sábado, 12 de maio de 2012

Quando a culpa é do dono

Gilberto Tadeu Shinyashiki,
Estadão 

Sabe aquela meta de vendas que apesar de não ser nada demais, entra mês e sai mês continua lá, distante de ser alcançada? Ou aquele funcionário de semblante pesado, que a despeito de todo o seu interesse e esforço permanece desmotivante e desmotivado? Pois bem, para alguns especialistas, as raízes para esses problemas podem não estar necessariamente dentro do departamento comercial, que anda pouco inspirado na abordagem aos cliente, ou na cabeça do empregado, que parece mal humorado por natureza. Para eles, quando alguma vai mal dentro de uma empresa, a culpa – quase sempre – está com o empreendedor, o dono do negócio. 

Para quem acha a tese acima pouco crível, o professor da Fundace Business School, Gilberto Tadeu Shinyashiki, logo rebate: “a empresa sempre vai ter a cara de seu dono, tanto para o lado ruim, quanto para o bom”. Para ele, é errado pensar que os problemas do empreendedor não repercutem no desempenho dos funcionários e no negócio como um todo.

O consultor Claudio Diogo, sócio-diretor da Tekaore, especializada em treinamento de equipes comerciais, concorda com Shinyashiki. “Quando um adolescente dá muito trabalho, eu costumo dizer que, não é apenas ele que está errando, mas seus pais também. Falta alguma coisa dentro de casa que justifique aquele comportamento. Em uma empresa, seja ela pequena, média ou grande, é igual”, afirma. 

Para os dois especialistas, no entanto, pode ser difícil o empreendedor perceber que seus vícios e comportamentos negativos contaminam a empresa. Na expectativa de auxiliar a compreensão desses problemas, eles sugerem cinco dicas com o que consideram os erros mais comuns dentro do universo corporativo. 

Vale ler o conteúdo e refletir sobre o tema. 

“Eu brilho sozinho” 
Uma empresa nasce e cresce partindo de uma atitude positiva do empresário. Segundo o consultor Claudio Diogo, o empreendedor é forjado, geralmente, pela necessidade de resolver um determinado problema por conta própria. “Chega uma hora que não dá para esperar e você mesmo resolve. É assim que normalmente nasce uma empresa de sucesso, criada a partir de uma ideia original”, afirma. No entanto, ressalta Diogo, o impulso desbravador precisa ceder um pouco no dia a dia dos negócio. O empreendedor de sucesso, destaca o consultor, precisa tomar cuidado para que seu brilho natural não intimide o despertar de novos talentos na equipe. “Tem hora que o empresário precisa apagar um pouco sua luz e criar espaço para o desenvolvimento de uma equipe. A empresa não pode girar em torno de seu dono apenas.” 

“Meu negócio sou eu” 
Os empresários gostam de dispender energia refletindo sobre planos de crescimento, expansão e, em alguns casos, de pura sobrevivência. Mas fecham os olhos e fazem careta quando a ideia de se desligarem do negócio por eles fundado passa pela mente. Isso, para o professor Gilberto Tadeu Shinyashiki, é o causador de muitos dos problemas dentro da empresa. “Quem prepara a empresa para sua saída, tem outro relacionamento com os funcionários, investidores e o próprio mercado”, diz o especialista. Para ele, ao encarar uma aposentadoria, o empresário é obrigado a formar sucessores e atrair interessados em investir no negócio, que por sua vez vislumbram um plano de longo prazo para a empresa. “Pensar em sair da operação também estimula a competição entre a equipe, que enxerga um plano de carreira dentro da empresa”, afirma. 

“Esse é dos meus”  
Para o empresário, é mais fácil conviver com funcionários que nutrem pensamentos próximos ao dele do que com uma equipe formada por personalidades divergentes. No entanto, acredite, a diferença é saudável para um negócio, no sentido que instiga o debate e a visão múltipla sobre os desafios corporativos. “Se o dono da empresa montar uma equipe comercial com base em seu estilo de vendas, vai ter problema. É preciso atrair pessoas diferentes, complementares. Esse é um erro muito comum dentro de pequenas e médias empresas”, afirma Diogo. 

“Entramos nos trilhos”
Quem não desconfia do sucesso, corre o risco de ser ultrapassado pela concorrência e ver a empresa se tornar obsoleta. Quem dá a dica é Shinyashiki. O professor ressalta que, na prática, um dos principais problemas dos empresários é não saber quando é o momento de revisar o seu negócio. “É difícil mesmo para o dono da empresas. Ele teve uma ideia legal, montou uma empresa com base nisso, sofreu para se solidificar, cresceu e chegou lá. É muito duro, nesse momento, criticar e encarar a ansiedade de começar novamente. Mas esse é um exercício que deve ser cotidiano, tocado de tempos em tempos”, destaca. 

“Faz um vale aí” Olhar um negócio da perspectiva em que ele se apresenta, as vezes pode causar algumas ilusões. Para Shinyashiki, o empresário precisa levantar a cabeça e passar a observar o mundo por outro patamar. Assim, não corre o risco de, por exemplo, não perceber que a empresa cresceu, o que requer do dono uma nova postura, principalmente com os seus colaboradores. “Quer ver um exemplo de empresário que não percebe que a empresa cresceu? É quando o gerente financeiro estabelece uma série de normas para o departamento, cria métricas, implementa fluxo de caixa, sistemas, e, um belo dia, no final do expediente o empresário bate no balcão e diz: 'faz um vale de R$ 500 que vou viajar neste final de semana'. Esse empreendedor não entendeu que a organização precisa que ele faça coisas diferentes agora”.

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