Opinião do Estadão
Como velho político, Lula parece ter entendido o recado de que a população quer outra política. Mudou, então, a sua prática política? Não. Simplesmente mudou o discurso, mantendo a sua velha estratégia. Falar mal da política, mas continuar atuando como uma felpuda raposa política.
Em recente vídeo para jovens, divulgado pelo seu instituto - que é um dos polos coordenadores da campanha da reeleição de Dilma -, o ex-presidente propôs uma reforma política feita por iniciativa popular que acabe com "partidos laranja" e "partidos de aluguel". Ele deseja "um projeto de lei que possa mudar substancialmente a política brasileira, ter partidos mais sérios, acabar com os partidos laranjas, os partidos de aluguel, acabar com partidos que utilizam seu tempo para fazer negócio".
Nem parece ser ele quem manda no Partido dos Trabalhadores (PT), partido que, nos últimos meses, promoveu uma das mais profícuas trocas entre cargos de confiança no governo federal por tempo de propaganda política na TV. A população está cansada é dessa hipocrisia: o maior promotor - e maior beneficiário - do sistema político atual pregando virtuosamente a sua reforma.
Com o mesmo descaramento, como se o PT não tivesse sido o partido que mais recebeu doações de empresas privadas nos últimos anos, Lula afirmou que é "radicalmente" contra o financiamento privado de campanha. E ainda expôs os seus motivos.
Segundo o político Lula, o financiamento público "é a forma mais honesta na face da terra de financiar uma campanha para não permitir que os empresários tenham influência na eleição da pessoa".
No site do Instituto Lula, ao lado do vídeo, está ainda a notícia de que empresários organizaram um jantar em homenagem "às realizações de seu governo" em 2011.
Vê-se que o homenageado muito se orgulha desse tributo, mantendo-o em destaque durante anos. Como se o seu governo não tivesse produzido o maior escândalo de corrupção do Brasil contemporâneo, defendeu a fiscalização para garantir a transparência no uso dos recursos pelo partido. Quer também um projeto de lei de iniciativa popular "que possa mudar substancialmente a política brasileira".
Se houvesse de fato essa disposição, bastaria pedir ao seu partido, que conta com ampla maioria no Congresso, para que a realize. Mas isso nem de longe é a sua intenção.
No vídeo, ele simplesmente atua como o mais político dos políticos, e ainda trata o espectador como um ignorante da realidade política nacional.
Num esforço por se mostrar próximo da população, o ex-presidente Lula reconheceu que não são apenas os jovens que estão desencantados com a política, mas toda a sociedade.
E afirmou: "A política está apodrecida, aqui no Brasil e em várias partes do mundo, porque há uma negação, uma rejeição a político". A política está apodrecida não pela rejeição da população. Isso é um dos efeitos do problema. A política está apodrecida porque políticos, como o ex-presidente, que se dizem "modernos", continuam fazendo o que faziam os coronéis que condenam.
Para completar coerentemente a miríade de incoerências, Lula disse ainda que, numa eventual reforma política, apoiará o voto em lista. Cada eleitor votaria no partido, e não em candidatos específicos. Segundo o ex-presidente, seria um avanço, já que "o deputado não pode ser um deputado avulso, tem que ser um deputado do partido".
Ora, o mais personalista dos políticos diz que prefere voto no partido?
E diz isso na mesma semana em que Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, afirmou que é candidato a deputado federal pelo PT simplesmente por causa da insistência de Lula, que conta com Sanchez para alavancar outros candidatos petistas, já que os tradicionalmente "bons de voto" do PT em São Paulo estão na cadeia.
A incoerência de Lula não é nova, mas há um ponto que preocupa especialmente.
Dilma falou em assembleia constituinte para uma reforma política quando começou a perder o jogo na opinião pública, após as manifestações de junho de 2013.
Lula volta agora ao mesmo tema, numa época em que a cada semana a popularidade da candidata é abalada.
Seria isso um sinal de que o lulo-dilmismo quer mudar as regras do jogo justamente no momento em que o seu time começa a ficar atrás no placar?
