terça-feira, 29 de julho de 2014

Mistérios da Saúde Masculina

Mônica Tarantino (*) 

Estudo inédito da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), realizado em parceria com a indústria farmacêutica Bayer, revelou que 51% dos homens não vão ao médico com regularidade para manter uma rotina de exames preventivos e ignoram informações que poderiam ajudar a conservar a saúde. O trabalho avaliou as respostas de 3.500 homens acima de 40 anos em sete cidades brasileiras. Estima-se que a população masculina brasileira seja de 95 milhões, um terço deles acima dos 40 anos (PNAD/IBGE, 2011). 

Os resultados dessa pesquisa permitem algumas reflexões e conclusões. 
Se um em cada dois brasileiros acima dos 40 anos evita conferir o estado geral e o funcionamento do corpinho de vez em quando, significa que apostam na sorte em vez de usar os recursos disponíveis para se prevenir e evitar que o colesterol ou a pressão arterial elevada evoluam sem controle até causar danos ao organismo. O mesmo vale para aqueles que se sentem constrangidos diante de alguma disfunção sexual. 
Segundo os especialistas, ainda são minoria os homens que conversam com médicos, com as mulheres ou amigos sobre o tema antes que se torne por demais evidente ou passe a se repetir. 

Mais um dado do levantamento da SBU é que 83% dos homens desconhecem os possíveis sintomas da andropausa. Ela pode atingir até 20% dos homens acima dos 45 anos. Corresponde a uma queda vertiginosa na produção de testosterona, o hormônio responsável pelas características masculinas. Quando isso ocorre, há falta de desejo sexual, perda de massa óssea e cansaço exagerado, entre outros sinais. 
É fundamental diferenciar essa condição da queda natural na quantidade da testosterona sentida a partir dos 40 anos, mas de apenas 1% por ano, na média. 
No Brasil, não faz muito tempo, médicos denunciaram o consumo exagerado de testosterona por causa de modismos que conduzem ao entendimento errado do termo andropausa, ao diagnóstico equivocado (há problemas como tumores que causam sintomas parecidos) e ao consumo indevido de remédios. 

Também chamou minha atenção um comentário do médico Carlos Corradi, presidente da SBU, sobre os homens que chegam até o consultório do urologista.
"Dos que vão ao médico, 90% são levados pela companheira. Nesse ponto, a participação da mulher é muito importante. Elas têm papel preponderante na prevenção de doenças como o câncer de próstata", observa o médico. Apesar de não ser novidade que as mulheres se empenham em fazer os homens ao seu redor cuidarem da saúde, essa observação me deixou assustada. É transferência de responsabilidade demais para as mulheres. No limite, significa empreender, ainda que à revelia, o cuidado constante com a saúde do outro para que ele tenha boa qualidade de vida nos anos que virão. 
Como se isso fosse possível. 

A pesquisa foi feita com homens acima dos 40 anos, mas quem tem filho adolescente ou convive com homens mais jovens sabe que eles tendem a repetir o comportamento dos mais velhos. Só vão se cuidar quando a feridinha não fecha mais e causa febre ou a dor se torna incapacitante. Um amigo próximo só foi ao pronto-socorro depois de ficar quatro dias com dores fortes no ombro esquerdo, nas costas e no peito. 
Primeiro achou que era um torcicolo (gigantesco, não?), depois que era pneumonia. 
Foi ao cinema, ao teatro, jantou fora. E só quando as dores começaram a se tornar insuportáveis dirigiu-se ao hospital. Era um infarto. 

O preço desse estilo "a gente vai levando" é alto. Segundo o Ministério da Saúde, das 665.551 mortes masculinas em 2011, cerca de 175.000 foram causadas por doenças do aparelho circulatório. Outras 66.000 ocorreram por problemas respiratórios e mais 98.000 por câncer. Evidentemente, muitas dessas vidas poderiam ter sido salvas se as doenças que as causaram tivessem sido descobertas no início.
"Diversas enfermidades podem ser evitadas com a ajuda do conhecimento, da desmistificação e do engajamento destes homens a um estilo de vida mais saudável", observa Corradi. 

Meninos, assim não vai. Seria bem legal vocês superarem os próprios limites e se sentirem responsáveis pelo seu corpo inteiro e não por algumas partes apenas. Isso pouparia às parceiras e amig@s o susto de ajudá-los a correr atrás do prejuízo. Melhoraria a convivência e diminuiria a tensão entre casais. Independentemente do gênero, ir ao médico é chato, sala de espera é chato, perceber que alguns médicos não sabem o que fazer com você e nem olham direito pra sua cara também é chato. Optar por comida saudável e o cara preferir sempre a opção mais trash também é cansativo. Porém mais chato do que tudo isso é cobrar o outro, que finge que não é com ele, para que cuide do próprio corpo. 

Estranho, não é? 

(*) É repórter da revista Isto É

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