Mesmo com avanço menor, China deve ampliar investimentos no Brasil
Terra
O presidente da China, Hu Jintao, declarou no começo de dezembro que as importações chinesas serão ampliadas nos próximos cinco anos, podendo chegar a mais de oito trilhões de yuans – ou R$ 2,3 trilhões. Para este ano, o chefe chinês da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, Zhang Ping, anunciou que serão mantidos os investimentos “em níveis adequados”, apesar da desaceleração global puxada pelos países desenvolvidos prevista para os próximos seis meses pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, diz que não há como pensar em prosperidade quando mais da metade do PIB mundial está estagnado, devido à crise econômica mundial. Ele revela que, por conta da turbulência nos mercados, a China terá sua taxa de crescimento diminuída este ano. “Quando se fala em redução, porém, significa dizer que a previsão é que o país deixará de crescer 10% até dezembro para crescer 8,5%. Não é um cenário tão sombrio e graças a isso o Brasil vai poder continuar com suas exportações para a Ásia sem muito abalo”, garante.
Andrea Ribeiro, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro, fala que foi graças à China que muitos países, entre eles o Brasil, não se afetaram seriamente com a crise de 2008. Ela diz que a tendência é que a situação se repita este ano. “Os chineses são os maiores compradores de commodities do mundo e o papel da China na economia mundial é muito importante”, avalia.
O ritmo econômico do gigante vermelho não será drasticamente diminuído porque, conforme Tang, o governo está reorientando a economia, visando estimular o consumo interno. “Os chineses têm US$ 2,3 trilhões em reservas, o que significa bastante munição para criar pacotes de estímulos, caso haja essa necessidade”, fala.
Previsões
Andrea afirma que, por mais que a previsão da economia na China seja promissora, o país não tem condições de evitar um possível agravamento da crise mundial ao longo deste ano. Ela explica que, na verdade, o governo chinês provoca um efeito inverso nos Estados Unidos e na União Europeia. “A China inflaciona o preço das commodities e deflaciona o preço dos manufaturados. Isso é ruim para eles, considerando-se que norte-americanos e europeus compram commodities e vendem manufaturados”, aponta.
Ainda com relação a esses países, a professora diz que, dez anos depois de ingressar na Organização Mundial do Comércio (OMC), é grande a possibilidade de a China ser reconhecida como economia de mercado. De acordo com Andrea, o país está negociando esse status por meio de empréstimos e vem se apresentando sucessivamente como credora, inclusive para a Grécia. “Em política e economia nada é certo, mas esta é uma possibilidade que, hoje, é maior do que era no passado. E isso só é possível por conta desse poder de barganha”, explica.
Tang também considera difícil a possibilidade de a China evitar o declínio da economia mundial, mas afirma que parceiros comerciais como o Brasil serão beneficiados, apesar da instabilidade econômica no mundo. “Para 2012, a previsão é que a China realize investimentos maciços no Brasil”, revela. Ele comenta que há oito projetos de instalação de montadoras chinesas no país, aguardando definição a respeito do aumento de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para iniciar suas instalações. “Isso representa dezenas de milhares de empregos, bilhões de reais em investimentos e, claro, geração de renda para o Brasil”, salienta.
O presidente da Câmara de Comércio Brasil-China ressalta que há também empresários do setor de petróleo e gás com intenção de implantar fábricas no país, além de empresas de serviços e equipamentos. “E isso é só o começo”, garante.
Marcelo Lico, sócio-diretor da Macro Auditoria e Consultoria, em São Paulo, diz que a empresa possui inúmeros contatos com a China e recentemente ele viajou até lá para alinhar novas negociações. “Com a queda na demanda na Europa, os chineses estão buscando mercados e o Brasil é a ‘bola da vez’. Já somos grandes parceiros e a tendência é estreitar ainda mais as relações entre os países”, fala.
Tang salienta, entretanto, que para que isso seja possível, o governo brasileiro não pode “rejeitar” capital estrangeiro. “O Brasil perdeu bilhões e bilhões de dólares em investimentos, não apenas chineses, mas também de outros lugares. Os vizinhos da América do Sul e alguns países africanos agradecem a bondade brasileira em rejeitar riqueza”, conta Tang. Como exemplo, ele cita a proibição da compra de terras brasileiras por estrangeiros, cujo resultado foi o de investimentos na área da agroindústria destinados para outros países.
“Às vezes o brasileiro tem um nacionalismo tão equivocado que vira, em alguns casos, antinacionalista”, fala Tang. Ele acredita que todo capital que entra no país é benéfico porque além de criar empregos, gera riqueza para o Brasil. “Maciços investimentos chineses no Brasil podem diminuir a queda econômica do país”, avalia.
Tang garante que dinheiro estrangeiro é bom para a economia de um país, e cita como exemplo seu próprio país. Ele fala que há 30 anos a China era um país pobre que beirava à miséria e que os investimentos estrangeiros propiciaram um salto econômico. “Hoje, a China já é a segunda maior potência mundial. Os chineses vivenciaram em 30 anos o que para a Inglaterra demorou 250 anos, com a Revolução Industrial. O Brasil tem que aprender com eles”, finaliza.
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