quinta-feira, 19 de março de 2015

.... É só mais um motivo para o brasileiro sentir vergonha…

Dilma premia a irresponsabilidade e a corrupção dos dirigentes de clubes deste país. Parcela R$ 4 bilhões de dívidas públicas em 20 anos. Não merece aplauso. É só mais um motivo para o brasileiro sentir vergonha… 

Cosme Rímoli (*) 


Depois da maior manifestação desde que o Brasil vive a sua democracia, a presidente Dilma Rousseff está acossada. O principal mote do protesto em todo o país foi o pedido de renúncia de seu mandato. Algo que ela nem cogita. A situação segue mais do que complicada. 

De acordo com o Datafolha, a rejeição a Dilma é de 62%. A pesquisa divulgada hoje mostra que a desaprovação à presidente cresceu 18% desde fevereiro. Ela está a seis pontos de Fernando Collor de Mello, às vésperas do impeachment, quando atingiu 68%. 

O principal item de insatisfação da população está na economia. Com o país mergulhado na recessão, cresce assustadoramente a taxa de desemprego. O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, quer um corte radical nos gastos públicos. O sonho é diminuir em 40%. Suas primeiras medidas atingiu diretamente os benefícios trabalhistas. 
A camada mais pobre da população terá mais restrições em relação ao seguro desemprego e maior dificuldade na aposentadoria.

O dólar não para de subir, desvalorizando o real. Assim como a inflação.
Empresas poderosas como as automobilísticas estão diminuindo a produção. 
Mandando operários embora. A capacidade de geração de empregos diminuiu. 
O país vive uma crise real que o governo insiste em negar. Dilma está no terceiro mês do seu segundo mandato. Restam outros 45... 

Mesmo diante desse cenário caótico, preocupante, o governo federal não contém a insensatez. Tem o desplante, a falta de vergonha de apresentar a Medida Provisória de perdoará 4 bilhões de dívidas dos clubes com os cofres públicos. 
Vale a pena repetir: o perdão será de R$ 4 bilhões. 

Inúmeras empresas médias e pequenas são processadas e fechadas por dever INSS e impostos não recolhidos à Receita Federal e Fundo de Garantia de seus funcionários. 
Mas os clubes, não. Têm tratamento vip, especial. 


Será uma anistia de R$ 4 bilhões. R$ 1,5 bilhões só para os 12 maiores clubes. Privilegiadas, todas as equipes terão até 20 anos para pagar, em suaves prestações, suas dívidas. Algo que é negado aos trabalhadores e empresas deste país. 
A medida é absolutamente populista. Dilma e seus ensandecidos assessores esperam agradar os torcedores/eleitores destas equipes. E melhorar a imagem do governo na população. 

Acontece que os torcedores conscientes sabem que esta dívida só existe pela pura irresponsabilidade dos dirigentes. Presidente de clube no Brasil não tem a menor fiscalização. Gasta no que quiser. Como nas ditaduras mais atrasadas, essas pessoas não cansam de repetir que o 'regime é presidencialista'. E usam essa desculpa para cometer barbaridades com dinheiro que não lhes pertence. Muitos além de incompetentes, irresponsáveis vários foram corruptos. As dívidas absurdas dos clubes não nasceram por acaso. 

Esta anistia populista é mais um tapa na cara do trabalhador honesto deste país. 
A MP foi criada pela bancada da bola em Brasília. Deputados e senadores que brigam para ajudar os clubes deste país. A recompensa vem em forma de apoio popular e auxílio nas campanhas. Uma mão lava a outra. 

Há anos os dirigentes tentam a anistia de parte de suas dívidas. Querem ser tratados de maneira especial, já que o futebol é o esporte de preferência nacional. 
O que desvia a atenção em momentos de tensão governamental. 
Como na Ditadura Militar que torturava e matava enquanto o país comemorava a conquista da Copa do Mundo de 1970. 

No governo há a certeza: se o Brasil tivesse vencido o Mundial de 2014, a pressão sobre Dilma seria muito menor. Mas como perdeu, a saída é tentar agora agradar com essa Medida Provisória. 

