Veja SP
Poucos personagens no mundo dos restaurantes foram tão célebres quanto Giovanni Bruno em seu tempo. Entre as décadas de 1960 e 1980, ele reinou como um dos mais atenciosos maîtres-cozinheiros da cidade.
Pura simpatia, esse italiano de Salerno conquistava a atenção de quem passasse pelo restaurante Gigetto, onde ele trabalhou logo que chegou a São Paulo, e também nas cantinas que montou na cidade, a última delas, o Il Sogno di Anarello, na Vila Mariana. Giovanni Bruno morreu hoje pela manhã, no centenário do Palestra Itália, seu time de adoração. Anarello, como era tratado por amigos, tinha problemas no coração e estava internado no Incor desde 18 de agosto.
Ontem, sofreu seis paradas cardíacas consecutivas. Não resistiu e faleceu hoje pela manhã aos 78 anos de falência múltipla de órgãos.
“Ainda não pensei o que fazer com o restaurante. Achei que ele fosse sair dessa”, diz a filha única, Solange Antonia Bruno Piva. “ Se continuarmos, será pela história que temos lá, pelos nossos funcionários.” Bruno deixa a viúva Cecilia, filha de italianos e espanhóis nascida no Ipiranga, e os netos Giovanni e Letícia.
Praticamente expulso de uma Itália depauperada pela II Guerra Mundial, esse imigrante escolheu São Paulo como destino. Como tantos outros imigrantes, queria fazer a América. Chegou em companhia do pai e se instalou em um cortiço da Pompeia como contou na autobiografia Giovanni Bruno …aos nossos momentos. Dono de uma lábia e uma devoção ao trabalho incríveis, conseguiu emprego como ajudante de cozinha no Gigetto, na época um dos restaurantes mais concorridos da cidade. Ao rapaz de então 15 anos cabiam tarefas árduas como lavar pratos e descascar batatas. Com o tempo, o jovenzinho passou a fracionar e pesar o azeite levado às mesas, considerado artigo de luxo na época. Só depois de uma década conseguiu o posto de garçom.
Dono de uma gentileza contagiante, conquistou os clientes que queriam ser servidos por ele. Era uma época em que os pratos eram montados na mesa, alguns deles inclusive finalizados no salão. Justamente por causa de um desses fregueses, que pediu um algo especial, atribui-se a Bruno a criação da mais emblemática receita da cozinha ítalo-paulista: o molho à romanesca.
Embora faça uma referência à capital italiana, a mistura foi inventada a quase 10.000 quilômetros de Roma e não existe por lá. Tem como base o creme branco ao qual se adicionavam e continuam se adicionando os produtos “chiques” da época, todos saídos de latinhas: creme de leite, cogumelo-de-paris, petits pois (por favor, nada de chamar as leguminosas verdes de ervilha), além de presunto cozido cortado em cubinhos.
Como a possibilidade de ascensão no Gigetto era remota, no fim dos anos 1960 junto com três outros garçons Bruno decidiu abrir uma casa com seu nome, tamanha a popularidade tida por ele com a clientela. O quarteto comprou a Cantina do Júlio, que ficava na Rua 13 de Maio. A festa de inauguração, em 20 de dezembro de 1967, foi retratada no Jornal da Tarde, mereceu chamada de capa com foto.
O sucesso não durou muito, ao menos nesse endereço. Ele e seus sócios tinham 60 dias para deixar o ponto, a ser demolido para ampliação da rua. Acabaram perdendo tudo. Passaram depois por imóveis nas ruas Santo Antônio e Martinho Prado, ambas na Bela Vista. Em 1979, transferiu-se para os Jardins, onde adotou o nome Il Sogno di Anarello, apelido que ganhara do diretor teatral Antunes Filho anos antes. O aluguel, muito caro, o empurrou para um imóvel próprio na Rua Timbuí, 58, na Vila Mariana, no fim de 1983, onde está até hoje. Quatro anos mais tarde, a pedido de alguns vereadores, o então prefeito Jânio Quadros rebatizou a rua com o nome do restaurante. Até essa época, Bruno tinha tratamento de astro.
Com a morte de Bruno, uma era, ao mesmo tempo simples e glamourosa na história dos restaurantes paulistanos, desaparece com ele.
