domingo, 21 de abril de 2013

E o País de dolentes se cala diante dessa safadeza explícita

Marin e Aldo Rebelo mostrarão a lei que premiará a irresponsabilidade dos clubes brasileiros. Mais de R$ 3,6 bilhões de impostos serão perdoados. Uma festa indecente com o dinheiro público. Que país é esse?  


Cosme Rímoli (*) 
 
O futebol brasileiro mostrará sua força na quarta-feira. 
Não, não no inútil amistoso entre Brasil e Chile no Mineirão. Mas em Brasília. 
Lá estará a verdadeira seleção. 
Marin, Aldo Rebelo, Romário, Mario Gobbi, Bandeira de Mello. 

Representantes da Receita Federal, INSS e da Caixa Econômica. 
E mais dezenas de políticos e presidentes de clubes. 
Aportarão lá para referendar a Lei Proforte. 
O deputado Vicente Cândido do PT tornará pública uma indecência. 

Perdoar 90% dos mais de R$ 4 bilhões que os clubes devem aos cofres públicos.
Dívidas de décadas com Imposto de Renda, Previdência e FGTS. 
Em compensação, os clubes seriam obrigados a investir na base. 
Na formação de novos jogadores. 

Os clubes que mais devem ao governo são os quatro cariocas. 
Mas a medida beneficia todos os grandes. 
Todos devem. 
Outra vez o governo resolve premiar a incompetência, a irresponsabilidade. 

Seguir pela demagogia, salvar clubes que deveriam estar falidos por má gestão. 
Não é será um ato de amor, a renúncia fiscal tem efeito colateral. 
O de agradar milhões de torcedores, milhões de eleitores. Isso é ótimo.
Em 2014, por coincidência, haverá eleições no País. 

O lobby será imenso e a lei deverá ser aprovada. 
Pouco importando o sacrifício. 
O Brasil tem mais de 15% da população abaixo da linha da miséria. 
Problemas terríveis de segurança, educação, saúde. 

Mesmo assim, abrirá mão de pelo menos R$ 3,6 bilhões de arrecadação.
Dinheiro que era obrigação dos clubes pagar. 
Será um desperdício com o dinheiro público.
Vergonhoso prêmio dado a décadas de má gestão, irresponsabilidade.

Dirigentes deixavam de propósito de pagar impostos para comprar jogadores. 
Sabiam o que estavam fazendo.
Há décadas a dívida foi rolando, empurrada com a barriga.
Havia um senso comum, que um dia ela seria perdoada. 


Chegaria algum político e daria aos clubes o benefício que o cidadão não tem. 
Quem tiver a curiosidade, acesse impostometro.com.br. 
Lá está contabilizado o quanto a população já pagou de impostos este ano. 
Do dia primeiro de janeiro até hoje, 21 de abril, a conta é absurda. R$ 524 bilhões e 795 milhões. 

O brasileiro é o país que mais paga impostos no mundo. 
E o que tem menor benefício revertido na sua vida. 
Que o cidadão comum não tem como fugir. 
Não há deputado entrando com uma lei que lhe dê 90% de perdão. 

Marin precisa que este projeto seja aprovado. 
Quer continuar no poder. 
Sua imagem está desgastada demais pela ligação com a Ditadura. 
Por ter sido governador biônico de São Paulo. 

Com a compra superfaturada da nova sede da CBF. 
Provada por reportagem da Folha.
Ele pediu desculpas a Rebelo por ter menosprezado do seu poder. 
Suas palavras foram divulgadas pelo youtube. 

Mas políticos sempre se entendem. 
O ministro não só o perdoou como indicou sua assessoria de imprensa. 
Marin de pronto aceitou. 
E os dois estão mais ligados do que nunca.

Rebelo nunca teve cinco por cento de popularidade que o futebol está lhe dando. Nacionalista, brigou pela instituição do dia do Saci Pererê.
O homem de uma perna só seria celebrado em vez do Halloween.
Festa importada que celebra o sobrenatural, no dia 31 de outubro. 

Sua proposta fracassou. 
Assim também como foi um fiasco a sua luta pela mandioca.
Ele queria que os pães franceses tivessem 10% da raiz tuberosa brasileira. 
Não conseguiu. Mas perdoar dívidas de clubes de futebol é mais fácil.

Muito melhor do que lidar com Saci Pererê e mandioca. 
O deputado Vicente Cândido do PT de São Paulo tem ligação com o futebol. 
Está tentando tirar de qualquer maneira os 12 corintianos presos em Oruro. 
Sempre chega à imprensa sua ação na Bolívia. 

Trabalha com afinco em prol dos membros da Gaviões e Pavilhão Nove. 
Em meio a tudo isso, Romário. 
O deputado vai participar e promete brigar. 
Não que a lei não seja aprovada. 

Mas que os clubes tenham de pagar pelo menos 30% dos seus impostos.
E defender o que todos não querem, a profissionalização dos dirigentes. 
Ele desejam continuar amadores. 
Para que não sejam responsabilizados por suas irresponsabilidades. 

Querem menos ainda tornar os clubes empresas.
Não, desejam continuar a se esconder. 
Usar a nomenclatura 'entidades sem fins lucrativos'. 
Pronto. 

Uma imoralidade que permite abusos. 
Como mais de R$ 4 bilhões em dívidas com os cofres públicos. 
Marin e Aldo Rebelo nem querem ouvir falar em profissionalização. 
Os dois desejam é fazer a Receita Federal, o INSS e a Caixa abrir mão de uma fortuna. 

Que mais de R$ 3,6 bilhões de dívidas comprovadas evaporem. 
Com a desculpa de forçar os clubes a investir nas categorias de base.
Formar jogadores que eles mesmos irão desfrutar.
Vender, emprestar e embolsar todo o lucro. 

O projeto é na verdade um perdão, uma doação de bilhões de reais. 
Dinheiro que deixará de beneficiar o cidadão comum.
E fará a festa de muitos dirigentes irresponsáveis.
No fundo, além da revolta, fica um sentimento pior. 

A certeza de que todos sabiam o que aconteceria. 
Políticos livrariam os clubes de suas obrigações financeiras. 
Ganhariam em troca popularidade. Permanência na CBF. 
A população terá detalhes na quarta-feira do mais um gesto revoltante. 

E ficará de braços amarrados.
O nome da lei chega perto, mas não define o que realmente acontece. 
Não deveria ser Proforte. 
Deveria se chamar Lei Para os Fortes. 

Os grandes clubes e seus milhões de torcedores serão agraciados. 
E sem o peso dos impostos poderão fazer o que estão acostumados. 
Novas contratações milionárias, oferecer salários inacreditáveis. 
Não há nada que os impeça de se endividar novamente. 

Sempre haverá políticos dispostos a perdoá-los. 
Em nome de popularidade, de votos.
E o cidadão comum acabará prejudicado de novo.
É ele quem acaba pagando esta bandalheira dos clubes. 

Nesta quarta-feira o futebol brasileiro mostrará sua força. 
A de fazer sumir R$ 3,6 bilhões de impostos. 
Graças a Aldo Rebelo, Vicente Cândido, Marin. 
E aos maravilhosos políticos deste nosso Brasil varonil... 

(*) Jornalista e comentarista esportivo 

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