quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Apitos em xeque


A arbitragem no Campeonato Brasileiro está um desastre. Isso não é nenhuma novidade. Em todas as rodadas acontecem várias reclamações e os árbitros interferem diretamente no resultado das partidas. O erro de arbitragem sempre vai acontecer no futebol, mas no atual momento os árbitros e seus auxiliares cometem falhas além do que seria aceitável.

Está certo que os mais desesperados conseguem observar, no mínimo, cinco pênaltis, a favor do seu time de coração, mas olhando com o máximo de imparcialidade é possível observar vários erros. Os equívocos não se restringem apenas aos lances de pênalti ou gols irregulares, mas também em lances que são fáceis para a arbitragem e que os árbitros não poderiam errar.

Tudo bem que é muito difícil ser árbitro no Brasil. Além de os jogadores não colaborarem, não existe nenhuma barreira para proteger o árbitro. No nosso futebol, eles recebem pressão de todos os lados --nos estádios, dos dirigentes, da torcida e até de ex-colegas de profissão agora transformados em comentaristas de arbitragem.

Sem dizer a crueldade de se julgar o árbitro depois do quinto replay. Para ser honesto com eles, a opinião de quem analisa deveria ser feita no momento do lance, sem a ajuda da câmera lenta. Quantas vezes, por exemplo, você tem a impressão de que houve um pênalti claro e ao ver a repetição observa que não aconteceu nada?

Não acho que os árbitros sejam os maiores culpados pelo mau momento. Está certo que atualmente no futebol brasileiro não temos árbitros para "meter" medo nos jogadores. Nem os árbitros que fazem parte do quadro da FIFA conseguem isso.

Eu diria que falta aos nossos árbitros personalidade na hora de conduzir uma partida. As decisões deles são muito mais contestadas porque até os próprios árbitros em alguns lances não têm a mínima convicção do que marcaram. Quando o árbitro fica muito tempo tentando explicar com gestos o que ele marcou --ou a razão de não ter marcado-- se percebe claramente que quem comanda a partida ficou com dúvida na anotação. O gestual todo se torna uma ferramenta para até ele acreditar na sua interpretação.

Mas o grande problema da arbitragem brasileira no momento é a falta de comando. Como já disse, os árbitros são deixados de lado e ficam com toda a responsabilidade dos erros. Nas grandes crises, ninguém da comissão de arbitragem se manifesta. A direção deixa os árbitros expostos ao julgamento da opinião pública.

O trabalho da comissão de arbitragem se limita a escalar os árbitros para os sorteios e afastar os mesmos. Aliás, na geladeira, ninguém sabe o que acontece com o árbitro. Não se tem notícia de um curso de reciclagem. Será que ele ficando parado, só assistindo partidas, vai melhorar seu desempenho? Lógico que não.

O certo seria o árbitro apitar partidas de divisões menores para não cometer mais o mesmo tipo de lambança. Sem dizer que depois que os árbitros voltam à ativa, como eles foram marginalizados pelos seus comandantes voltam sob suspeita da sua competência.

Por tudo isso, falta à comissão dirigir realmente a arbitragem. Por exemplo: não se vê nenhum esforço para a padronização de critérios de faltas, cartões e parte disciplinar. Cada árbitro tem o seu. Lances idênticos têm interpretações totalmente diferentes. Não se vê nenhum movimento para melhorar a colocação dos árbitros e auxiliares, causa principal dos erros nas partidas.

Faltam também mais cursos de reciclagem --se eles são feitos, além da falta de divulgação não estão apresentando resultados. Atualmente, fica nas mãos de alguns sindicatos a atualização dos árbitros.

Segundo quem dirige a arbitragem no Brasil em 2014 teremos um quadro de apitadores de primeiro nível. Não acho que será possível o nosso futebol conviver mais cinco anos com arbitragens desastrosas.

(Humberto Luiz Peron, 41, é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a Folha Online às terças-feiras).

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