quinta-feira, 19 de março de 2015

Precisa-se de Inseticida de Multi-Ação

Bellini Tavares de Lima Neto (*) 

Os dias seguintes aos da manifestação ocorrida em 15 de março último tem sido muito esclarecedores e educativos. Tentando deixar de lado as explosões emocionais, muito próprias de movimentos conduzidos por seres humanos, seria interessante refletir a respeito de alguns pontos que parecem estar passando em branco sem que se pense bem a respeito deles. 

Que o país está em pleno estado de agitação, nem um frade de pedra poderia negar. 
Seria muito pueril dizer que tudo está em ordem. Assim, tem soado quase infantis as tentativas oficiais de minimizar a voz das ruas e, dessa forma, só fazem piorar a situação como um todo. Quem se lembra de, quando criança, levar um tombo, ralar um joelho e ouvir um adulto dizendo “não foi nada”. Aquilo era pior que a dor do machucado. 
Ora, como “não foi nada”? A dor está aqui, eu estou sentindo e quando você me diz que não foi nada eu, além da dor, me sinto um idiota. Ao menos aqui em São Paulo, o movimento foi pacífico e, diferentemente do que foi anunciado pelas redes sociais previamente, a tônica maior não foi o “impeachment” da presidente nem o retorno dos militares ao poder. O que se viu foi uma gigantesca onda de protesto contra a corrupção, contra o PT e contra Dilma Roussef. Que a senhora Dilma se mostrou inábil e incompetente, é difícil contestar. Após um começo que parecia mostrar um descolamento das atitudes perversas que se assistiu ao longo de anos sob o comando do presidente anterior, a senhora Dilma mostrou a que veio, uma espécie de apocalipse local. Não é preciso discorrer sobre isso já que os fatos e a voz dos especialistas em economia estão correndo soltos para quem quiser ver e ouvir sem tampar os ouvidos com ideologias insustentáveis. 

No entanto, se a população realmente chegou a algum limite quanto à leniência com a corrupção, o cinismo, o descaso e a incompetência dos governantes, seria muito positivo se começasse a olhar isso tudo de maneira mais ampla e sem amarras ou atalhos impostos artificialmente. E a primeira pergunta que deveria ser feita e respondida é: “quem inventou essa presidente e com que propósito?”. O jornalista carioca do inicio do século XX que se autodenominava Marques de Itararé, cunhou uma frase merecedora de estar entronizada na mente de todos os cidadãos: “de onde menos se espera é que não vem coisa alguma, mesmo”. Ora, o que se poderia esperar de uma pessoa que, sem qualquer vivência em cargos de maior monta e sem nunca ter participado de um só processo eleitoral, é apresentada de forma debutante logo para o mais alto cargo do Poder Executivo? Dela não se poderia esperar nada e, como resultado, não veio nada, mesmo, exceto a confusão em que o país vem se afundando a olhos vistos. A população deveria, então, pensar nessa pergunta: “quem foi o responsável por impingir ao país uma criatura desse naipe?” E, com que propósito? Terá sido apenas e tão somente um culto ao próprio ego, aquela sensação inebriante de que “eu posso tudo”, “sou venerado” ou similares? Seja qual tenha sido o motivo ou motivos, eles deveriam ser questionados a quem é, sem sombra de dúvida, o responsável por essa verdadeira algazarra de recreio de escolares em que se transformou o Brasil. 

Mas não é só essa a pergunta. Em meio ao um vendaval de noticias a respeito da crítica situação econômica enfrentada pelo pais, a Câmara dos Deputados Federais se dedica a esgrimir com o Poder Executivo em nome de interesses claramente corporativos e, como se não fosse suficiente, vem de aprovar um orçamento que triplica as verbas para o chamado Fundo Partidário, dinheiro público dedicado a essa barafunda de partidos ditos políticos que se multiplicam com a finalidade de negociar vantagens em troca de apoio e tempo de propaganda eleitoral. Aproveitando, de maneira mesquinha, o momento de crise que envolve o Poder Executivo, o Congresso Nacional, inchado com a presença de um enorme contingente de parlamentares e seus respectivos séquitos, pressiona em troca de benesses, cargos, posições que lhes possam trazer benefícios. Governar o pais não faz parte das prioridades, assim como também não está na agenda do Poder Executivo. 

Sem dúvida, até já passou da hora de a sociedade começar a se movimentar e se contrapor a séculos de desmandos governamentais e políticos, mas seria extremamente interessante ou, melhor dizendo, imprescindível e vital, que não se focalizem os protestos apenas contra um objeto já que as causas de nossas mazelas são muitas. 

Mudar a mobília sem limpar a casa não vai satisfazer a necessidade de saneamento. 

(*) Advogado, avô e morador em São Bernardo do Campo (SP)

Um comentário:

  1. Um texto muito bem escrito .. Parabéns ao autor

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