quinta-feira, 24 de maio de 2012

Agricultura Orgânica

A agricultura orgânica versus o método de cultivo tradicional

Fernando Reinach para O Estado de S.Paulo

A produção orgânica de vegetais ocupa 1% de toda a área plantada no planeta. Os outros 99% são cultivados utilizando os métodos tradicionais. Mas, se você perguntar aos consumidores se eles preferem um tomate orgânico - cultivado sem pesticidas, herbicidas e adubos químicos - ou um tomate produzido de maneira convencional, provavelmente a estatística se inverte: 99% (eu inclusive) preferiria o tomate orgânico. Será que a humanidade não deveria adotar de maneira definitiva a produção orgânica?

Aparentemente, a metodologia orgânica é superior do ponto de vista ambiental, não polui os rios, preserva o solo e é mais saudável. Mas existe um outro lado da questão ambiental que é a produtividade por área cultivada.

Nas últimas décadas a humanidade descobriu que o planeta não é capaz de alimentar um número infinito de seres humanos. À medida que cresce a população mundial, cresce a área utilizada para produzir alimentos, biocombustíveis e celulose. Cada hectare dedicado a satisfazer as necessidades humanas é um hectare a menos coberto de florestas, Cerrado ou outros ecossistemas naturais.

E aí vem o dilema: como alimentar os quase três bilhões de bocas humanas que vão ser acrescentadas à população mundial nos próximos 50 anos? Aumentando a área plantada ou aumentando a quantidade de alimentos produzida nas áreas cultivadas?

É neste contexto que a produtividade dos diversos métodos se torna importante. O tomate orgânico é melhor, mas quanto maior seria a área cultivada se toda produção de tomate fosse orgânica?

Agora, um grupo de cientistas analisou 66 estudos independentes contendo 316 comparações entre a produtividade obtida utilizando métodos convencionais e orgânicos. Para ser incluído na comparação, os estudos deveriam seguir alguns critérios: rigor científico e as áreas consideradas deveriam ter sido certificadas por órgãos internacionais.

Os resultados demonstram que, na média, a produtividade por hectare obtida com métodos orgânicos é entre 20% e 25% menor. Em nenhum caso ela é superior à produtividade obtida com a agricultura convencional. Mas a boa notícia é que em muitos casos a diferença é pequena, chegando a somente 10% no caso da soja e do milho. Em outros casos, como nos vegetais usados em saladas, a produtividade com métodos orgânicos é muito menor, chegando a 30%.

Esses resultados são animadores já que muitos defensores da agricultura tradicional palpitavam que a produtividade obtida utilizando métodos orgânicos seria metade da convencional.

Mas infelizmente isso não resolve a questão. Mesmo que a humanidade decida adotar o cultivo orgânico - e consequentemente aumentar a área cultivada, mas se libertando da ameaça dos produtos químicos -, outros aspectos do problema precisam ser analisados. Os autores do estudo listam alguns deles. Um é o custo dos alimentos produzidos pelas duas formas de cultivo e seu impacto no problema da fome no planeta e nos níveis de emprego na agricultura. Outro é a sustentabilidade ambiental de cada forma de cultivo no longo prazo e em grande escala (se você cultiva alface sem adubo químico, mas usa esterco como adubo, sua produção de alface depende do rebanho bovino).

O que fica claro é que a comparação entre métodos produtivos não é simples, pois não depende de uma única variável. Vai ser necessário desenvolver metodologias capazes de comparar variáveis complexas e um modelo em escala global. O que é melhor para a humanidade, um tomate orgânico mais caro, que ocupa uma área agrícola maior, mas que não utiliza agroquímicos e emprega três pessoas, ou um tomate convencional, mais barato, produzido em uma área menor, mas que utiliza insumos químicos e emprega uma pessoa?

Dada a complexidade das comparações necessárias é pouco provável que no curto prazo sejam obtidos dados suficientes para fazer uma comparação rigorosa. Mas será que a Terra aguenta esperar?

( MAIS INFORMAÇÕES: COMPARING YIELDS OF ORGANIC AND CONVENTIONAL AGRICULTURE. NATURE VOL. 485 PAG. 229 2012 (*)

(*) Biólogo

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