Caindo aos pedaços, federal usa escola infantil para aulas
Folha de São Paulo
O portal de entrada destruído da Unifesp de Guarulhos já antecipa o que há lá dentro. Salas de aula abafadas, refeitório improvisado num galpão de madeira e 30 mil livros encaixotados por não haver lugar onde colocá-los.
A falta de infraestrutura é tanta que parte dos 3.070 alunos da universidade federal são obrigados a assistir às aulas numa escola municipal vizinha ao campus. Um edifício novo prometido desde 2007 nunca saiu do papel.
Por causa desse cenário, foram os alunos -e não os professores, como na maior parte das federais que estão sem aula no país- que decidiram entrar em greve.
Eles estão parados desde 23 de março. Ontem, após mais de dois meses de greve, decidiram ocupar a Diretoria Acadêmica, como fizeram em 2007, na primeira greve.
A situação na federal da cidade da Grande São Paulo expõe a falta de estrutura da rede nacional, uma das principais reclamações dos professores grevistas pelo país.
"Estamos discutindo Hegel [filósofo alemão] e a molecada tá no recreio, fazendo correria do lado da sala. A aula fica insuportável", diz o estudante Michael de Santana, 27.
Quatorze salas do CEU (Centro de Ensino Unificado) do bairro de Pimentas são usadas todos os dias, à tarde e à noite, por 500 estudantes da Unifesp de Guarulhos. No local, além de biblioteca, telecentro e piscinas, funciona uma escola de ensino infantil que atende 700 crianças.
A situação não melhora quando a aula ocorre no próprio campus, uma antiga escola técnica cedida pela prefeitura. "No verão é insuportável de quente, não tem ventilação e o prédio pega sol o dia inteiro", afirma Michael.
Outros alunos que preferiram não se identificar por medo de represálias reclamam dos mesmos problemas, além do refeitório "pequeno demais" e filas de até 40 minutos para tirar uma fotocópia.
A falta de uma sala climatizada impede que a ilha de edição de vídeo obtida por um professor com a Fapesp (agência estadual de fomento à pesquisa) seja usada, reclama a estudante de Ciências Sociais Juliana Barros, 18.
O diretor acadêmico da Unifesp Guarulhos, Marcos Cezar de Freitas, afirma que o uso do CEU já era uma situação planejada com a prefeitura, como contrapartida pela instalação da universidade ali, e que as salas serão devolvidas assim que o prédio novo for construído.
Segundo Freitas, a licitação foi concluída, e um prédio em frente ao campus foi alugado para abrigar mais salas.
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