Poucos personagens no mundo dos restaurantes foram tão célebres quanto Giovanni Bruno em seu tempo. Entre as décadas de 1960 e 1980, ele reinou como um dos mais atenciosos maîtres-cozinheiros da cidade.
Pura simpatia, esse italiano de Salerno conquistava a atenção de quem passasse pelo restaurante Gigetto, onde ele trabalhou logo que chegou a São Paulo, e também nas cantinas que montou na cidade, a última delas, o Il Sogno di Anarello, na Vila Mariana. Giovanni Bruno morreu hoje pela manhã, no centenário do Palestra Itália, seu time de adoração. Anarello, como era tratado por amigos, tinha problemas no coração e estava internado no Incor desde 18 de agosto.
Ontem, sofreu seis paradas cardíacas consecutivas. Não resistiu e faleceu hoje pela manhã aos 78 anos de falência múltipla de órgãos.
“Ainda não pensei o que fazer com o restaurante. Achei que ele fosse sair dessa”, diz a filha única, Solange Antonia Bruno Piva. “ Se continuarmos, será pela história que temos lá, pelos nossos funcionários.” Bruno deixa a viúva Cecilia, filha de italianos e espanhóis nascida no Ipiranga, e os netos Giovanni e Letícia.
Praticamente expulso de uma Itália depauperada pela II Guerra Mundial, esse imigrante escolheu São Paulo como destino. Como tantos outros imigrantes, queria fazer a América. Chegou em companhia do pai e se instalou em um cortiço da Pompeia como contou na autobiografia Giovanni Bruno …aos nossos momentos. Dono de uma lábia e uma devoção ao trabalho incríveis, conseguiu emprego como ajudante de cozinha no Gigetto, na época um dos restaurantes mais concorridos da cidade. Ao rapaz de então 15 anos cabiam tarefas árduas como lavar pratos e descascar batatas. Com o tempo, o jovenzinho passou a fracionar e pesar o azeite levado às mesas, considerado artigo de luxo na época. Só depois de uma década conseguiu o posto de garçom.
Dono de uma gentileza contagiante, conquistou os clientes que queriam ser servidos por ele. Era uma época em que os pratos eram montados na mesa, alguns deles inclusive finalizados no salão. Justamente por causa de um desses fregueses, que pediu um algo especial, atribui-se a Bruno a criação da mais emblemática receita da cozinha ítalo-paulista: o molho à romanesca.
Embora faça uma referência à capital italiana, a mistura foi inventada a quase 10.000 quilômetros de Roma e não existe por lá. Tem como base o creme branco ao qual se adicionavam e continuam se adicionando os produtos “chiques” da época, todos saídos de latinhas: creme de leite, cogumelo-de-paris, petits pois (por favor, nada de chamar as leguminosas verdes de ervilha), além de presunto cozido cortado em cubinhos.
Como a possibilidade de ascensão no Gigetto era remota, no fim dos anos 1960 junto com três outros garçons Bruno decidiu abrir uma casa com seu nome, tamanha a popularidade tida por ele com a clientela. O quarteto comprou a Cantina do Júlio, que ficava na Rua 13 de Maio. A festa de inauguração, em 20 de dezembro de 1967, foi retratada no Jornal da Tarde, mereceu chamada de capa com foto.
O sucesso não durou muito, ao menos nesse endereço. Ele e seus sócios tinham 60 dias para deixar o ponto, a ser demolido para ampliação da rua. Acabaram perdendo tudo. Passaram depois por imóveis nas ruas Santo Antônio e Martinho Prado, ambas na Bela Vista. Em 1979, transferiu-se para os Jardins, onde adotou o nome Il Sogno di Anarello, apelido que ganhara do diretor teatral Antunes Filho anos antes. O aluguel, muito caro, o empurrou para um imóvel próprio na Rua Timbuí, 58, na Vila Mariana, no fim de 1983, onde está até hoje. Quatro anos mais tarde, a pedido de alguns vereadores, o então prefeito Jânio Quadros rebatizou a rua com o nome do restaurante. Até essa época, Bruno tinha tratamento de astro.
Com a morte de Bruno, uma era, ao mesmo tempo simples e glamourosa na história dos restaurantes paulistanos, desaparece com ele.
Puxa não sabia ... realmente um grande maitre ..
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