Kennedy Alencar (*)
Com freqüência, invoca-se o famoso bordão usado em 1992 por Bill Clinton para argumentar que a economia é o principal fator a decidir uma eleição. "É a economia, estúpido" simbolizou a vitória do democrata Clinton sobre George Bush pai, republicano que tentava a reeleição para a Casa Branca naquele ano.
No entanto, existem outros exemplos semelhantes na história recente.
Em 2008, o agravamento da crise econômica internacional foi fundamental para a vitória do democrata Barack Obama contra o republicano John McCain.
No Brasil, tivemos dois exemplos bem claros do peso decisivo da economia.
Em 1986, no auge do Plano Cruzado, o PMDB elegeu 22 dos 23 governadores de Estados do país à época.
Em 1994, o Plano Real tirou o tucano Fernando Henrique Cardoso praticamente do zero e o levou a conquistar a Presidência no primeiro turno. Quatro anos depois, a economia garantiu a reeleição de FHC em outra vitória na primeira rodada.
A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 aconteceu num quadro de adversidade econômica do governo FHC, que tinha, então, o tucano José Serra como seu candidato.
Obviamente, há momentos em que outro fator possa vir a ter mais peso do que o econômico. Mas, num quadro de normalidade democrática, tudo indica que, sim, "é a economia, estúpido". Razão: se a economia vai bem, a vida da maioria das pessoas está melhor do que antes. Essa sensação de melhora, de ganho, tende a levar a maioria do eleitorado a uma decisão mais pragmática. Se está bom, mudar por qual motivo?
É essa a difícil resposta que a oposição precisa encontrar para ter chance de vencer a eleição. Hoje o governador de São Paulo, José Serra, é o favorito, de acordo com as pesquisas. Mas, como a eleição será em outubro do ano que vem, há tempo suficiente para que o governo vitamine a sua candidata, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ou seja: a tendência é a vitória da candidatura governista.
Por isso, soa estranha a declaração de Serra em recente entrevista à rádio Joven Pan. Resumindo: ele disse que a economia não decidirá a eleição. Para ele, o fator decisivo será um julgamento da população sobre quem está mais preparado para governo. No caso, ele acha que é ele.
"O cenário, a percepção de que a economia vai bem, etc. e tal, é um dado da realidade. Não acredito que isso vá decidir ou deixar de decidir a eleição. A população vai olhar para os candidatos e querer saber quem é mais preparado para governar", afirmou o governador.
Neste momento, talvez seja a única resposta possível para um candidato de oposição.
Reconhecer o contrário equivaleria a uma confissão antecipada de derrota.
Mas, inteligente, Serra sabe que é a economia. Tão inteligente quanto, Lula também.
E tudo indica que 2010 será um ano de forte crescimento econômico.
(*)Colunista da Folha de São Paulo e repórter especial da Folha em Brasília.
É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas
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