Luiz Caversan (*)

Principalmente no mercado de trabalho, velho era coisa ultrapassada, chata, sem ritmo, qual museu vivendo do passado e impedindo que nós brilhantes e impetuosos jovens alcançássemos mais rapidamente a glória e o poder.
Como dizia Paulo Francis para troçar das bobagens que se perpetravam em nome da modernidade, pfiu!
No jornalismo, na publicidade, na economia, na vida pública e em dezenas de outros ramos, quantas carreiras foram interrompidas por conta de um "dead line" cruel ou um fim de linha artificial estabelecidos por uma necessidade doentia de "renovação" e "sague novo"?
E aqui estamos hoje assistindo à valorização da experiência, da cultura e conhecimento acumulados ocorrendo de forma surpreendente, seja no Brasil, onde o índice de ocupação dos cabeças brancas está em alta, seja mundo afora, sobretudo na Europa assolada pela crise. Ali, temos o exemplo da Espanha, onde o desemprego entre jovens de até 25 anos está na estratosfera, mais de 50%, enquanto os mais velhos continuam tendo sua tarimba requisitadas para ajudar a transpor o maremoto da economia que coloca o país de joelhos.
Como sempre, não se deve generalizar, é claro, porque os dados do IBGE relativos aos postos de trabalho ocupados pelos mais velhos incluem aqueles que estão sendo novamente valorizados, sim, mas também, como lembra o jornalista Marcelo Soares, especialista em números, quem idealmente "não deveria precisar trabalhar"...
De qualquer maneira, o que poderia se supor corriqueiro por tratar-se de coisa antiga e óbvia ("Esses moços/ pobres moços/ ah se soubessem o que eu sei...", cantava Lupicínio Rodrigues já em meados do século passado!), está na ordem do dia, e cada vez mais os "velhinhos" estão aí, arrasando, com suas vidas profissionais bem vividas para compartilhar e também, por que não, com seus smartphones, Ipads e outros gadgets que, aliados ao conhecimento acumulado, garantem a contemporaneidade e a qualidade de vida de quem merece mais do que aquele "respeito" que mais exclui do que integra.
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Duas amigas queridas brilharam nas páginas da Folha esta semana. Sei que elas não irão se ofender em ser alinhadas aos cabeças brancas, porto que são exemplos lapidados da cultura e sabedoria acumuladas e que se renovam por todos os meios disponíveis, diuturnamente.
Primeiro foi a Marion Strecker, co-fundadora do UOL e hoje vivendo na Califórnia, a nos atualizar sobre os caminhos e negócios da educação pós internet. Internet que se re-classifica hoje em dia, ela nos ensina, a partir do neo conceito da dirupção (disruption), ou seja, do desmoronamento de procedimentos, teorias, conceitos, negócios que não resistem à velocidade e à pertinência da rede mundial de computadores e seu avassalador expansionismo. Onde iremos parar? Aí é que está: não iremos parar.
Depois foi a Barbara que, com seu texto inigualável, nos chama na chincha (sic) para revelar que o suicídio entre jovens no Brasil cresce a taxas absurdas de até 1.900%. E de quebra ainda traz um dos mais brilhantes psiquiatras do país, o notável epidemiologista Jair Mari, a nos fazer repensar a questão do bullying, já indevidamente relativizada até aqui mesmo neste espaço. E mais uma vez, no cerne da celeuma, o uso indiscriminado dos antidepressivos...
Os dois textos merecem ser lidos pelos que ainda não o fizeram.
(*) Jornalista e consultor na área de comunicação corporativa da Folha de São Paulo
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