quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Os 7 pecados capitais do Palmeiras

Os sete pecados capitais do Palmeiras. Capazes de transformar a euforia com o novo estádio em angústia, desilusão. E até piedade do Sport. O coro de ‘time sem vergonha’ não foi por acaso… 

Cosme Rímoli (*) 

"Vergonha, time sem-vergonha. Vergonha, time sem-vergonha." 
Foi assim, com esse coro que misturava raiva e angústia, que grande parte das 35.939 se despediu do novo estádio do Palmeiras. 
A limitada equipe que Dorival Júnior tem nas mãos conseguiu uma façanha. 
Estragou a festa de inauguração perdendo para o Sport Recife por 2 a 0. 
Caprichou no vexame. Foi a terceira derrota consecutiva. 
Veio depois de fracassos contra o Atlético Mineiro no Pacaembu e São Paulo no Morumbi. 

A diretoria conseguiu o dinheiro que queria. 
Foram exatos R$ 4.915.835,00. 
Mas o sentimento que o time despertou depois da derrota foi de tristeza. 
E piedade. 
Até os jogadores do Sport pediam que os torcedores não vaiassem e xingassem os palmeirenses como fizeram ontem. 
"Restam três partidas. A equipe precisa de seis pontos para não cair. 
A hora é de apoiar e esquecer as vaias, as críticas. E dar força", pedia Diego Souza. 

"Eu estou feliz demais por ter marcado o primeiro gol nesta nova arena. Mas fiquei chateado com o que a torcida do Palmeiras fez com o time. Nesta hora difícil tem de ajudar. Tomara que eles escapem do rebaixamento", deixou escapar Ananias. 

Mas o que levou o Palmeiras a passar por um dos maiores vexames da sua história? 
Voltar a jogar em seu novo estádio e belíssimo estádio de R$ 660 milhões. 
Isso depois de quatro longos anos. E no retorno, derrota para o Sport Recife que ameaça o clube de rebaixamento para a Segunda Divisão. 

Aqui os sete pecados capitais que transformaram o orgulho do palmeirense por ter um dos mais bonitos estádios do país. A euforia virou raiva, angústia, vergonha. 


01º) Medo de Dizer Não a Valdivia. 
Paulo Nobre precisaria ter agido como presidente e não como um deslumbrado torcedor. Deveria ter cortado a história do seu retorno à Seleção Chilena na raiz. 
Não era segredo para ninguém no Palestra Itália que o treinador Jorge Sampaoli estava conversando com o meia. Queria que reconsiderasse sua aposentadoria do selecionado. 
E pediu que atuasse contra a Venezuela e Uruguai. 

Valdivia aceitou imediatamente. Disse que havia anunciado o adeus da seleção do Chile pensando que iria atuar no futebol árabe. Mas a negociação fracassou. 
A hora de Paulo Nobre exercer o cargo era aquela. 
Ele sabia que o Palmeiras ainda seguia ameaçado pelo rebaixamento. 
E ainda havia a inauguração da nova arena. Apesar de ser data Fifa, os chilenos iriam fazer dois amistosos. Nobre tinha a obrigação de pedir, criar um caso internacional até, mas não deveria ter liberado o principal jogador do time. 

"Sem ele, nós somos outra equipe", admitia, desanimado, Dorival, depois da derrota por 2 a 0 para o Sport. O bilionário Paulo Nobre tinha dito até que um jato estaria à disposição do meia para ele estar na inauguração da arena. 
Mas é incrível que o dirigente pague R$ 120 mil mensais para José Carlos Brunoro.
Seu homem de confiança no futebol não o avisou que futebol é um esporte de contato. Valdivia tem uma história de contusões maior do que as que tiveram Pato e Renato Augusto juntos. 

Ele sofreu uma lesão no abdômen contra a Venezuela. 
Não enfrentou o Uruguai. E ontem estava pateticamente em um camarote assistindo a derrota do Palmeiras contra os pernambucanos. 
Graças à convocação, ele não enfrentou o São Paulo. 
E há grandes chances de não atuar diante do Coritiba, jogo de vida e morte. 
Paulo Nobre e Brunoro foram tudo menos dirigente nesta situação. 

"Ele está arrasado. Queria muito jogar contra o Sport", avisava Paulo Nobre, como se fosse assessor de imprensa do meia. E não o homem que deveria ter feito tudo para segurá-lo no Palmeiras. Se não tivesse jogado pelo Chile, não estaria contundido. 

2º) O Clima de Euforia Com a Nova Arena. 
As bobagens já começaram com a Adidas errando português na camisa comemorativa de estreia do estádio. A assessoria da empresa que comprou o nome do estádio, divulgou que o adversário de ontem seria o Atlético Mineiro. Esse era o espírito. 
Não importava contra quem, a festa seria palmeirense. 

Os torcedores se encantaram com a beleza da nova arena. E com todo o clima de festa. 
As mensagens dos ex-jogadores, que formaram Palmeiras fantásticos. 
Como Leão e Ademir da Guia. O hino do clube foi tocado apenas com guitarra. 
A certeza de que o time venceria com facilidade o Sport foi um tiro no pé. 

Quando a bola começou a rolar foi desesperador. Os torcedores queriam vibrar, exigiam a vitória. Só que faltou um detalhe importante. 
O Sport Recife é melhor do que o Palmeiras. Tocou a bola, deixou a euforia paulista passar e ganhou o jogo como quis. As vaias e palavrões dos torcedores foram o meio de protestarem. Acreditaram que saíram de casa para ver uma goleada do time do coração. Vivenciaram toda a angústia de uma derrota perigosa demais no campeonato. 