Como velho político, Lula parece ter entendido o recado de que a população quer outra política. Mudou, então, a sua prática política? Não. Simplesmente mudou o discurso, mantendo a sua velha estratégia. Falar mal da política, mas continuar atuando como uma felpuda raposa política.
Em recente vídeo para jovens, divulgado pelo seu instituto - que é um dos polos coordenadores da campanha da reeleição de Dilma -, o ex-presidente propôs uma reforma política feita por iniciativa popular que acabe com "partidos laranja" e "partidos de aluguel". Ele deseja "um projeto de lei que possa mudar substancialmente a política brasileira, ter partidos mais sérios, acabar com os partidos laranjas, os partidos de aluguel, acabar com partidos que utilizam seu tempo para fazer negócio".
Nem parece ser ele quem manda no Partido dos Trabalhadores (PT), partido que, nos últimos meses, promoveu uma das mais profícuas trocas entre cargos de confiança no governo federal por tempo de propaganda política na TV. A população está cansada é dessa hipocrisia: o maior promotor - e maior beneficiário - do sistema político atual pregando virtuosamente a sua reforma.
Com o mesmo descaramento, como se o PT não tivesse sido o partido que mais recebeu doações de empresas privadas nos últimos anos, Lula afirmou que é "radicalmente" contra o financiamento privado de campanha. E ainda expôs os seus motivos.
Segundo o político Lula, o financiamento público "é a forma mais honesta na face da terra de financiar uma campanha para não permitir que os empresários tenham influência na eleição da pessoa".
No site do Instituto Lula, ao lado do vídeo, está ainda a notícia de que empresários organizaram um jantar em homenagem "às realizações de seu governo" em 2011.
Vê-se que o homenageado muito se orgulha desse tributo, mantendo-o em destaque durante anos. Como se o seu governo não tivesse produzido o maior escândalo de corrupção do Brasil contemporâneo, defendeu a fiscalização para garantir a transparência no uso dos recursos pelo partido. Quer também um projeto de lei de iniciativa popular "que possa mudar substancialmente a política brasileira".
Se houvesse de fato essa disposição, bastaria pedir ao seu partido, que conta com ampla maioria no Congresso, para que a realize. Mas isso nem de longe é a sua intenção.
No vídeo, ele simplesmente atua como o mais político dos políticos, e ainda trata o espectador como um ignorante da realidade política nacional.
Num esforço por se mostrar próximo da população, o ex-presidente Lula reconheceu que não são apenas os jovens que estão desencantados com a política, mas toda a sociedade.
E afirmou: "A política está apodrecida, aqui no Brasil e em várias partes do mundo, porque há uma negação, uma rejeição a político". A política está apodrecida não pela rejeição da população. Isso é um dos efeitos do problema. A política está apodrecida porque políticos, como o ex-presidente, que se dizem "modernos", continuam fazendo o que faziam os coronéis que condenam.
Para completar coerentemente a miríade de incoerências, Lula disse ainda que, numa eventual reforma política, apoiará o voto em lista. Cada eleitor votaria no partido, e não em candidatos específicos. Segundo o ex-presidente, seria um avanço, já que "o deputado não pode ser um deputado avulso, tem que ser um deputado do partido".
Ora, o mais personalista dos políticos diz que prefere voto no partido?
E diz isso na mesma semana em que Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, afirmou que é candidato a deputado federal pelo PT simplesmente por causa da insistência de Lula, que conta com Sanchez para alavancar outros candidatos petistas, já que os tradicionalmente "bons de voto" do PT em São Paulo estão na cadeia.
A incoerência de Lula não é nova, mas há um ponto que preocupa especialmente.
Dilma falou em assembleia constituinte para uma reforma política quando começou a perder o jogo na opinião pública, após as manifestações de junho de 2013.
Lula volta agora ao mesmo tema, numa época em que a cada semana a popularidade da candidata é abalada.
Seria isso um sinal de que o lulo-dilmismo quer mudar as regras do jogo justamente no momento em que o seu time começa a ficar atrás no placar?
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