Gilberto Dimenstein (*)
O escândalo da minissaia de Geisy Arruda é apenas um detalhe de um fenômeno muito maior: a entrada dos mais pobres no ensino superior brasileiro. Em breve --e breve significa mais três ou quatro anos-- as classes C, D e E serão maioria nas universidades.
Uma consultoria especializada em ensino superior (Hoper) informa que, de 2004 até 2008, o número de alunos da classe C cresceu 84%, e da classe D, 52%. Isso significa um batalhão de quase 680 mil pessoas.
São brasileiros com mais expectativas profissionais, já que, ao entrarem na faculdade, imaginam-se com mais chance de um bom emprego. É gente que, em geral, tende a tornar-se mais crítica e ciosa de seus direitos --vejam como Geisy Arruda defendeu seus direitos.
É também gente, que, em geral, tem mais garra. Não é fácil sobreviver ao ensino médio público, trabalhar à noite e estudar de dia.
Aposto que está aí o nascimento, aos poucos, de uma nova elite brasileira.
Sem perder o olhar crítico e a demanda por mais qualidade de ensino, os acadêmicos deveriam olhar com menos preconceitos para o ensino superior privado.
Assim como é melhor um jovem concluir o ensino médio público, por pior que seja, é melhor ter quatro anos de uma escola privada no ensino superior.
Baseado na suspeita de que esse público tende a demandar mais cultura, fiz a experiência de levar a faculdades privadas a experiência do site Catraca Livre (www.catracalivre.com.br), para treinar os estudantes sobre como aproveitar a programação cultura gratuita da cidade de São Paulo.
Rapidamente, uma parcela dos estudantes, segundo depoimentos de diretores das faculdades, começou a frequentar os eventos, até concertos de música erudita e ópera.
(*) É membro do Conselho Editorial da Folha de São Paulo e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz.

Nenhum comentário:
Postar um comentário