3º)O Aviso que Haverá Várias Dispensas Depois do Brasileiro. 
Na luta pela reeleição, Paulo Nobre não teve o menor senso. 
Afirmou que mandará vários jogadores embora. 
Com o dinheiro da saída deles, contratará três bons reforços para o time. 
Essa seria uma tentativa de corrigir o estranho inchaço do elenco. 
Brunoro contratou 36 atletas em um ano e meio. 
E o Palmeiras tem um dos piores times não só do Brasileiro, como de sua história. 

Além de ruim tecnicamente, o grupo palmeirense é muito inseguro. 
As palavras de Paulo Nobre refletiram. 
Não só os reservas estão se sentindo ameaçados. Vários titulares também não sabem o que serão de suas vidas ao final do Brasileiro. 
Sabiam que todos os holofotes estariam voltados para eles ontem, na estreia da arena.
E travaram com o nervosismo e a falta de talento, marca registrada desse Palmeiras. 

4º) A Ganância Financeira e Eleitoral de Inaugurar a Arena. 
"Não. Não era mesmo o momento de inaugurar o novo estádio. 
Com o Palmeiras ameaçado do rebaixamento e tendo um adversário difícil, o Sport", admitia o jogador do Sport, Diego Souza. O clube já havia perdido a chance de estrear o novo estádio no dia em que completava 100 anos, no dia 26 de agosto. 
Por causa da briga entre Walter Torre e Paulo Nobre pelas cadeiras do estádio, a construtora não teve a pressa necessária. E o Palmeiras comemorou 100 anos fora de sua arena. 

Mas há a eleição dia 29 de novembro. A primeira direta, feita pelos sócios no clube. 
Para Paulo Nobre, era algo essencial o estádio ser reinaugurado antes da eleição. 
O clube ganharia o dinheiro da arrecadação. E o presidente entusiasmaria os sócios indecisos, que não sabem em quem votar, cerca de 29%. Por isso tudo foi acelerado. 
Não há lógica alguma reestrear para apenas dois jogos. O de ontem e contra o Atlético Paranaense, na última rodada. Depois, férias. Não há cabimento. 

5º) Dorival Júnior. 
O treinador estava muito pressionado. 
Sem Valdivia, ele tinha pela frente um adversário com melhores valores individuais do que o Palmeiras. Além disso, menosprezou o trabalho de Eduardo Baptista, filho do também técnico Nelsinho Baptista. 

O técnico sabia o quanto a diretoria precisava da vitória. E mesmo sem Valdivia montou um esquema aberto. Correu todo o risco. Tomou um nó tático histórico. 
Com duas linhas de quatro, jogando agrupadas, o Sport não deu chance para o dono da festa. Seria necessário um jogador talentoso como Valdivia para destruir esse esquema tático fechado. 

Dorival teria de ser precavido. Não se deixar levar pela euforia da torcida, dos dirigentes com o novo estádio. Pagou o preço. Ousadia virou irresponsabilidade. 
O time frouxo que mal conseguia chegar na intermediária do Sport foi o retrato que ficará grudado na retina dos torcedores. 

Não é por acaso que, mesmo com contrato até o final do Paulista de 2015, Dorival corre risco de não continuar. Abel Braga, Cuca e há até quem já defenda a contratação de Mano Menezes no Palmeiras. 

6º) Diego Souza e Ananias Livres. 
Os dois ex-jogadores atuaram livres. 
O meia pôde armar, segurar a bola, diminuir o ímpeto que o Palmeiras desejava impor na partida. Não foi incomodado em campo. Os volantes palmeirenses davam espaço. 
O tratavam quase com idolatria. Só faltou pegar autógrafo. 
O que deveriam ter feito após a brilhante partida. 
Dorival Júnior tem total participação nesse absurdo. 

Ananias entrou no segundo tempo. Para ser a óbvia opção de desafogo do time pernambucano. O velocista na frente. Ele já até jogou no Palmeiras. 
Todos sabiam o que ele poderia ter fazer em campo. Mas teve marcação de irmão mais novo. Como se fosse pecado mortal, o derrubar. Com todo espaço e livre, entrou para a história da arena. Marcou o primeiro gol do novo estádio. 
Um minuto depois de ter entrado em campo. 
Em seguida, Diego Souza lançaria Patrick para marcar 2 a 0. 

7º) Wesley. 
Desde que foi divulgada a sondagem do São Paulo, o jogador não consegue mais ter uma atuação aceitável. Ele está nervoso, inseguro, irritadiço. 
É um peso morto para o fraco time palmeirense. Os torcedores não o perdoam. 
Têm a certeza que ele irá embora em 2015. E o xingam a plenos pulmões, como ontem. 
O resultado é um futebol péssimo. 

A tensão envolvendo o jogador contagia o grupo. Dorival outra vez deveria agir. 
Mas fica esperando a reação do volante, que não vem. 
Pelo contrário. 
Os torcedores não perdoam. Vaiar e xingar Wesley virou a diversão predileta de vários torcedores. Seria o menos indicado para estar em campo ontem. 
Em péssima fase, ele deveria ser afastado do time. 
Mas Dorival faz exatamente o contrário. 

Com tantos pecados, o Palmeiras não poderia mesmo festejar. 
Pelo contrário. A reinauguração do seu estádio virou medo de novo rebaixamento. 
Motivo de piedade do Sport Recife. Os limitados jogadores de Dorival Júnior estavam animados quando posaram para a foto antes do jogo. 
Acreditavam que entrariam para a história do clube. Acertaram. 
Com direito ao coro inesquecível na nova arena. 

"Vergonha, time sem vergonha. Vergonha, time sem vergonha..." 

(*) Jornalista esportivo é comentarista da Record News

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