O pior lamaçal de Nova Friburgo não é climático
Anselmo Cordeiro (*)
Dilma manda 30 milhóes de Reais para atender às várias cidades da região serrana que foram arrasadas pela tragédia climática de 11/12 de janeiro último, uma miséria de dinheiro que qualquer morador daqui pode ver que não dá para atender nem à metade de Nova Friburgo, a cidade mais afetada, a qual, ainda assim, coube, desses 30 milhões, apenas 10 milhões.
Na tramitação de documentos comprobatórios das despesas, a Prefeitura protela o envio da prestação de contas. Nove pedidos feitos pelo Ministério Publico Federal, e nove recusas. O jeito foi a Promotoria Federal, embasada em determinação judicial, ir pessoalmente à Prefeitura, para pegar os documentos, acompanhada de agentes da PF.
Irregularidades já começam a aparecer: numa destas, segundo informado pela imprensa televisiva, há um contrato pronto, elaborado no escritório de uma das empreiteiras, quando o correto era ter sido feito na Prefeitura. Por aí, já dá para pressentir o que vem por aí.
O prefeito, com cara de vítima, acompanhado dos seus auxiliares, convoca a imprensa para entrevista coletiva, mete-se num discurso jactancioso, mas não fala um til das causas dessa intervenção feita pelo Ministério Público Federal, do porquê das recusas em entregar documentos. Começa dizendo "Nunca passei por isso...". Sofre de memória curta, porque as graves irregularidades acontecidas recentemente na Casa de Passagem, entidade municipal de assistência a menors abandonados, levou o Ministério Público a também intervir, e cujo resultado da intervenção determinou, dentre outras providências, a transferência daquele órgão para outra localidade. O estado de tensão e preocupação estampado nas caras dos seus auxiliares que estão ali, ao seu lado, durante a coletiva, não combinam com a fleumática arenga do discursador. Por pouco, não foi afastado do cargo (o juiz não atendeu à solicitação da Promotoria nesse sentido, mas deu prazo de 15 dias ao prefeito para apresentar defesa).
Enquanto essa trapalhada não é resolvida, o povo vai se virando como pode. Não havendo dinheiro para o pagamento do aluguel social, muitos estão saindo dos abrigos públicos e voltando para as suas casas, que, condenadas pelos engenheiros da geotécnica, estão sem água e energia elétrica. Se cair chuva de mediana intensidade, é fácil prever novas desgraças. Vias com metade despencada para dentro de precipícios, dando passagem a um veículo por vez, permanecem ameaçando a vida dos que precisam passar por ali. As refeições oferecidas no restaurante comunitário, que atende aos funcionários da prefeitura e população carente, e que poderiam atenuar tanto sofrimento, consistem numa gororoba intragável, cujo item de resistência, oscilando entre dobradinha e salsicha, só é consumida porque não há mesmo alternativa menos aviltante. E por aí, de descalabro em descalabro, a administração troncha segue.
Vídeo da entrevista coletiva:
http://www.youtube.com/watch?v=SkLk5_E7zZk&feature=player_embedded
No país das impunidades, é assim: nem os recursos para atender a desabrigados são perdoados. É levado pelo lamaçal que grassa nas cabeças de desleixados e inconseqüentes, senão de criminosos.
(*) Responsável pelo blog Net 7 Mares ( net7mares@gmail.com )
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