quarta-feira, 18 de abril de 2012

"Doa a quem doer"

Eliane Cantanhêde (*) 

Da boca para fora, todo mundo é a favor da CPI, que acaba de conseguir mais de 300 assinaturas na Câmara e mais de 60 no Senado e, portanto, está pronta para ser instalada. Pelo menos, no papel. 

Lula atiça o PT para mandar bala na CPI, "doa a quem doer", imaginando que os alvos serão inevitavelmente da oposição, o que embaçaria a mira no mensalão, que está para ser finalmente julgado pelo Supremo Tribunal Federal. E Fernando Henrique dá a maior força para a comissão. 

Engraçado, né? No governo dos dois, não se podia nem falar em CPI que eles se arrepiavam. Mas, no governo da primeira presidente mulher, CPI passou a ser o maior barato. Vale a regra: CPI no governo dos outros é refresco. 

Quando se olha a foto dos principais líderes de oposição na Câmara e no Senado, felizes da vida, comemorando a instalação da CPI, o que vem imediatamente à mente é que a alegria pode durar pouco e que um velho ditado anda atualíssimo: "Quem ri por último ri melhor". 

Até aqui, já caíram na rede do Cachoeira e das gravações da PF, além do famoso e já liquidado senador Demóstenes Torres, do DEM, parlamentares do PSDB e do PPS, sem falar que o governador tucano Marconi Perillo (Goiás) está pisando em ovos e em ligações perigosas. 

O problema é quem é que vai rir por último, porque, afinal, já apareceram também parlamentares do PT e o governador petista do DF, Agnelo Queiroz, enroladíssimo. E o resto da base aliada da Dilma também deve estar perdendo o sono. 

Portanto, todo mundo quer, ou diz que quer, a CPI do Cachoeira, mas ninguém, ou nenhum partido, tem realmente segurança de onde isso tudo vai acabar e quem vai e quem não vai sobreviver. Um tiro no escuro. Ou vários tiros. 

Até agora, só há um personagem que não se declarou, nem deveria mesmo se declarar, a favor da CPI: Dilma Rousseff. Pelos óbvio motivo de que CPIs são instrumentos de oposição e nenhum governo pode em sã consciência gostar de CPIs e, além do que, a empreiteira Delta --um dos pivôs da crise-- tem contratos bilionários com o governo federal, principalmente para obras do PAC, menina dos olhos da presidente. 

E nem a base do PT deveria ficar tranquila nem Lula deveria ficar tão animadinho assim, já que o que está saindo até agora são as fitas da Polícia Federal, aquelas que pegaram Demóstenes de jeito. E as fitas do Cachoeira, que deram a rasteira no Waldomiro Diniz (e, por tabela, em José Dirceu), gerando a primeira crise da era lulista no governo? Estas ainda podem reservar muitas surpresas. 

Mas, enfim, tudo isso é problema deles. Nós outros, eleitores, leitores, telespectadores, ouvintes e sobretudo jornalistas, é que damos realmente a maior força para a CPI ser um sucesso. E não apenas no papel. 

(*) Jornalista e colunista do jornal Folha de São Paulo

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