do Tribunal de Contas e aprovou uma certa medida que acabou favorecendo um setor hoje envolvido num escândalo de arrepiar.
E me recordo de quando os homens de farda resolveram que para sair do pais era necessário fazer um depósito em dinheiro. Alguém entendeu que aquilo era ilegal e resolveu impetrar um Mandado de Segurança. O juiz concedeu a segurança, o cidadão foi à Policia Federal obter seu passaporte e recebeu um sonoro “não” pela cara.
Tribunal não manda nada.
Vejo nos bravos periódicos e nas redes sociais que alguns delegados de policia andaram criticando a presidente em exercício, especialmente durante o período pré-eleitoral.
A digníssima foi reeleita e, passado o vendaval, vejo, nos mesmos bravos periódicos e redes sociais que os ais delegados serão objeto de investigação.
E, ato contínuo, me vem à lembrança as páginas e páginas dos jornais contendo receitas de bolo ou trechos de poemas no lugar das noticias censuradas.
Falem mal, mas NÃO falem mal de mim.
Vejo nos jornais que durante todo o período eleitoral, os dados da economia foram subtraídos do conhecimento público. Vejo mais que as autoridades responsáveis por isso se utilizam de um expediente mais do que ardiloso: a maquiagem dos balanços.
Vejo, mais recentemente que o governo federal deseja fazer aprovar uma lei alterando, no final do ano, as regras referentes a determinadas metas econômicas que o desempenho não atingiu. E, subitamente, me volta à lembrança um antigo ministro da fazenda dos tempos verde oliva que afirmou que a inflação era algo em torno de 10% ou 11%. Mas, isso ele fazia porque eram tempos autoritários.
Pois é. Bem, a noite está chegando, vou passar a mão na viola e sair para a rua.
Sempre pode aparecer uma chance de se tocar e cantar em algum lugarzinho legal.
Ou, quem sabe, surge uma gatinha, a gente dá uma fugida até o Ibirapuera para namorar.
(*) Advogado, avô e morador em São Bernardo do Campo (SP)
Curiosamente, fala-se mais agora na chamada ditadura militar que quando ela ainda era de recente término. E as críticas giram, quase que sempre, em torno de alguns poucos temas que se repetem: falta de liberdade de expressão por conta da censura, corrupção nas obras públicas, informações distorcidas a respeito da situação do país, torturas, repressão e por aí afora.
Eu vivi esse tempo. Sou antigo, muito antigo. E confesso que, em alguns momentos, olho em volta de mim mesmo e tenho a impressão que continuo com 20 anos.
Não fossem os cabelos brancos, a barriga, a falta de lepidez física e outras particularidades igualmente faltantes, eu seria capaz de apostar que ainda frequento a velha PUC, lá na Rua Monte , alegre e sonho em me tornar um compositor da MPB.
Leio nos jornais que, em certo momento, um ex-presidente simplesmente ignorou uma recomendação vinda do Tribunal de Contas e aprovou uma certa medida que acabou favorecendo um setor hoje envolvido num escândalo de arrepiar.
E me recordo de quando os homens de farda resolveram que para sair do pais era necessário fazer um depósito em dinheiro. Alguém entendeu que aquilo era ilegal e resolveu impetrar um Mandado de Segurança. O juiz concedeu a segurança, o cidadão foi à Policia Federal obter seu passaporte e recebeu um sonoro “não” pela cara.
Tribunal não manda nada.
Vejo nos bravos periódicos e nas redes sociais que alguns delegados de policia andaram criticando a presidente em exercício, especialmente durante o período pré-eleitoral.
A digníssima foi reeleita e, passado o vendaval, vejo, nos mesmos bravos periódicos e redes sociais que os ais delegados serão objeto de investigação.
E, ato contínuo, me vem à lembrança as páginas e páginas dos jornais contendo receitas de bolo ou trechos de poemas no lugar das noticias censuradas.
Falem mal, mas NÃO falem mal de mim.
Vejo nos jornais que durante todo o período eleitoral, os dados da economia foram subtraídos do conhecimento público. Vejo mais que as autoridades responsáveis por isso se utilizam de um expediente mais do que ardiloso: a maquiagem dos balanços.
Vejo, mais recentemente que o governo federal deseja fazer aprovar uma lei alterando, no final do ano, as regras referentes a determinadas metas econômicas que o desempenho não atingiu. E, subitamente, me volta à lembrança um antigo ministro da fazenda dos tempos verde oliva que afirmou que a inflação era algo em torno de 10% ou 11%. Mas, isso ele fazia porque eram tempos autoritários.
Pois é. Bem, a noite está chegando, vou passar a mão na viola e sair para a rua.
Sempre pode aparecer uma chance de se tocar e cantar em algum lugarzinho legal.
Ou, quem sabe, surge uma gatinha, a gente dá uma fugida até o Ibirapuera para namorar.
(*) Advogado, avô e morador em São Bernardo do Campo (SP)
Perfeito texto, como sempre. Vão-se os dedos e ficam os anéis.
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