sábado, 19 de fevereiro de 2011

Um Salve Geral!

Bellini Tavares de Lima Neto (*)

Fala aí, garotão! Por questão de 5 dias você não chegava no mesmo dia que eu. Com uns aninhos de diferença, é bem verdade, mas quem liga prá isso? Você está chegando num tempo em que quase tudo é muito melhor. E se alguém vier com uma conversa de que, “ah, no meu tempo”, não ligue, não dê atenção. Isso é pura conversa de saudosista e, cá entre nós, não tem nada mais chato. Aliás, até tem, sim. Horário político na televisão é pior. Mas você ainda vai ter muito tempo prá se aborrecer com isso.

Realmente, havia umas poucas coisinhas lá por quando eu cheguei que, talvez, possam trazer alguma saudade. Soltar pipa sem se preocupar com cerol, jogar bolinha de gude, rodar pião “à ganha”, bater uma bafinha, essas coisas eu acho que você não vai ter agora, não. Mas, não se pode ter tudo. Isso é uma coisa importante: não ficar se lamentando porque não tem isto ou aquilo. Além do mais, não se preocupe. Você vai ver o tanto de coisas fascinantes que existem agora. Na primeira vez que você entrar na “internet” e descobrir que pode navegar como se estivesse num balão do Julio Verne, dando a volta ao mundo em segundos, nada daquilo lá em cima vai fazer a menor diferença.

Esse, aliás, foi um sujeito interessante. Julio Verne. Sim, porque eu estou aqui falando de coisas do passado, o que é muito fácil. E o tal Verne falava do futuro, do que sonhava acontecer lá adiante. E adivinha só. Uma porção de coisas aconteceu, mesmo. Isso é coisa da raça humana, uma racinha esquisita que tanto é capaz de maravilhas como essas e, em seguida, de fazer umas outras coisas de deixar a gente com vontade de pedir para o mundo parar e descer. Mas, daqui a pouco, você vai estar se deparando com essas coisas.
Deus queira que você não tenha que ver muito disso, que é a parte ruim da raça. Ou pelo menos, que veja pouco, que essa banda escura e muito assustadora vá diminuindo enquanto você vai avançando vida a fora. Pois esse lado penoso da espécie bem podia desaparecer. 

Quem sabe, um dia, isso que mais parece doença, se cure. Quem sabe apareça um remédio, uma vacina que afaste de uma vez por todas esses desatinos e tudo fique parecido com um dia nascendo. Não quero te preocupar, mas a tua geração tem um bocado a fazer por conta disso, já que a nossa...
Este nosso mundão tem coisas muito bonitas. É pena que essa mesma turma que o habita e é capaz de obras magistrais (você vai ver só as sete maravilhas e elas são nada comparado com todo o resto) também resolveu que não é parte dele. Pois é, nós só temos este planeta, ao menos por enquanto e, ainda assim, o tratamos como se fôssemos donos de uma porção deles que, se um estragar, é só mudar para outro. Seria muito bom se essa turma criasse juízo. Se não por outra razão, ao menos para que você, que acabou de chegar, também tenha a mesma chance dos que vieram antes, de ver essa beleza toda.


Rir é outra coisa boa. Logo, logo você vai começar a dar suas risadas. No começo, acho eu, não vai ter muita graça para você mesmo. Mas, o pessoal à tua volta, ah, esse vai se emocionar de um jeito que é até difícil de explicar. Cada risada tua vai pintar a alma dos que estiverem a tua volta de cores que só devem existir nas planícies do Paraíso. Essas, eu acho, nem nas auroras, nem nos crepúsculos, nos raios de sol se refletindo nas superfícies dos rios e dos mares, alguém vai ser capaz de encontrar. Essas cores que vão colorir as almas diante das tuas risadas, só mesmo os olhos do coração podem ver.
Isso, porém, é só no começo. À medida que você continuar a rir e começar a perceber o efeito que isso causa, aí vai tomar gosto pela coisa. E rir é bom, abre os poros da alma, deixa saírem dela as impurezas que o coração vive captando. Mas, ao se preocupe com essa história de impurezas. Por enquanto, só ria, ri muito e se acostume a rir. Quanto mais alto, melhor, mais natural, mais profilático contra rugas e cenhos franzidos. É claro que anda é cedo para se preocupar com essas coisas, mas esse tempo corre tanto que, quanto mais cedo começar, melhor.

Conheço essa turminha que te recebeu. Especialmente esses dois, um de cabelos brancos, ou, pelo menos, os que sobraram (não vou falar nada dos cabelos da companheira dele, porque, vai aprendendo, tem coisas que a gente não pergunta às mulheres. Elas são maravilhosas, mas de manejo um pouco complicado. Se não souber lidar direitinho com elas, é igual computador: desconfigura tudo e para arrumar depois, haja talento. Portanto, cabelos brancos, só os homens tem). Mas eu conheço bem os dois e posso te garantir: você é um cara de sorte. Não podia ter escolhido melhor. E, por uma questão de lógica (não se preocupe, logo você vai aprender o que é isso), se os dois são desse calibre, o que eles geraram só podia ser igual. Esse moço que, logo, logo, você vai identificar, a quem você vai encher tanto de orgulho que é capaz de ele até ganhar um peso a mais, esse moço saiu aos dois. E você já reparou em como é bonita essa moça que te trouxe até aqui? Essa, você nem é pode imaginar do que ela vai ser capaz por você. Uau, moço, você está com tudo.
O mais importante nisso tudo, meu caro, não é nada dessa minha conversa comprida e complicada. O mais importante, mesmo, é ver os sorrisos estampados nos rostos de toda essa turminha e o milagre que isso significa. Você, meu caro, está aí para materializar, mais uma vez, esse milagre que é o da perpetuação da vida. Com você chegam esperanças, energias, luz vital e isso vai mudar tudo por aí. Essa gente toda que está a tua volta nasceu um pouquinho de novo com você. E, à medida que você for desabrochando, esse jardim refloresce, se multiplica, espalha perfume e seiva, os componentes para que a aventura mais fascinante de todas possa prosseguir. Eu que estou de longe mas que recebo os reflexos dessa gênese, te agradeço também.

Bem vindo, rapaz!

(*) Advogado , morador em S. Bernardo do Campo (SPO).
Escreve para o site O Dia Nosso De Cada Dia - http: blcon.wordpress.com.

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