Danilo Venticinque (*)
Em meio ao desespero pelo colapso do futebol brasileiro e a euforia das últimas rodadas da Copa do Mundo, uma ótima notícia passou quase despercebida. Vale a pena retomá-la, agora que nos recuperamos da insanidade temporária. Graças a uma recomendação da Academia Americana de Pediatria (AAP), pediatras americanos passaram a orientar famílias sobre a importância da leitura. A indicação médica é que os pais leiam para seus filhos todos os dias. Vale principalmente para crianças pequenas, com menos de três anos.
A decisão foi tomada com base num estudo que afirma que a exposição à leitura desde cedo ajuda no desenvolvimento cerebral e melhora o desempenho escolar no futuro, além de estreitar os laços familiares. Numa reportagem da Folha de S.Paulo, pediatras brasileiros afirmam que também vão aderir à recomendação. Se isso se confirmar, a experiência pode ser transformadora para a leitura no país.
Não só por formar leitores desde a infância, mas também (e talvez principalmente) por incentivar os pais a retomar o contato com os livros.
Ao mirar na educação das crianças, sem dúvida uma boa causa por si só, os pediatras podem ajudar a resolver um problema crônico dos adultos.
Segundo a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, de 2012, mais da metade da população brasileira é de não-leitores: pessoas que não leram nenhum livro nos últimos três meses. Apenas 16% desses não-leitores são estudantes.
O verdadeiro desastre está entre as pessoas que já pararam de estudar: 84% dos não-leitores estão nessa categoria. A média de livros lidos também diminui a medida que a idade adulta chega. Crianças de 5 a 10 anos leem 5,4 livros livros por ano.
Dos 11 aos 13, a média aumenta ainda mais e chega aos 6,9. O número desaba a partir dos 18 anos, com o fim do Ensino Médio, e continua a cair com a idade.
Na faixa dos 40 aos 49 anos, por exemplo, a média é de dois livros lidos por ano – menos de um terço da média entre os pré-adolescentes.
Os números indicam que as escolas até conseguem criar algum interesse pela leitura entre as crianças. Quando surgem novas responsabilidades, como trabalhar e criar os filhos, os livros são deixados de lado.
Ao transformar a leitura diária com os filhos em prescrição médica, os pediatras darão aos pais um novo incentivo para redescobrir o prazer da leitura.
Como se não bastassem todos os benefícios ao desenvolvimento intelectual dos bebês, a recomendação pode criar algo ainda mais duradouro: famílias que têm o hábito de ler. Uma criança que cresce entre livros e vê seus pais lendo tem tudo para se tornar um pai que também lê para seus filhos – com ou sem recomendação médica.
(*) Editor da Revista Época
Em meio ao desespero pelo colapso do futebol brasileiro e a euforia das últimas rodadas da Copa do Mundo, uma ótima notícia passou quase despercebida. Vale a pena retomá-la, agora que nos recuperamos da insanidade temporária. Graças a uma recomendação da Academia Americana de Pediatria (AAP), pediatras americanos passaram a orientar famílias sobre a importância da leitura. A indicação médica é que os pais leiam para seus filhos todos os dias. Vale principalmente para crianças pequenas, com menos de três anos.
A decisão foi tomada com base num estudo que afirma que a exposição à leitura desde cedo ajuda no desenvolvimento cerebral e melhora o desempenho escolar no futuro, além de estreitar os laços familiares. Numa reportagem da Folha de S.Paulo, pediatras brasileiros afirmam que também vão aderir à recomendação. Se isso se confirmar, a experiência pode ser transformadora para a leitura no país.
Não só por formar leitores desde a infância, mas também (e talvez principalmente) por incentivar os pais a retomar o contato com os livros.
Ao mirar na educação das crianças, sem dúvida uma boa causa por si só, os pediatras podem ajudar a resolver um problema crônico dos adultos.
Segundo a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, de 2012, mais da metade da população brasileira é de não-leitores: pessoas que não leram nenhum livro nos últimos três meses. Apenas 16% desses não-leitores são estudantes.
O verdadeiro desastre está entre as pessoas que já pararam de estudar: 84% dos não-leitores estão nessa categoria. A média de livros lidos também diminui a medida que a idade adulta chega. Crianças de 5 a 10 anos leem 5,4 livros livros por ano.
Dos 11 aos 13, a média aumenta ainda mais e chega aos 6,9. O número desaba a partir dos 18 anos, com o fim do Ensino Médio, e continua a cair com a idade.
Na faixa dos 40 aos 49 anos, por exemplo, a média é de dois livros lidos por ano – menos de um terço da média entre os pré-adolescentes.
Os números indicam que as escolas até conseguem criar algum interesse pela leitura entre as crianças. Quando surgem novas responsabilidades, como trabalhar e criar os filhos, os livros são deixados de lado.
Ao transformar a leitura diária com os filhos em prescrição médica, os pediatras darão aos pais um novo incentivo para redescobrir o prazer da leitura.
Como se não bastassem todos os benefícios ao desenvolvimento intelectual dos bebês, a recomendação pode criar algo ainda mais duradouro: famílias que têm o hábito de ler. Uma criança que cresce entre livros e vê seus pais lendo tem tudo para se tornar um pai que também lê para seus filhos – com ou sem recomendação médica.
(*) Editor da Revista Época
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