Tostão (*)
O emocionante clássico entre Cruzeiro e Atlético-MG foi um retrato, uma aula prática, sobre como poderá ser, de rotina, o futebol no futuro, dentro e fora do campo, ainda mais se ninguém fizer nada e se tantos acharem que foi um jogaço. Falo no futuro porque há hoje uma alternância de jogos violentos, como esse, com outros de excelente nível técnico, como a maioria dos anteriores do Atlético-MG.
A guerra começou nas ruas de Belo Horizonte e continuou no gramado. Fora pouquíssimos belos lances, como os gols de Leonardo Silva e, principalmente, o magistral de Ronaldinho, só se viu pontapés, discussões, faltas violentas, simulações, cartões amarelos, expulsões, chutões e objetos jogados no campo. Uma guerra. O futebol é uma coisa séria, que deveria ser jogado e tratado com mais leveza.
Se o Atlético-MG se reforçou durante a competição, com as chegadas de Victor, Júnior César e Ronaldinho, o Vasco piorou, com as saídas de Fágner, Rômulo e Diego Souza. Quando Cristóvão escala Juninho e Felipe, coloca Felipe na posição errada, de meia ofensivo, no lugar de Diego Souza.
Sua posição é a de Wendell, mais recuado e pela esquerda. Além disso, como o bom e veloz Éder Luís tem se contundido, entra em seu lugar Barbio, que não tem técnica para jogar no Vasco.
Neymar continua espetacular, e, cada vez mais, o Santos depende dele. O Barcelona depende muito de Messi para fazer gols, mas não depende do argentino para comandar o jogo e mostrar, coletivamente, um grande futebol. O Santos, sem Neymar, não ganha nem joga. A seleção brasileira não pode criar essa dependência. Contra fortes adversários, Neymar não vai resolver sozinho.
Ganso, que seria o grande companheiro de Neymar na seleção e no Santos, não brilha há muito tempo.
Ele teve muitas contusões, passou a jogar de uma maneira diferente e tem tido problemas fora de campo, que até hoje não entendi bem quais são nem se têm a importância que dão.
Perguntado se gostaria de jogar no São Paulo, Ganso, com educação, respondeu que teria prazer em atuar em qualquer grande clube. Foi duramente criticado por isso. É muito policiamento e muita fofoca.
Após a partida contra o Barcelona, Ganso passou a jogar mais recuado, tentando participar da marcação e iniciar as jogadas no próprio campo. Por ter pouca mobilidade, toca a bola e não consegue chegar à frente. Fica muito longe do gol.
Se Ganso se adaptasse bem a essa nova posição, seria muito melhor.
É o tipo de armador que mais faz falta ao futebol brasileiro.
Se Espanha, Alemanha e Itália possuem excepcionais jogadores nessa posição, como Xavi, Iniesta, Schweinsteiger e Pirlo, porque o Brasil, o "país do futebol", não tem há muito tempo?
(*) Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa do Mundo de 1970. Colunista da Folha de São Paulo.
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