Existe uma pífia desculpa governamental, para a aprovação deste prêmio à incompetência e corrupção. Obrigar a CBF que os clubes percam pontos se não pagarem seus atletas. 
E que até sejam rebaixados se insistirem no calote com os jogadores e com o governo, não pagando o parcelamento da dívida com os cofres públicos. Como se fosse um favor punir os endividados caloteiros. Deverá ser criada uma Agência Reguladora para fiscalizar os pagamentos. Tanto aos atletas como para os jogadores. 

Para variar, os presidentes dos clubes e da CBF querem sempre mais. Não há limites. 
Eles não estão pressionando, via bancada da bola, para que pagar a dívida seja o máximo de contrapartida.

Não querem, como Dilma Rousseff mesmo declarou, a limitação de seus mandatos.
Nada de quatro anos, prorrogáveis por mais quatro. O que deve imperar é o estatuto de cada time. 

A CBF se prepara até legalmente para se defender, se necessário. A Fifa pune os países onde os governos interferem na administração do futebol. Pode, em caso extremo, até desfiliar o país e impedir que dispute torneio oficiais, como Copa América, Eliminatórias e Copa do Mundo. Marin e Marco Polo não aceitam a intervenção governamental na CBF. Embora desfrute das benesses públicas, a entidade é privada. Os dois não querem limite para a reeleição. 

E quem é o relator do projeto que dá esta anistia absurda aos clubes? 
O deputado Vicente Cândido do PT. E de quem ele é sócio em um escritório de advocacia em São Paulo? Do presidente eleito da CBF, Marco Polo del Nero. 

É óbvio que Cândido está lutando para que a vontade de Marco Polo seja respeitada e a reeleição na CBF seja liberada até a a eternidade. Assim como nos clubes. 
Os dirigentes não querem se submeter a esses oito anos que pede Dilma. 

Todos os clubes anistiados também deveriam ter a obrigação de investir nas categorias de base e no futebol feminino. Gastar com os meninos, tudo bem. Mas houve um motim. Nenhuma equipe quer colocar dinheiro no futebol das mulheres. A alegação é que o brasileiro rejeita a participação feminina no esporte. Seria jogar dinheiro fora. 
Há enorme chance de que consigam vetar mulheres nos seus gramados. 

O governo federal vazou para a imprensa que cobre Brasília. A presidente Dilma deverá assinar a Medida Provisória amanhã. Com toda a pompa e circunstância. 
Ela quer dar o tom de severidade. Mostrar que os clubes deverão passar a ter obrigações. Mas para isso toma uma medida populista, brinca com R$ 4 bilhões de dinheiro público. Empurra a dívida para o presidente que estiver no poder daqui 20 anos. 

Muita gente deve comemorar amanhã. Principalmente os representantes do Bom Senso. Os jogadores brasileiros realmente terão um avanço. Haverá punição para aqueles dirigentes que os tentarem enganar. Nada mais justo. Só que para isso, os cofres públicos não precisavam ser sangrados. 

A presidente que exercesse sua autoridade e punisse os clubes que dessem calotes e os cobrasse de suas dívidas públicas. Como faz com toda a população. Com empresas que fecham as portas, falidas, todos os dias. Não precisaria envolver R$ 4 bilhões. 
Os clubes que não tivessem como se sustentar, que fechassem as portas, como acontece em todo mundo civilizado. 

Mas no Brasil o futebol é usado como escudo do governo. Serve para desviar a atenção do que acontece no país. Pelo menos servia. As pessoas estão deixando de ser alienadas como na década de 70, quando opositores do governo foram sequestrados, assassinados.
A Ditadura Militar não trava mais os veículos de comunicação. É possível divulgar o que está acontecendo e o porquê. 

A revolta da população ficou clara domingo passado. Não há mais tolerância com a corrupção. Não serão medidas populistas como anistiar R$ 4 bilhões de dívidas dos clubes que melhorá a situação. Pelo contrário. Só piorará. Acabou a ilusão. Os R$ 88 bilhões desviados da Petrobrás ninguém esquece. Assim como a falta d'água, os descasos com a Segurança, com a Saúde, com a Educação. E tantas outras mazelas. 

Privilegiar dirigentes irresponsáveis, corruptos que comandam clubes de futebol não merece aplauso. Pelo contrário. É mais um motivo de vergonha dos políticos deste país. De todos os partidos. Todos estão envolvidos em mais este triste episódio envolvendo futebol e descaso com o dinheiro público...  

(*) Jornalista é comentarista esportivo da Record News

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