terça-feira, 21 de abril de 2015

As empresas que aproveitam a crise econômica para crescer

Revista Exame 

O gaúcho José Galló, presidente da Lojas Renner, tem o hábito de se preparar para crises reais e imaginárias. Em 2015, ele se vê de fato diante de uma crise das brabas. O cenário, pelo que lê, é dos piores. A economia brasileira não cresceu em 2014 e, pelas últimas previsões, pode recuar até 1% em 2015. 

O setor de vestuário teve queda de 1,1% em 2014 e deve cair 3,7% em 2015, segundo a Confederação Nacional do Comércio. O dólar, fundamental para a compra de roupas e acessórios na China, valorizou 30% nos últimos seis meses. 

O endividamento da população está em alta. Ainda assim, Galló não altera o tom de voz para dizer que sua estratégia não vai mudar. No ano passado, a Renner abriu 54 lojas e cresceu 19,4% em receita, para 5,2 bilhões de reais. Para este ano, a projeção é abrir 45 lojas. “Estamos vendo oportunidades, é uma boa hora para investir”, diz. 

O que lhe permite manter o ritmo em um ano complicado é um controle rigoroso dos custos. Em anos ótimos ou péssimos, desperdício é palavrão na Renner. Em 2014, a empresa reduziu os custos de 34,8% para 33,8% da receita líquida. Foram 46 milhões de reais de economia conquistados no detalhe. 

A empresa entrou em 2015 com 834 milhões de reais em caixa — 34 milhões a mais do que em 2014 — e dívidas que somam apenas 0,29 vez o resultado operacional. Quando as perspectivas da economia são sombrias, como agora, Galló tira da gaveta o discurso de quem já sofreu todo tipo de crise nos 24 anos em que está à frente da companhia. 
Para ele, é preciso estar preparado para tirar vantagem desses momentos. Galló, obviamente, não é o único. 

A combinação de consumo em baixa com inflação em alta e câmbio imprevisível não é boa para ninguém. Mas pode beneficiar um grupo que, como a Renner, tem a casa em ordem. Uma série de questões subjetivas — como um bom ambiente de trabalho, o lançamento de um produto inovador, uma campanha de marketing certeira — pode fazer a diferença nessas horas. 

Mas a análise dos balanços financeiros dá algumas boas pistas. Com esse objetivo, EXAME encomendou ao banco Brasil Plural uma avaliação das finanças das 50 maiores empresas de capital aberto do país. 

Das dezenas de dados disponíveis, o Brasil Plural selecionou a relação entre os dois considerados mais importantes neste momento — a geração de caixa e a dívida. 
O resultado é o chamado índice de solvência, que mostra as companhias com menos dívidas para pagar e com mais capacidade de financiar o próprio crescimento. 

O grupo das mais bem posicionadas no ranking do Brasil Plural inclui companhias conhecidas pela forte geração de caixa, como a cervejaria Ambev, que gerou 18,7 bilhões em 2014, e a fabricante de cigarros Souza Cruz, com 2,3 bilhões. 
A lista também traz empresas com dívidas sob controle, como a siderúrgica Gerdau; e companhias com dinheiro em caixa para gastar, como o grupo de ensino Estácio e a locadora de veículos Localiza. 

Isso não quer dizer que essas companhias vão se dar bem em 2015 — apenas que elas estão posicionadas para aproveitar a desordem. Elas pouparam nos períodos de fartura para passar sem sustos pelos períodos de aperto. Mas, em alguns casos, outras questões internas jogam contra. 

É o caso da siderúrgica Usiminas, que tem dívidas sob controle, mas se vê às voltas com uma ferrenha disputa societária. Ou da fabricante de roupas Hering, que tem dívida zero, mas perdeu 2,5 pontos de margem operacional no ano passado. 

Na ponta de baixo, entre as empresas em mais dificuldade, estão companhias com pouca geração de caixa e dívidas nas alturas, como o frigorífico Marfrig e a siderúrgica CSN (que devem, respectivamente, 8,4 bilhões e 12,5 bilhões de reais — o equivalente a cinco, seis vezes seu resultado operacional). Mais uma vez, não é garantia de que 2015 será terrível, mas elas terão de lidar com desafios bem maiores.

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