segunda-feira, 14 de maio de 2012

A Grécia e o euro

Autoridades minimizam efeito de saída da Grécia do euro

Estadão

O impasse político na Grécia — onde desde as eleições do último dia 6 os partidos políticos ainda não conseguiram chegar a um acordo para um governo de coalizão — está fazendo com que autoridades e empresas comecem a se preparar para uma saída do país do bloco monetário. Nos últimos dias algumas autoridades chegaram a dizer que a saída da Grécia não seria um grande problema para o euro.

Patrick Honohan, presidente do Banco Central da Irlanda e membro do conselho diretor do Banco Central Europeu (BCE), disse no sábado que a saída da Grécia não seria necessariamente fatal para o bloco. "Tecnicamente isso pode ser administrado", declarou Honohan em um painel de discussões realizado em Tallinn, Estônia. "Não foi imaginado na legislação, mas tem acontecido coisas que não foram imaginadas nos tratados", acrescentou.

O investidor bilionário George Soros também entrou na discussão e disse em entrevista ao jornal italiano La Reppublica que a zona do euro poderia sobreviver à saída da Grécia, que não seria tão dramática quanto a saída de um país maior do bloco. "A discussão é diferente se a crise se espalhar para Espanha ou Itália", afirmou. "Nesse caso, sem medidas de combate, a Europa entraria em colapso."

Na sexta-feira, o todo-poderoso ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, havia feito declaração semelhante ao jornal alemão Rheinische Post, dizendo que o euro não entraria em colapso se a Grécia saísse do bloco monetário. Schäuble afirmou que a zona do euro quer que a Grécia continue sendo um membro do grupo, mas alertou que o país precisa cumprir sua agenda de reformas econômicas. "Não podemos forçar ninguém (a ficar na zona do euro). A Europa não entrará em colapso tão rapidamente", declarou na ocasião.

No setor corporativo também começam a surgir sinais de que a saída da Grécia da zona do euro é cada vez mais provável. A varejista de produtos eletrônicos Dixons Retail informou que está elaborando planos para fechar lojas temporariamente na Grécia e se proteger da turbulência social caso o país saia da zona do euro, segundo declarações do executivo-chefe, Sebastian James, ao jornal Financial Times. A Dixons já teria planos precisos sobre quais lojas seriam fechadas e quando.

E o diretor de marketing da Diageo, maior fabricante de bebidas alcoólicas do mundo, Andy Fennell, afirmou que a empresa está preparada para lidar com os efeitos de uma saída da Grécia da zona do euro. Isso provocaria uma forte desvalorização do dracma — moeda que seria adotada no lugar do euro —, o que prejudicaria as vendas da Diageo, que é altamente dependente de importações para o país.

Empobrecimento da população
O país se encontra em uma situação confusa. Após as eleições do dia 6, os líderes dos principais partidos políticos gregos têm sugerido que querem uma renegociação dos termos do segundo pacote internacional de resgate, de 130 bilhões de euros.

Alguns dos principais críticos da Grécia são alemães. O ministro de Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, alertou que o preço da possível saída dos gregos do bloco monetário seria muito alto, tanto para o país como para a região. Segundo ele, essa decisão resultará em uma desvalorização da moeda grega e num empobrecimento da população. Já o presidente do banco central alemão, Jens Weidmann, disse que é muito simplório acreditar que os problemas da Grécia seriam resolvidos pela saída da zona do euro e o retorno ao dracma.

No fim de semana, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, disse em uma entrevista a um canal de TV italiano que se alguns membros não respeitam as regras da UE "é melhor que eles saiam". Hoje, no entanto, uma porta-voz de Barroso tentou amenizar os comentários, afirmando que ele não se referiu a nenhum país específico e que a comissão quer a permanência dos gregos no bloco.

O comissário europeu de Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, alertou no sábado que os gregos precisam "tomar as decisões necessárias" para permanecer na zona do euro. "É claro que a bola está agora no campo da Grécia, na mão do povo grego", comentou. Mas ele ressaltou que a UE está "certamente mais resiliente agora do que dois anos atrás" diante de uma possível saída dos gregos. "A Europa também sofreria, mas a Grécia sofreria mais, especialmente a camada mais baixa da população", comentou Rehn. Mesmo assim o comissário disse que "ainda acredita" que a Grécia pode permanecer no bloco.

Talvez a declaração mais concreta de que a saída dos gregos está sim sendo discutida pelas autoridades europeias tenha sido feita pelo vice-presidente do banco central da Suécia, Per Jansson. Segundo ele, o assunto foi debatido pelos bancos centrais do bloco, que inclusive conversaram sobre como lidariam com as repercussões de um evento desse porte.

Antes mesmo das eleições na Grécia, a agência de classificação de risco Fitch já tinha afirmado que estava crescendo o risco dos gregos deixarem o euro. O cenário base da agência ainda era da manutenção do bloco, mas, entre os cenários alternativos, a saída da Grécia era o mais provável. Já a Moody's acredita que as eleições aumentaram essa probabilidade. "Tem havido uma crescente retórica dos políticos gregos a respeito de um possível cancelamento ou de alterações nas medidas de austeridade", disse a agência.

Estrategistas do JPMorgan também afirmam que o mercado não está precificando apropriadamente o risco de desdobramentos desordenados na Grécia. "No caso de uma saída da Grécia da zona do euro, a pressão seria consideravelmente mais forte, provavelmente forçando Itália e Espanha a pedir ajuda externa".
 

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