segunda-feira, 16 de março de 2015

Palhaçada global

Globo faz circo para exibir volta da F1, e o palhaço é você 

Marcos Chavarria (*) 

Começo de temporada é como rever aquele amigo que não dá as caras há tempos. 
Os meses de férias nos acostumaram com os domingos sem corridas e geraram uma pequena ansiedade em torno desta nova temporada. São muitas novidades. 
Tem brasileiro novo. Tem um Massa reforçado por um final de 2014 sólido. 
Tem troca-troca de pilotos em grandes equipes. Tem ronco mais alto do motor. 
Pouco antes do começo da corrida, tinha a impressão que 2015 seria um grande ano para a F1. 

No entanto, o sentimento que ficou, domingo, ao desligar a TV às 4h para ir dormir, foi: “esta não é a F1″. Um grid patético de 15 carros. Uma equipe imbatível que apenas desfila rumo à bandeirada. Uma escuderia tradicional destroçada por um motor novo que não anda. Tudo isso com o molho azedo de uma transmissão da Globo que transformou os milhões de fãs brasileiros da categoria em palhaços do circo da F1. 

A chamada ‘Balada VIP do Galvão’ beirou o surreal. Além do narrador, os comentaristas Luciano Burti e Reginaldo Leme transmitiram a prova através de uma bancada montada em um estúdio, apoiados pelo repórter Marcelo Courrege, único da equipe a estar na Austrália. Em um sofazão na frente deles, um desfile de celebridades que absolutamente nada tinham a acrescentar, com a exceção da piloto Bia Figueiredo. 

No melhor (pior?) estilo ‘Encontro com Fátima Bernardes’, Galvão interrompia a corrida a todo momento para dar voz aos convidados, o ex-jogador de vôlei Giba, os atores Marcello Antony e Thiago Rodrigues (este tive que procurar no Google para saber quem era), além do ex-piloto Raul Boesel como DJ – daqueles que tocam bate estacas suaves para lounges, tipo aquelas músicas de casas de sushi da moda, sabem? Embaraçoso. 

Rolou até papo sobre MMA durante a prova. Ao saber que Rafael dos Anjos havia sido campeão do UFC, Galvão se empolgou ao exaltar o esporte como um celeiro de feras brasileiras, de como o País formava campeões, que o MMA é do Brasil, que o Brasil ama o UFC, etc. E o pior: isso tudo com a tela divida. Enquanto a corrida rolava solta, a Globo nos presenteava com metade da tela mostrando o blá-blá-blá. 

A cena se arrastava, com as opiniões de Giba e dos atores sobre o MMA e o Brasil-il-il-il, até que o visivelmente constrangido Reginaldo Leme, sem cerimônias, cortava o papo com algum comentário pertinente sobre a prova. Obrigado, Reginaldo. 

Ao que interessa, a corrida 
O conteúdo da moldura esculpida pela Globo também ajudou a montar o quadro da depressão. A prova, que poderia ter um grid de até 20 carros, caso a novela Marussia/Manor tivesse um final feliz, acabou contando com apenas 15 alinhados no grid. Bottas, companheiro de Massa na Williams, minutos antes da prova, foi vetado pelos médicos da FIA em virtude de dores nas costas. Até aquele momento, eram 17 competidores. 

Magnussen, que correria no lugar do também lesionado Alonso, viu o seu motor Honda estourar ainda no caminho até o grid. Talvez tenha sido melhor assim, já que Button, seu companheiro de McLaren, terminou na última posição dos 11 carros que completaram a prova. Refeita, a parceria dos sonhos da era Senna-Prost começou como o maior dos pesados para McLaren e Honda. Como o motor não estava pronto para trabalhar no calor de Melbourne, os engenheiros resolveram o problema retirando potência do propulsor. Simples assim. 

Por fim, a Red Bull de Kvyat, com problemas no câmbio, também não teve condições de alinhar. Foi o menor grid desde o GP dos EUA de 2005, quando uma queda de braço entre fornecedoras de pneus fez com que apenas seis carros largassem. 

Parecia corrida de kart de aluguel. Diante do inflado sistema de pontuação, que premia os primeiros 10 colocados, então, o absurdo era ainda mais evidente. Com as quebras e acidentes ao longo da prova, quase que Button, que virava tempos mais de 5s mais lentos que as Mercedes no começo da prova, conseguiu pontuar, mesmo terminando duas voltas atrás. 

Ainda teve a inexistência de duelos entre os carros da Mercedes. Hamilton correu apenas para o gasto. Quando Rosberg começava a crescer no seu retrovisor, tratava de fazer umas 3 ou 4 voltas mais rápidas que o companheiro e a diferença aumentava novamente. Em nenhum momento o alemão chegou a ameaçar a vitória do bicampeão. 

E a briga Massa-Vettel pelo terceiro lugar também foi fria, gelada. O estreante pela Ferrari conseguiu ganhar a posição durante a parada nos boxes. O brasileiro viu o pódio escapar ao parar mais cedo que o rival e voltar para pista com tráfego, perdendo tempo enquanto o tetracampeão andava rápido com pista limpa. 

Cercada de expectativa, a estreia de Max Verstappen foi positiva, mesmo com a quebra. Aos 17 anos, ele quebrou o recorde de piloto mais novo a disputar uma corrida de F1. 
O menino chegou a ocupar a 5ª posição, durante as paradas nos boxes. (No meme acima, em inglês: “Ainda é melhor do que um dia na escola”) 

Se há uma coisa para se orgulhar, é a ótima estreia de Nasr, pela Sauber. 
O brasileiro guiou com o carro na mão, sem cometer erros, e terminou a prova em um brilhante 5º lugar, na frente, inclusive, de Ricciardo, que corria empurrado pela torcida local e chegou a ensaiar a ultrapassagem em diversos momentos. 

A deprimente primeira corrida do ano termina com pelo menos esta notícia boa. 
Por favor, GP da Malásia, lave a alma dos fãs! 

(*) É jornalista e tem uma coluna no portal Terra.

Um comentário:

  1. Rede Insuportável Globo de Televisão e Galvão Idiota Bueno se merecem com louvor

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