Carta Aberta

Carta Aberta

Exmo Sr Dr.

Raimundo Cezar Britto Aragão

M.D. Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

SAS Quadra 5 – Lote 1 – Bloco M –

Brasília – DF

CEP: 70070-939

Prezado Sr

Sr Presidente, até aonde iremos chegar? Haverá um fundo de poço onde todos nós brasileiros ainda tenhamos que chegar assistindo escândalos e escândalos envolvendo todos os tipos de políticos dos mais variados escalões? Poderia V. Exª me dizer como é possível retornar para casa e explicar aos filhos o que é ética, decência, linha de conduta, caráter, honestidade, princípios? É possível ainda dizer que o nosso País, dito por muitos como do futuro, ainda tem algum futuro com dignidade, com honra? Como é possível sentir orgulho quando se assiste um parlamentar colocando dinheiro de propina nas meias, nas cuecas, como criança que se lambuza com doces furtados? Ou rezando e agradecendo a um deus qualquer pelo dinheiro ilícito que recebeu?

O que eu com 61 anos de idade posso fazer? Que atitude deve tomar um sujeito aposentado, honrado cidadão brasileiro, cumpridor dos seus deveres, adepto de uma conduta ilibada, que pautou sua vida pelos princípios morais e de caráter transmitidos pelos pais e demais ancestrais? Que recomendação se dá a alguém igual a milhões de brasileiros que saem diariamente de casa em busca do seu pão de cada dia, de sol a sol, correndo de um lado para outro, se entregando de corpo e alma em seus empregos, tentando de todas as formas melhorar um pouco sua vida e conseqüentemente a dos seus? O que se sugere a um desses simplórios para que possa ter orgulho do País em que vive?

Não sou advogado, mas o que posso esperar de V. Exª como Presidente de uma entidade séria, independente e que sempre primou por levantar bandeiras contra verdadeiras barbáries perpetradas e cometidas contra nosso País e contra nosso povo? Que atitude se pode aguardar diante não somente esse último escândalo ocorrido na Câmara e no Governo do Distrito Federal, mas, de todos os atos que nos últimos tempos temos assistido imóveis, perplexos, impotentes diante de tantas mentiras, hipocrisias, desmandos, incompetências, cometidos por elementos que não deveriam estar ocupando gabinetes luxuosos em cargos públicos e sim celas de presídio como quaisquer assaltantes comuns.

Será que ainda poderemos ter esperança de ver V.S. e um exército de advogados em luta contra esse estado de coisas? Sim, uma luta cívica e não uma guerra civil é o que deveria eclodir neste país até porque, somente tendo Deus como protetor esta terra pode subsistir e sobreviver contando com um povo pacifico ordeiro e principalmente trabalhador, mas que, diante de tanta podridão, tanto desmandos, não é capaz de uma postura mínima de indignação, um grito de “basta” a esse lixo em que se transformou nossa política e seus integrantes. Talvez uma campanha encabeçada pela OAB em nível nacional comece a despertar na parcela pensante desse povo e contaminar a outra, imensa e inerte, a necessidade de uma grande união para que coloquemos toda essa espécie de gente para fora de todas as camadas políticas, sem exceção. Se não houver uma ação, uma atitude, com certeza mais casos irão aparecer, já que lamentavelmente nossas punições são extremamente brandas e nada intimida esses marginais instalados por todas essas instituições públicas.

O que podemos eu e o povo brasileiro sério esperar de V.Exa? Todos os que vivenciaram a ditadura militar conhecem a atuação enérgica e atuante da OAB no combate a repressão política e na luta em prol da democracia. Graças ao pouco que já se conquistou tem sido possível aos nossos filhos e netos sentir o cheiro de democracia. Mas, claramente, não é o suficiente. Esse cheiro tem sido encoberto pelo outro, o da podridão que emana dos porões da indecência que vem toldando os horizontes de céu anil desta triste terra. Não há como conviver placidamente com uma política suja, podre, que vive à custa de propinas advindas de empresas e empresários interessados exclusivamente em ser beneficiar a qualquer custo. Até quando?

Espero poder ver ações concretas lideradas pela OAB em prol de uma sociedade que volte a pensar e trabalhar de forma honesta e que, acima de tudo, recupere a crença de que vale a pena levantar cedo e produzir.

Antenor Pereira Giovannini

Aposentado – 61 anos

Av. Ismael Araújo, 168 – Santíssimo – Santarém – Pará

antenor.p@uol.com.br

(enviada via sedex e por e-mail)